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A possível, mas difícil “clareira”

18 mai

A ocultação do saber esconde também uma ocultação do saber, sem algum tipo de clarividência o acesso ao conhecimento torna-se preso a esquemas mentais, lógicos ou ideo-lógicos que por sua vez estão presos ao pensamento contemporâneo.

A maneira como Heidegger enxergou a clareira, foi de difícil a avaliação até mesmo para seus alunos mais próximos como Hanna Arendt e Husserl, só para citar grandes nomes, porém na sua escola de pensamento muitos ainda permanecem presos ao idealismo.

O problema central do idealismo, para Heidegger, é que mediante as categorias a priori do entendimento, determina-se todas as propriedades dos objetos (como se fosse só “lógico” o conhecer) e assim os seres não podem manifestar são essência pura do que são, fora do “lógico”.

Assim entre o ocultismo fundamentalista, claramente problemático, e o pensamento “científico” ocidental, como dito por Heidegger “se estabeleceu como única medida da habitação do homem no mundo”, dito em seu texto O fim da filosofia e a tarefa do pensamento.

Em seu texto A doutrina da verdade em Platão, ele começa traduzindo Eidos (a Ideia como foi má traduzida) como aspecto, que não é um ente em sua mera aparência, como é percebida de forma imediata pelos sentidos, antes de se mostrar o ente aparece e pode ser captado pelo intelecto (Heidegger, 2007, p. 3).

A outra questão apontada por Heidegger é sobre a tradução explícita de “alethéia” por desvelamento e que não pode ser identificada com “verdade”, “a questão do desvelamento como tal, não é a questão da verdade … não devemos traduzir alethéia pela palavra corrente verdade” (Heidegger, 1972, p. 36), e assim “também não é sustentável a afirmativa de uma transformação essencial da verdade, isto é, a passagem [de Platão] do desvelamento para retitude” (Heidegger, 1972).

O que isto implica não é claramente obvio, mas é a própria clareira (no meio da floresta), ou seja, claridade, só é possível em um espaço de abertura prévia, algo que aparece, uma “presentação”.

Dito explicitamente pelo próprio Heidegger: “O raio de luz não produz primeiramente a clareira, a abertura, apenas percorre-a. [Ele] só pode brilhar se a abertura já é garantida”, assim é um evento no tempo, e talvez quiçá este tempo de ocultamento da Pandemia anteceda a uma “clareira”.

Será preciso “Mudar de via” afirma Edgar Morin em seu último livro, a humanidade mudará ?

 

Heidegger, M.  O fim da filosofia e a tarefa do pensamento. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1972.

________. La doctrina de Platón acerca de la verdad. Eikasia, Revista de Filosofía, v. 12, extraor- dinario I, 2007.

 

 

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