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Metáfora-enunciado e outras figuras de linguagem

10 jun

Paul Ricoeur faz uma profunda análise do que ele chama de “Rhétorique generale” como aquela que reserva apenas aos metalogismos aquela que incorpora os discursos, existe para além dela os metasememas, que é um tipo de figura de linguagem que modifica o significado de uma palavra.

Só para dar um exemplo dentro da filosofia de metasemema, a palavra eidos da cultura grega traduzida como ideia, tornou-se na modernidade outra coisa que era para os gregos.

A importância dessa metáfora-enunciado é dita pelo próprio Ricoeur: “a mais apta para mostrar o parentesco profundo, no plano dos enunciados, entre metáfora, alegoria, parábola e fábula e, por essa mesma razão, permite abrir, para todo este conjunto de figuras – metasememas e metalogismos” (Ricoeur, 205, p. 265), enquanto uma boa parte dos discursos (Ricoeur cita Retórique Generale) se reservam apenas aos metalogismos.

O metalogismos são as lógicas que estão além das figuras de linguagens por exemplo uma alegoria, assim Ricoeur cria para a primeira o conceito de um tropo, onde apenas muda o sentido das palavras enquanto a segunda entra em conflito com a própria realidade.

Usa para isto a figura do “barco ébrio” de Rimbaud, que usou a expressão “o barco ébrio juntou-se ao grande veleiro solitário” (p. 264), que “são alegorias de Malraux e de Gaulle, pois estes não são nem barcos nem veleiros”, explica Ricoeur: “a tensão não está na proposição, mas no contexto”.

O impacto desta análise, como aponta o próprio Ricoeur é que o “desvio” realizado da palavra pelo metassemema, o enunciado metafórico “restabelece o sentido” (p. 265).

Este impacto semântico “que concerne ao enunciado inteiro, então é necessário denominar metáfora o enunciado inteiro com seu novo sentido, e não somente o desvio paradigmático que focaliza sobre um apalavra a mutação de sentido de todo o enunciado” (p. 265), eis a explicação mais clara de sua metáfora-enunciado.

A longa análise feita por Ricoeur, por autores conhecidos como os clássicos (Aristóteles e Platão), Kant, Hegel e Heidegger, e razoavelmente conhecidos como J. Dubois, F. Edeline, e outros pouco conhecidos como Le Guern e Jean Cohen, torna sua obra complexa, mas muito importante.

O grande mérito e a importância da análise profunda e hermenêutica da metáfora como centro da questão sobre as narrativas atuais, que envolvem o uso linguístico de diversas figuras de linguagens como alegorias, parábolas e metonímias, faz um quadro na página 275, ilustrado acima, e para além deste discurso estabelecer uma meta alta como aquela que penetra o “inefável”.

RICOEUR, P. Metáfora Viva. São Paulo, trad. Dion Davi Macedo. 2ª ed, Ed. Loyola. 2005

 

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