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Empatia e a convivência social

12 jan

Embora em algumas áreas como a administração e a saúde já existam trabalhos sobre a empatia como melhoria do relacionamento social, está longe de ficar claro que não se trata de uma atitude apenas de simpatia, contágio emocional ou um relacionamento carinhoso (Pedersen, 2010), não se trata, portanto, de uma “tática” de construir relacionamentos.

Já delineamos o raciocínio que vai do pensamento até o caráter (a frase de Meryl Streep no filme “A dama de ferro”) e deve ser, portanto, um exercício de caráter ético.

O conceito de frônese (phronesis) traduzido como “sabedoria prática” ou “prudência” é desenvolvido em Aristóteles, no livro VI da “Ética a Nicomaco”, será que esta compreensão do ser empático e sábio em Aristóteles está correta ? E se assim o for isto significa ser sábio em questões práticas significa entender melhor o fenômeno da empatia?

Junto com a fronese na Ética a Nicômaco estão outras virtudes com a aretê (a excelência ou virtude suprema) e Aristóteles vai associar a cinco formas diferentes quando se trata de atividades humanas, poderíamos dizer sociais: a episteme (conhecimento científico organizado), a techne (conhecimento técnico), a frônese (sabedoria prática) e a sophia (conhecimento filosófico) e nous (“sacadas” intelectuais), claro todos estes conceitos devem ser contextualizados no mundo contemporâneo.

A sabedoria prática como Aristóteles a caracteriza é uma espécie de conhecimento de como agir em situações práticas (lembrem-se as palavras se tornam ações e as ações se tornam hábitos e vão definindo um caráter), mas ele também fala de perícia técnica, caso em que o objetivo da atividade deve ter de antemão algum conhecimento para realizá-lo, a ideia que basta a intuição ou a inspiração (nous) sem conhecimento técnico é inútil.

A empatia é desta forma um tipo de discernimento, uma maneira de ver o que está acontecendo no mundo a nossa volta com os outros seres humanos, neste sentido é preciso uma sabedoria (sophia) e atentar para diversos intérpretes que estejam de forma mais profunda tematizando-se, talvez a palavra filosofia esteja desgastada, então apenas sophia.

A filosofia contemporânea Martha Nussbaum mostrou como a noção aristotélica de sabedoria repousa na compreensão das emoções como contendo conhecimento sobre o mundo que compartilhamos com outras pessoas, e frônese não é desprovida de sentimento, ao contrário ela ajuda o “sábio” e entender e julgar a pessoa em dada situação.

Por causa do contexto ético, somos levados a colocar empatia no contexto da filosofia moral aristotélica, o que é um erro, como frônese é mais adequado, entretanto pode acontecer outro equívoco de considerar apenas como virtude “intelectual” e desconsiderar aspectos subjetivos (espirituais inclusive) que a empatia deve ser colocada.

A empatia é então um componente de “sentimento” relacionada a frônese, entretanto é fato que alguns filósofos negam que empatia seja essencialmente um sentimento (Coplan, Goldie, 2011), relembramos novamente que pensamento se tornam palavras, estas ações e depois hábitos e quando inseridos no caráter já fazem parte dos “sentimentos”.

Resolvemos esta querela, não é tão simples é verdade, entendendo que enquanto não são hábitos necessitam de exercício e depois inseridas no caráter, são sentimentos ou subjetividades (próprias do sujeito), porém fica claro que ela não é uma atitude natural, embora a empatia o seja, é preciso “treino”.

Assim detectamos em Aristóteles uma lacuna entre a sabedoria prática e a sophia, diríamos uma saudável espiritualidade ou uma capacidade de interiorização.

Referências:

Coplan, A., and P. Goldie. 2011. Introduction. In Empathy: Philosophical and psychological perspectives, ed. A. Coplan, and P. Goldie. Oxford: Oxford University Press.

Pedersen, R. 2010. Empathy in medicine: A philosophical hermeneutic reflection. Oslo: University of Oslo, Faculty of Medicine.

 

 

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