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Clareira, morada e Ser

09 jun

Para Heidegger o Ser tem morada e presença, e isto é o que potencializa a clareira enquanto destino, este vazio da modernidade é justamente o esvaziamento do Ser como Morada e Pré-sencia, necessário para que o Ser preencha este vazio, nele que o Ser de re-vela ou desvela, o conceito é confuso no português porque re-velar, seria velar de novo e desvelar seria presença.

Diz o texto heideggeriano: “O destino se apropria como a clareira do ser, que é enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do “Dar lugar”, mora o homem como ex-sistente, sem que ele possa hoje experimentar e assumir esse Morar” (HEIDEGGER, 1987).

A morada pode-se dizer que a casa do ser como linguagem, nela se consuma a manifestação do ser, diria a filosofia antiga isto é uma volta ao nominalismo, mas a viragem linguística superou isto, pois dela se irradia e se transforma em ação, como algo a partir do pensar, pois só do ato de pensar podemos retirar o processo do fazer e operar, então por isto a linguagem é “habitação”.

Nesta habitação preserva-se o ex-tático, e nela se determina a clareira, ela nos retira do abismo de nossa essência ex-sistente, a clareira é o “mundo”, e a linguagem é o advento que clareira e revela o próprio ser, isto foi contestado por Peter Sloterdijk, em sua resposta no livro Regras para o Parque Humano, onde revela a falência do projeto do humanismo, sim, mas o Humanismo que Heidegger revela em “Cartas para o Humanismo”, que nada mais é que a da modernidade.

Isto é fácil de ser demonstrado uma vez que Sloterdijk considera o humanismo que critica (de Heidegger) como pastor do ser, que sua essência e sua tarefa se originam em saber guardar o ser e corresponde ao mesmo, assim guardar seu rebanho na clareira, que é o mundo aberto, mas qual

Toda a obra de Sloterdijk fica então no entorno deste dilema da modernidade, vez por outra evocando termos que vem da teologia, em suas obras posteriores Esferas I, II e III: “Matrix in grêmio” que lembra a figura religiosa de Maria, ou o In-sein In-Sein tem, segundo Sloterdijk, uma origem antropológica, que é a experiência do feto no útero da mãe, sem a perspectiva cristã.

Será um discípulo seu, Byung Chul Han que abordará mais amplamente a questão do Ser enquanto questionamento na modernidade, certamente por sua origem oriental, a leitura da clareira vai a fundo na modernidade: A sociedade do cansaço, O aroma do tempo e A agonia do Eros, desvelam o drama da modernidade, espero ansioso algo de Chul Han sobre o panorama da guerra.

Porém um quadro da pandemia Chul Han já traçou em seu A sociedade paliativa e a dor hoje, já fizemos um post, o quanto o Ser se afasta da dor ou daquilo que pode se aproximar dela, então criamos uma série de paliativos, que é o distanciamento da clareira (conclusão minha).

HAN, Byung-Chul. A sociedade paliativa: a dor hoje. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.

HEIDEGGER, M. HEIDEGGER, M. Carta sobre o humanismo. Tradução Revista de PINHARANDA GOMES, LISBOA: Guimarães Editores, 1987. (pdf).

SLOTERDIJK, P. Regras para o parque humano. Tradução: José de Alencar A. Marques. São Paulo: Estação liberdade, 1999.

 

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