RSS
 

A redução da transcendência a subjetividade

17 jan

A ideia de um pensamento absolutizante e único persegue a humanidade desde a antiguidade clássico, o Uno vai aparecer em quase todos textos, porem um conceito quase oculto vindo de Sócrates (claro através de “Toda a filosofia é apenas uma nota de rodapé a Platão e Aristóteles” frase de Alfred Whitehead, na verdade poder-se-ia estendê-la a Sócrates, alias o próprio Dalrymple não inclui Aristóteles (veja pg. 67).

Acontece porem que além do problema da tradução, poucos conhecem o grego, e toda tradução é uma traição, porque sabemos que a linguagem é expressão do Ser, e mesmo para a ciência sabemos que não há verdade formal e já postamos usando os textos de Darlymple, que há duas formas de relativismos: o abstrato e o empírico, assim apenas para entrar num novo textos, dependemos do pensamento embora nele também se encontrem dicotomias abstratas, como a da logica formal que vale para a matemática e a empírica que vale para ciências da natureza em geral e com certas restrições para as sociais também.

Assim podemos adentrar o texto de Slavoj Zizek sobre “O ano que pensamos perigosamente”, está falando de 2011 tanto nos diversos movimentos de ocupação (na Europa em Wall Street) e na primavera árabe, que depois os pensamentos absolutizantes trataram de reduzir a equívocos e ironias, porem havia algo novo e incomodo naqueles movimentos, e isto introduz bem o que pensa Zizek.

E sem duvida uma leitura mais a esquerda que Dalrymple, porem o interessante é ambos a busca de caminhos novos, o fato que retornamos ao socialismo bizantino e ao neoliberalismo pré-colonial indica que estamos andando em círculos, e alguns pensadores procuram o novo em meio ao populismo e a polarização.

Primeiro esclarecimento de Zizek importante para evitar leituras de rodapé é uma citação que faz de Hegel: “se a realidade não corresponde ao conceito, pior para a realidade” (Zizek, 2012, p. 10), para dizer que todo o pensamento a esquerda com filiação hegeliana, e isto inclui os marxistas ortodoxos, estão mais presos a teoria do pensam, e embora desejam ser herdeiros somente de Aristóteles que seria mais “realista”, há também em Platão a ideia do mundo sensível separado do mundo das ideias, mas cuidado, o eidos da antiguidade pouco ou nada tem a ver com o idealismo kantiano, numa palavra eidos em grego é imagem.

A divergência entre Platão e Aristóteles está na representação do real: em Platão a extromissão (a imagem projetada para dentro de nós e que converge para o mundo inteligível) enquanto em Aristóteles café a intromissão, onde a ideia provem do “mundo dos fenômenos contingentes” e que emitem copias de si mesmas para nosso interior, e são interpretadas por um saber inato ou adquirido.

Divergindo sobre esta concepção original sobre os princípios kantianos, aponta sua divergência com Frederic Jameson, e afirma que no pensamento de Marx tanto as dimensões objetivas quanto as subjetivas, não admitindo como ideológica as dimensões objetivas, “uma descrição desprovida de qualquer envolvimento subjetivo” (pg. 10), porem ambos não estão sujeitos a nenhuma forma de transcendência, o que Zizek discute com Kant e sobre o que considera “o espaço publico da ´sociedade civil mundial´ designa o paradoxo da singularidade universal, de um sujeito singular que, em uma espécie de curto-circuito, passa ao largo da mediação do particular e participa diretamente do Universal” (pg 11), assim como Kant e Hegel não se desvincula da dicotomia objetividade/subjetividade para chegar a transcendência realmente universal.

A ausência de uma ascese que reduz o homem ao meramente humano, ou para usar uma expressão filosófica “demasiadamente humana” livro de Nietzsche que abandona a transcendência, para tentar depois reencontra-la na filosofia oriental de Zaratrusta, caminho percorrido por muitos filósofos contemporâneos anteriores aos novos tipos de transcendência que já citamos de Theodore Dalrymple.

A analise de 2011 e suas revoltas são importantes para as analises que faz de Hard e Negri “Multidão” e a analise que faz das utopias de 2011 são importantes, senão as únicas, de sonhos adiados, desde a primavera de Praga, as revoltas de Paris, os movimentos dos hippies e de oposição a guerra do Vietnã dos anos de 1968, se as consequências politicas não foram as esperadas elas movimentaram o mundo cultural por anos, e acreditamos também podem movimentar as escassas ideias politicas e teorias universais sobre a paz entre os povos, com as primaveras de 2011, há uma carência de modelos de real emancipação, e o realismo tem a ver com ideias (eidos) e não são apenas opções “práticas” porque elas próprias tem seu ideário teórico, embora raramente examinado, Zizek o faz.

O retorno ao Eidos grego, que são o que produzimos como imagens sejam de dentro para fora (extromissão) ou de fora para dentro (intromissão) é importante para rever o ideário de nosso tempo, onde foi que ele se perdeu ou talvez encontrar o tesouro procurado. 

ZIZEK, Slavoj. O ano que sonhamos perigosamente, trad. Rogerio Bettoni. São Paulo: Boitempo, 2012.

 

Comentários estão fechados.