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Sobre a Ira e a Guerra

14 fev

Há quem defenda que a Ira e sua expressão máxima a guerra são necessárias e em muitas situações inevitáveis, o filósofo romano Sêneca além de teorizar a questão e a escrever um tratado “Sobre a Ira”, em três livros, no primeiro teorizar, no segundo trata de conselhos e exemplos para evita-la, já que pare ele a ira é sempre prejudicial.

O trabalho conclui com dicas de como acalmar a si e outras pessoas e faz uma síntese da obra, segundo o filósofo um grande homem nunca deve irar-se.

Uma leitura obrigatória para os dias atuais, é a leitura de Ira e Tempo: ensaios psico-políticos, de Peter Sloterdijk em que ele trata além de um panorama da questão no pensamento ocidental, acrescentamos Sêneca de propósito como contraponto, o autor mostra que ela é apreciada por ser força motriz de heróis e guerreiros, e diz que esta força se perdeu com a repressão da ira, mas será que é mesmo assim, ou ela foi transferida ao Estado que a monopolizou.]

O Amor nos tempos do cólera é um livro de Gabriel Garcia Marques de 1985, onde o cenário de fundo é a America Latina, o gênero é o realismo fantástico e fala de um triângulo amoroso que durou por mais de 50 anos, ao contrário do que parece e sugere, há um amor verdadeiro por trás do triângulo.

Durante toda a sua vida Florentino Ariza amou e esperou, por mais de cinquenta anos, Fermina Daza, o romance pode lembrar e é um bom paralelo com Candido ou o otimismo, de Voltaire (que é de 1759) e que ironiza o espírito provinciano de Candido na espera eterna de sua amada Cunegundes, que ao fim da vida finalmente a conquista, neste caso não há triângulo, mas um impedimento pela nobreza da donzela e a vulgaridade do plebeu.

O romance se passa na passagem do século XIX para XX, e tanto havia a peste da cólera e da guerra, e isto trás uma realidade muito atual, não é um amor idealizado em um contexto contraditório (cólera e guerra), Fermina foi casada com médico renomado Dr. Juvenal Urbino, a narrativa é inteligente porque já no início do livro o médico falece, e então o autor vai colocar a história de ambos e um amor reprimido, e como é o amor numa fase madura.

Esta maturidade e apesar do realismo fantástico, segundo o próprio autor teria muito a ver com a história de amor dos próprios pais, e embora fale apenas de um amor humano, traz uma reflexão positiva sobre o que é o amor, o quanto pode ser verdadeiro e maduro quando a vida toda ele é provado.

Em 2007 foi filmado e dirigido por  Mike Newell, confesso que não vi, mas acredito que o pouco interesse da crítica é um termômetro de que é tão bom.

 

MARQUEZ, Gabriel Garcia. O Amor nos tempos do cólera. Trad. Antonio Callado. Ed. Especial capa dura, SP: Editora Record, 2016.

SENECA. Sobre a ira: sobre a tranquilidade da alma, Trad. José Eduardo S. Lohner, SP: Ed. Penguin-Cia. 2014.

SLOTERDIJK, P. Ira e tempo: ensaio político-psicológico. SP: Estação Liberdade, 2012.  

 

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