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Posts Tagged ‘pandemia’

Desertos e oráculos

04 dez

Caminhamos como sonâmbulos no escura, aponta Edgar Morin, este não é um tempo propício ao pensamento afirma Peter Sloterdijk, Byung Chul Han diz que nosso tempo é o “deserto ou inferno do igual”, mas diria que o deserto ainda pode ser fértil, e ter um Oasis porem o igual estéril, é massificação, despersonali-zador e mais que autoritário nos identifica ao nada.

São algumas das vozes que identifico como uma busca desesperada para um retorno não ao antigo normal, mas a um realmente novo normal, não deverá ser este no fim da pandemia, e sim o inferno que nos nivelou todos por baixo, pelo desumano, pelo irracional e pelo consumo.

Edgar Morin aponta para a educação como um caminho para esta renovação, mas quem serão os professores com novo pensamento e nova mentalidade, Byung Chul Han aponta para o cuidado da terra, seu novo livro “Louvor da Terra” que aponta para um jardim comunitário, onde os ritmos e características de cada flor são registrados e acolhidos com sua atenção oriental, centrada nos elementos simples de cada flor.

Peter Sloterdijk já havia escrito Se a Europa despertar, poderíamos dizer agora se o mundo despertasse no pós-pandemia, se realmente olhássemos para o Bem Moral que propõe Morin, para uma fraternidade concreta e realmente universal como propõe o papa Francisco em sua encíclica Fratelli Tutti, mas penso eu são vozes que clamam no deserto como João Batista que morreu degolado pelo pedido de uma dançarina sensual que encantara Herodes.

Quando os fariseus foram a João Batista, que vivia no deserto, vestindo peles de camelos e comendo mel de abelha e cereais, ele respondeu (João 1,23): “Eu sou a voz do que clama no deserto: ´Fazei um caminho reto para o Senhor”, como disse o profeta Isaías”.

Quando há oráculos, pensadores e sábios que falam no deserto uma mudança está próxima.

 

 

 

O deserto e o futuro

03 dez

Não é apenas a pandemia, de fato ela pode passar, mas seus problemas não só não passaram como estão se agravando, o futuro ali na frente pode ser de uma crise séria, não só pelas dificuldades econômicas e sociais, na raiz há uma crise do pensamento.

O número de problemas de ordem emocional e psíquica de um longo período de isolamento já é visível, e os ciclos seguintes de euforia e exageros podem ser piores, parte da segunda onda no Brasil revelam os dados são festas e aglomerações inexplicáveis em meio a uma pandemia.

O romance de Augusto Cury falando do Futuro da Humanidade, parece apontado apenas para o foco de pessoas com problemas psíquicos podem ter solução e que a relação com estes pacientes que são marginalizados e tratados como sem identidade, deixa indignado um jovem estudante com nome de Marco Polo, o aventureiro navegador veneziano do século XIII, cujo nome o pai deu em sua homenagem.

O desafio deste jovem é que além de remédios, o tratamento com diálogo e psicologia podem levar a uma verdadeira revolução no tratamento de pessoas assim

O mundo já mudou, a nova normalidade poderá apresentar graves problemas tanto de origem social quanto psíquica, mas a consciência de que tudo isto pode e deve ser tratado com diálogo e sem mecanismos de fugas, como bebidas, drogas e festas, pode ajudar a uma outra cura além da pandemia, claro não é este o assunto do livro.

O livro As viagens de Marco Polo inspirou certamente as navegações e as explorações do Oriente na passagem do Renascimento para a Modernidade, escrito entre 1271 e 1295, conta as experiências deste jovem na corta de Kublai Khan, porém a viagem é feita de lutas e desafios (veja ilustração da obra original acima) e as viagens de grandes navegadores vieram nos anos seguintes, há uma travessia a ser feita hoje.

Lembro também a frase de Augusto Cury na qual diz que só é digno do oásis aquele que consegue atravessar o próprio deserto.

 

A pandemia e um alerta sobre a educação

02 dez

A pandemia poderia ter auxiliado nossa compreensão humana, sobre as nossas limitações, sobre a nossa interdependência e sobretudo sobre as incertezas que vivemos desde o nosso nascimento, a vida assim como a bondade e o bem são frágeis e precisam ser cuidados.

Ao longo dos seus 99 anos, o pensador Edgar Morin viveu o que muitos de nós leu apenas nos livros, a experiência deste notável educador é que há um mal que todos sofrem em graus diferenciados, a compreensão humana, o humanismo que abranja todo homem e mude a vida.

A preocupação do filosofo nestes tempos de pandemia é a polarização política e religiosa, que em convergência com o pensamento de Jonathan Haidt, leva a ideia que a empatia e a consciência de coletividade são essenciais para evitar ou minimizar esta polarização perigosa.

O pensamento desenvolvido por Haidt em torno da pandemia é o fato que “estamos presos juntos por aqui”, leva a ideia de todos no mesmo barco, nome também de um livro de Peter Sloterdijk, é a partir dai que parte tentando levar a um novo horizonte de diálogo bem feito e civilizado, escuta paciente e aceitação de visões diferentes, de fato sempre aconteceram, mas a questão são as diferenças morais.

Não se trata de uma tarefa fácil, afirma Morin, os modos como nossa psicologia moral se desenvolveu alerta justamente para a educação, é preciso ensinar nas escolas e universidades a compreensão humana, porque é um mal do qual todos sofremos em determinado grau.

Além disto alerta o filósofo já quase centenário, é preciso ensinar que a única certeza em todo destino humano é que a vida é feita de incertezas, postamos na semana passada o ser-para-a-morte de Heidegger mal lido e mal compreendido, e que neste tempo de pandemia pode levar o ser humano justamente ao oposto para o qual estamos caminhando, a descoberta do infinito, do respeito ao outro e da moral, como quer Morin.

Uma análise fria nos deixa pessimistas, porque os perigos são tantos, mesmo com a vacina, com ela pode vir um problema ainda maior que é ignorar os problemas que temos além da pandemia, porém a insistência de Morin em temas educacionais e morais aponta um caminho bom.

 

Vacinas em teste e a disputa econômica

30 nov

Mesmo reconhecendo falhas nos teses, a vacina da Pfizer contra a covid-19 deve estar aprovada dentro de alguns dias, informou neste domingo o jornal Financial Times, assim o Reino Unido se o primeiro país do ocidente a ter uma vacina, e a vacinação pode começar já em 7 de dezembro, no Brasil a corrida é do Coronavac, não importa muito qual é mais segura, por trás das vacinas há acordos econômicos e investimentos feitos a maneira de apostas e não de critérios realmente científicos.

No Brasil a autorização é feita pela Anvisa, na Europa pela Agencia Europeia de Medicamentos e a saída do Reino Unido da União Europeia, a transição final do Brexit é para 31 de dezembro, mas a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido tem poder para autorizar temporariamente os produtos, e há um óbvio interesse do Reino Unido ainda que seja em parceira com a BioNTech alemã.

O mesmo processo poderia ser aplicado à vacina desenvolvida pela AstraZeneca e Universidade de Oxford (o Brasil participa pela FioCruz), no entanto na sexta-feira (27) o governo solicitou ao regulador que revisse a vacina AstraZeneca-Oxford, mostrando assim o interesse de fato.

Os dados atuais da eficácia da Coronavac, vacina produzida pela empresa chinesa Sinovac e que tem parceria com o Instituto Butantan, deve ser anunciada no início de dezembro, e uma aprovação em tempo recorde seria para janeiro, entretanto a eficácia é diferente dos testes que verificam efeitos colaterais, contraindicações e eficiência a longo prazo, também a Pfizer foi questionada recentemente devido aos testes.

Os estudos sobre efeitos de longo prazo indicaram que talvez uma única vacina não resolva o problema da pandemia, um artigo foi publicado em outubro no The Lancet Infectious Diseases, que acendia um sinal de alerta sobre as vacinas, e acrescentava que não se sabia até aquela data se as vacinas candidatas eram eficazes em formas graves da doença, o sinal de alerta fica no aceso.

 

O erotismo em tempos de crise

18 nov

O assunto é difícil quando não se desvia para o liberalismo geral, defesa do erótico a qualquer preço ou da “liberdade do corpo”, porém o que acontece é que entre as diversas crises civilizatórias também o amor humano se encontra em crise.

Encontro pouca literatura existe a respeito que não vá para o liberô geral ou para o moralismo doentio, o que acontece é que, reconhece o filósofo Byung Chul Han, vivemos A agonia do eros, a incapacidade de amar, e no diagnóstico do filósofo coreano-alemão, estamos destruindo as relações a partir da erosão do Outro, que atinge todos os âmbitos da vida e caminha de mãos dadas com um “narcisismo doentio” que invade nossas vidas.

Escreve seu diagnóstico mais profundo: “O fato de o outro desaparecer é um processo dramático, mas, fatalmente avança, de modo sorrateiro e pouco perceptível”, um indício é o número de selfies onde as pessoas procuram mostrar suas diversas faces, sem escolher situação e em qualquer lugar.  

Se não reconhecemos a outra pessoa como um “outro”, nos tornamos incapazes de amar, e assim de chegar a uma viva e libertadora experiência do amor, é libertadora inclusive de nós mesos, de nossas frustrações e incoerências, sintetiza Han é o outro que nos salva de nós mesmos.

Em tempos de crise o amor, o carinho e o verdadeiro interesse pelo Outro é o que pode tornar a crise menos grave, se estamos vivendo o oposto, mais egoísmo, mais narcisismo e mais competição (Han argumenta como a sociedade da eficiência e do apelo ao sucesso) significa mais crise e menos erotismo.

Não há como desenvolver o amor e a alegria em torno destas situações, mesmo aqueles que tem uma relação de amor sofrem as consequências do ambiente violento e de apelos a atitudes contrárias ao amor e a afetividade, mesmo relações de amizade que requerem empatia estão em jogo.

Faço ainda uma reflexão além de Han, porque justamente a sociedade que mais exalta o erotismo sofre com a agonia dele, talvez aquilo que vemos como erótico ultrapasse os limites da privacidade, de algum recato e de respeito aos limites do Outro e do próprio corpo.

O discurso do respeito não está ultrapassado, afinal o que são os números assustadores de violência doméstica de todo tipo, senão a ausência do respeito, a imagem “Dentro e fora” (1929) de André Groz dá contornos interessantes sobre o aspecto da ligação do erotismo com a falta de sensibilidade.

 

A segunda onda e as vacinas

16 nov

A segunda onda chegou nos Estados Unidos, é bom lembrar que  está no mesmo hemisfério que a Europa, assim o período sazonal no qual a o vírus prefere períodos mais frios e úmidos, lá estão no meio do outono e se aproximando do inverno, fez com que os números de infecções e mortes subisse em território americano, quinta feira passada chegou aos

Já as vacinas seguem a polêmica da Coronavac, enquanto o sucesso inicial dos testes da Pfizer e BioNTech apontando uma eficácia superior a 90%, fez até as bolsas subirem e haver um otimismo em torno da pandemia, afetando até mesmo as bolsas.

A fórmula de desenvolvimento possui uma ação diferente das tradicionais, funciona como um imunizante que sim ter a capacidade de acabar com a pandemia da Covid-19, a maioria das vacinas usam a ideia do vírus enfraquecido ou do vírus inativado, que é o caso da Coronavac.

A vacina das farmacêuticas Pfizer e BioNTech, apontaram uma eficácia superior a 90% e a fórmula possui uma ação diferente das vacinas tradicionais, ele possui um imunizante a ideia é fazer o nosso próprio corpo produzir a proteína do vírus e assim ampliar as possibilidade de produção de anticorpos.

Os casos relatados que afirmam que a vacina provoca uma “ressaca”, como o próprio nome diz são casos e não há nenhum estudo científico que indique algum problema devido a este efeito colateral, quase todas vacinas provocam algum efeito uma febre pequena, um cansaço ou alguma dor no corpo.

Também a antecipação da vacina é possível tanto para a Pfizer como para a coronavac, com a comprovação de uma segunda onda vindo, o número de casos nos EUA cresceu de maneira surpreendente chegando a 76.195 na última quinta-feira (o recorde de 16 de julho foi 77.299) e a Europa já adota medidas de isolamento social para tentar conter a segunda onda, que já anunciaram medidas de fechamento de escolas e restrição de bares e restaurantes.

No Brasil os números também estão subindo, ainda sem medidas concretas, a maioria dos governos estaduais vacilam em tomar medidas duras devido o cansaço da população com as restrições que se prologam, embora nunca tenha havido uma medida dura como um lockdown ou restrição de circulação.

Uma análise comparativa com a segunda onda da gripe espanhola (figura) que matou 50 milhões de pessoas, numa população global bem menor que a atual mostra que a segunda onda pode ser de fato muito pior que a primeira, e também a sazonalidade (outono e inverno na Europa) deve ser considerada.

 

O poder e os dons

10 nov

É possível que alguém que tenha dons muito especiais tenha também poder, mas apenas como um serviço a determinado grupo e em certo contexto, as duas coisas pouco se confundem, e confundi-las é quase sempre um artificio demagógico.

Pessoas sabias receberão cargos ou estarão em estruturas de poder apenas por mérito, ou porque há uma necessidade de seus dons para aquela estrutura ou centro de poder, porém se são pessoas que desejam o poder a todo custo, raramente terão os dons necessários para aquilo para a qual são designados.

O poder já foi estudado na filosofia de diversas formas, na polis grega ele era um convite a cidadania, porém quase todos os filósofos (é claro depois de Socrátes e dos sofistas) deveriam se formar em valores e ter virtudes que contribuiriam para um cargo dentro da polis grega.

Entre os filósofos contemporâneos Max Weber definiu poder como a imposição da vontade de uma pessoa ou instituição sobre os indivíduos, enquanto para Marx o poder reside naquele que possui os meios materiais de produção de capital, que na sua época era as fábricas e as terras, mas hoje seriam as grandes corporações, os donos das mídias verticais (TVs, Radios, etc.) enquanto para Michel Foucault o poder na contemporaneidade não se encontra centralizado, mas dissolvido na sociedade, também criou o conceito de biopoder, enquanto as práticas pelas quais os estados modernos procuram regular os sujeitos e “obter a subjugação dos corpos e controle de populações”.

Peter Sloterdijk escreveu sobre a situação “timótica” de nosso tempo, o termo “thymós” está na base da teoria de Platão para designar os “órgãos” de onde nascem os impulsos, as excitações, as afecções mais inflamadas, parecem de fato algo comum em nossos tempo, não reagimos com reflexão as situações de poder e de comando para quase sempre emocionalmente, por impulso.

Byung Chul Han, que foi aluno de Sloterdijk escreveu sobre o psicopoder, influenciado pelas mídias verticais e claro também presentes nas mídias de redes sociais, onde o estado de alta tensão timótica é instaurado pelas sucessivas e repetitivas notícias que garantem este estado.

Os dons pessoais, coletivos ou sociais de cada pessoa ficam submersos a estas estruturas de poder e propaganda, semelhantes ao fascínio que exerceram os discursos de ditadores e populistas no período da guerra e posteriormente, e não podemos imaginar que isto esteja longe da realidade atual.

Quais são os dons daqueles que poderiam servir a população se não estiverem subjugados a este ou aquele grupo de pressão, é cada vez menos plausível, então o palco para demagogos e populistas está em aberto, e os ditadores estão a espreita.

 

Pandemia e suas segundas ondas

09 nov

Na história houveram oito pandemias deste tipo desde 1700, vamos notar que pelo menos sete tiveram uma segunda onda em alguma parte do mundo, conta os registros de infectologistas, porém temos na memória a Gripe Russa (de 1889 a 1890), com a Gripe Espanhola (de 1918 a 1919), a Gripe Asiática (de 1957 a 1958), a de Hong Kong (1968 e 1969) e mais recentemente a Gripe Suína (de 2009).

A segunda onda da covid-19 na Europa está se espalhando de modo mais rápido do que a primeira, afirmou o infectologista Arnaud Fontanet, conselheiro científico do governo francês par ao combate a pandemia, enquanto a mutação do vírus se espalhou a partir da Espanha é já é 80% dos novos casos registrados.

A segunda onda pode ocorrer por vários motivos, entre eles o comportamento humano, que significa como lidamos com o vírus e sua sazonalidade, também o número de pessoas suscetíveis, duração de imunidade e mutações (como a da segunda onda na Europa) são outras possíveis explicações para esta onda.

O comportamento é fácil de explicar, dificilmente em países mais liberais as pessoas estarão menos propícias a aceitar as privações do isolamento, já a sazonalidade pode ser entendida como picos em diferentes estações do ano, na Europa os picos são o outono e o inverno que acontece agora, enquanto no Brasil varia de acordo com a região: o Norte e Nordeste tem períodos mais chuvosos, no Sudeste e no Sul que se iniciará em março de 2021.

A promessa de uma vacina “mais rápida” é temerosa, os especialistas que respeitam o período de testes entendem que será muito difícil uma vacina antes de julho do ano que vem, e devemos respeitar e ser prudente com o período de testagem, equívocos de uma vacina podem ser mais graves que a própria pandemia.

Se a segunda onda ocorrer, a intensidade e a gravidade vão depender de nossa capacidade de aplicar medidas de intervenção e coordenação das medidas em um mundo que polarizou até mesmo questões básicas como saúde, alimentação e seguridade social, disto dependerá se a segunda onda seja mais grave que a anterior.

A principal função de esclarecer a segunda onda, o processo regulamentar de testagem das vacinas e as medidas preventivas é mantar a calma e a confiança da população de que está havendo um combate aos estragos provocados pela pandemia, é difícil, porém sem isto teremos um caos social cada vez maior.

 

Uma cidadania planetária

06 nov

A crise pandêmica mostrou que nossos problemas mais sérios são globais, afetam todo planeta, a segunda onda que já está na Europa não tardará a chegar nos diversos continentes, se é que já não chegou em pequenas doses, elas nos levam a pensar planetariamente o que parece difícil com a polarização política.

O que é preciso é abandonar velhas propostas, e tornar possível a convivência da liberdade privada com as fortes urgências sociais, a proposta do banqueiro dos pobres Mohanmmad Yunus vai nesta direção, eliminar a pobreza, a emissão de carbono e garantir empregos para todos, tornou-se na pandemia mais urgentes.

Não é a proposta única, é claro, outra como economia solidária, criativa, grupos de cooperativas de pequenos agricultores, podem compor uma ecossistema produtivo capaz de se adaptar a interesses e vocações locais de produção e de vida humana, é preciso sobretudo sair do excesso de consumo e do stress social.

Não é menor nem desprezível os aspectos culturais nos quais se incluem as religiões e crenças (no sentido lato da palavra) dos povos e nações, faço distinção porque muitas nações já tem em seu interior povos de origens culturais diferentes, o que aqui se chama de cultura originária, nas quais incluem-se também as indígenas.

Não há um concerto claro de como isto pode ocorrer, um amplo diálogo pan-nacional (o que dissemos a pouco de “povos”) é fundamental para organizar um novo ecossistema social aonde o fundamento da seguridade social aliado a liberdade pessoal esteja como premissa para traçar este futuro.

Por enquanto, como uma família que desorganizou as contas da casa, e colhe muitos dissabores desta desorganização, ainda há ditaduras de diversas ideologias no planeta, guerras como tentativas de submissão cultural, novos tipos de colonialismo, embora tenha surgido uma forte corrente de decolonização (o termo é esse), o que acontece no planeta pode ser uma ruptura em situações graves e própria “casa comum” pode reagir, o que já chamamos de mutação aórgica.

Uma passagem bíblica fala sobre a sabedoria e os que a procuram, ela é um estágio acima da simples inteligência, é preciso estar aberto ao novo e deixar também o que ela “entre”, diz o livro da Sabedoria (Sb 6,13-15): “Ela até se antecipa, dando-se a conhecer aos que a desejam. Quem por ela madruga não se cansará, pois a encontrará sentada à sua porta. Meditar sobre ela é a perfeição da prudência; e quem ficar acordado por causa dela, em breve há de viver despreocupado”.

Assim a sabedoria está aliada ao dom da “prudência”, e meditar sobre ela é “a perfeição da prudência”, a ignorância cria apenas fanatismos e crueldades.

 

Como prestar contas de nossas faltas

04 nov

Todos cometemos faltas, se é verdade que não podemos enganar a vida com a morte, dizia o poeta Goethe, não podemos deixar de reconhecer a fatalidade da vida que é seu ocaso final.

Não há nenhuma contestação a fazer, ninguém ficou para semente diz um ditado popular brasileiro, e não sabemos o que há do outro, exceto para os que creem.

Durante anos da vida caminhamos desatentos com pequenas e grandes faltas, a maioria delas empurramos para debaixo do tapete, outras vezes justificamos nem sempre de maneira justa e convivente as faltas que tivemos, atribuindo a culpa ao Outro, porém o que fazer diante de um momento que devemos reconhecer aquilo que não fizemos bem e que podemos ter prejudicado muitas pessoas.

Leon Tolstói descreve em “A morte de Ivan Ilitch” um homem diante da morte, que vê os parentes mais preocupados com a herança do que com a própria vida dele, descreve no livro: “Chorou como uma criança. Chorou por causa do seu enorme enfraquecimento, e terrível abandono em que a família o deixava e pela crueldade e ausência de Deus.”

Claro que nem todos se lembrarão da ausência de Deus, é uma espécie de sacramento da ignorância, mas há também aqueles que mesmo tendo “praticado” uma religião terão dificuldades de perceber suas faltas e assim terão dificuldades de prestar contas delas.

Mesmo as alegrias da vida parecem distantes num momento e que todos estaremos muitos frágeis, descreve Tolstoi no seu conto: “Quanto mais se afastava da infância e se aproximava do presente, mais insignificantes, mais duvidosas eram as alegrias.”

Seria bom que por um evento sobrenatural pudéssemos ter clareza de nossas fraquezas e tempo para redimi-las, mas nem todos terão, talvez algo possa acontecer.

Seria uma grande prova da existência e Deus e a ideia que é possível a humanidade ter salvação, a crise pandêmica é maior porque existe uma crise civilizatória.