Arquivo para a ‘Redes Sociais’ Categoria
Sem acordo e Kiev cercada
A guerra segue horrenda e sem perspectiva de um cessar-fogo, a terceira rodada de conversa no dia de ontem não resultou nem mesmo num cessar fogo para o corredor humanitário que permitiria a saída de civis, em especial de regiões onde a luta está mais sangrenta.
A Rússia declarou uma série de ações hostis pela sanções adotadas que estrangulam sua economia, entre eles: EUA, Canadá e os 27 países da União Europeia, em ordem alfabética os outros países: Austrália, Albânia, Andorra, Reino Unido, Islândia, Japão, Liechtenstein, Macedônia do Norte, Micronésia, Mônaco, Montenegro, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, San Marino, , Singapura, Suíça, Taiwan e Ucrânia.
O Brasil ficou fora, talvez pela fala do presidente explicando as razões da “neutralidade” no domingo, conseguiu unir direita, centro e esquerda: no mínimo um desconforto diplomático uma vez que grande parte do mundo já condenou e impõe sanções a Rússia, a própria China inclusive e ela teria mais razões que o Brasil para aderir: a ideológica.
Sem perspectiva de paz agora as atenções e tensões se voltam para Kiev, próximo a cidade há pequenas cidades e florestas como o Parque Nacional Zalíssia que apresentaram algumas formas de resistências, no entanto foram rechaçadas com denuncias de violações e crimes de guerra, não houve nenhuma negociação que permitisse a retirada de civis, assim muitos civis estão nas cidades.
O governo russo divulgou que há rotas de fuga permitidas, mas se trata de ir para Russia ou Bielorussia, com objetivo de fazer propaganda.
Nas noites vem o toque de recolher e as pessoas vão para os abrigos antiaéreos improvisadores, tuneis de trem, porões de hotéis, edifícios e até igrejas (as criptas), são os refúgios costumeiros.
Seja qual for o final desta luta, o povo ucraniano e seu presidente ganharam respeito e admiração no mundo todo, enquanto Putin e a Rússia sairá como vilã, mesmo tendo ocorrido protestos pela paz, a posição de Putin é forte dentro da Rússia e há um rígido controle das mídias e da narrativa.
Kiev vive de esperança e de uma motivação para defender seu povo (na foto uma nuvem que parece um anjo fotografada pela moradora Oksana Kadiivska, do distrito de Darnitsa de Kiev).
Aos que tem alguma forma de crença resta a esperança de tempo melhor, também nas mentalidades, uma vez que o belicismo, a intolerância e a pouca empatia andam pelas ruas.
Covid: Média móvel de mortes cai e novas preocupações
A média móvel de mortes por Covid vem caindo, mas devemos lembrar que chegou próximo a 100 quando voltou a subir com a Ômicron, embora menos letal o relaxamento nos protocolos e a alta infecção da variante propiciaram um novo aumento.
A queda é real, porém o perigo do relaxamento nos protocolos é porque o vírus circulando, lembre-se que há muitos casos de assintomáticos, a possibilidade de novas cepas pode voltar a agravar o quadro, a própria OMS alerta e vem monitorando para estar atenta a este alerta.
O número de casos por infecção também caiu para abaixo dos 40 mil novos casos, apesar da média móvel estar caindo, não está descartada nova Cepa do vírus, as variantes BA.2 que é chamada de furtiva ela só permite que seja detectado o resultado positivo ou negativo, com o teste PCR normal, sem distinguir as variantes.
A detecção e monitoramento das linhas é importante para verificar e prevenir novas variantes, até o momento as variantes da ômicron: BA.1, BA.2, BA.3 e B.1.1.529 segundo dados da OMS são as dominantes em 99% dos casos atualmente.
Há tempos os cientistas alertam que quanto mais o vírus circular, maiores as chances de mutações, porém a ômicron menos letal não está sendo considerada neste caso, e isto é uma preocupação, além de aumentar a cobertura vacinal global (reduz a circulação do vírus) também os protocolos são responsáveis por frear a circulação do vírus, pois esta cepa também pode estar entre vacinados.
E preciso frear a circulação ou pode-se ter surpresa em novas mutações do vírus.
As três tentações e os três flagelos
Há uma forte ligação entre os 3 flagelos viciosos da humanidade: fome, guerra e peste, e as três grandes tentações de Cristo no deserto: alimentação (Jesus no deserto foi alimentado por anjos), poder e desprezo pelas coisas divinas que podem nos limitar moral e civilizadamente.
Ontem a conversa do presidente da França com Putin, este afirmou: “o pior ainda está por vir”, as terras da Ucrânia são férteis e são grandes produtoras de alimentos e a Rússia de fertilizantes.
Iniciamos na quarta-feira a Quaresma e talvez a grande provação do homem, dizem as leituras bíblicas sobre as tentações de Cristo no deserto (Lc 4,1-13) (veja o quadro do russo Ivan Kramskoi, sec. XIX):
O diabo disse, então, a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”. Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem’”
E (depois) lhe disse: e lhe disse: “Eu te darei todo este poder e toda a sua glória, porque tudo isto foi entregue a mim e posso dá-lo a quem quiser. Portanto, se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu”.
Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás’”.
E o desprezo pelo poder do mal e não aceitar a Deus: Depois o diabo levou Jesus a Jerusalém, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo! Porque a Escritura diz: ‘Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, que te guardem com cuidado!’ E mais ainda: ‘Eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”.
Jesus, porém, respondeu: “A Escritura diz: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”.
Isto deve servir em primeiro lugar para os religiosos: não se colocarem no lugar de Deus e depois para toda a humanidade evitar o mal é distribuir o pão, renunciar ao poder humano e ao domínio mantendo o respeito ao Outro e respeitar as regras sanitárias para evitar que a peste se alastre.
Não conseguimos (como humanidade) romper com nenhum destas tentações, mas há esperança.
Condenação da Rússia e deserto de soluções
A Assembleia Geral da ONU condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia por 141 votos a favor (foto) e 5 contrários (Belarus, Coréia do Norte, Eritréia e Síria, além da própria), porém a lista de abstenções é longa (35 países) e incluem os tradicionais aliados da Rússia: China, Venezuela e Cuba.
O Brasil votou a favor em contradição com a posição na OEA e a visita recente do presidente.
No discurso do chanceler da Rússia na ONU 100 países se retiraram da sala em boicote ao seu discurso, no final o Chanceler russo disse que as sanções econômicas do Ocidente são a única coisa possível ameaçando com armas nucleares qualquer outra solução de apoio militar.
Hoje se inicia a segunda rodada de negociações entre Ucrânia e Rússia num deserto de soluções a não participação da Ucrânia na OTAN pode ser negociável, porém a Ucrânia já pediu o ingresso na União Europeia, e o discurso de Volodymyr Zelenski foi aplaudido de pé pela assembleia da UE que discutia incluí-la, mas o processo é longo e talvez em função da negociação não seja a hora.
Inicia-se hoje uma nova rodada de negociações para a paz, deve ser pensado um imediato cessar fogo, o deserto de ideias é amplo, no momento cada país apresentou apenas suas exigências, até a China se dispôs a intermediar, porém os dois países seguem um diálogo direto.
A Criméia já é um território anexado, entregar as duas regiões de Donetsk e Luhansk, para a Ucrânia significa ceder parte de seu território, um desarmamento unilateral da Ucrânia pode ser pensado se a questão da OTAN for negociável pelos russos.
Uma paz regional que não erga uma nova cortina de ferro parece distante, Putin está fragilizado dentro da Rússia devido as sanções, porém o impasse continua, a nível mundial segue uma bipolarização, embora diplomaticamente a Rússia sai da Assembleia da ONU muito fragilizada.
É preciso repensar a paz mundial, o conflito mostrou a fragilidade do equilíbrio nuclear, questões territoriais como Taiwan e parte das antigas repúblicas soviéticas seguem em desequilíbrio, e muitas abstenções escondem um apoio velado a Rússia e ao seu belicismo, do qual não escapam muitos países da OTAN sem deixar de incluir os Estados Unidos.
Há um deserto de soluções que não envolvam a solução armada e a indústria de guerra cresce.
Cinzas de uma quarta-feira
Em todo mundo cristãos celebram no início da quaresma a quarta-feira de carnaval, os 40 dias até a Páscoa, não houve carnaval e sim uma festa da carne e da morte que é a guerra no leste europeu, imploramos que o crescente envolvimento de muitos países não crie uma 3ª. guerra mundial.
Diversas cidades ucraninas foram arrasadas e tomadas por forças militares russas, ao norte as já declaradas repúblicas populares da região de Donbass (do rio Don) Luhansk e Donesk, e agora ao sul Mariupol e Kherson, no Norte ainda há resistência na segunda maior cidade do país Kharkiv.
As tropas russas, o maior comboio militar desde a segunda guerra mundial chegou nas proximidades de Kiev, a noite lá terá combates extremos, uma torre de comunicação foi derrubada e um memorial do Holocausto foi atingido, mostrando que a retórica de lutar contra o neonazismo é apenas um pretexto para a guerra, a Ucrânia também foi atacada por Hitler e o memorial lembrava isto, claro há grupos neonazistas na Ucrânia como em muitos países.
No início da pandemia quando a Páscoa não podia ser celebrada em público para evitar aglomerações, afirmamos aqui que era uma Quaresma significativa, talvez esta com tantos mortos devemos pensar não mais na paixão e morte de Jesus, mas na nossa paixão e possível morte de civilização, há protestos pela paz, mas nas redes as manifestações de ódio entre “torcidas” estão espalhadas.
Também é verdadeiro que em todo mundo há manifestações de solidariedade pela paz, muita acolhida aos refugiados cujo número pode surpreender porque uma país está todo ele destruído e a Ucrânia não é uma pequena nação, é um dos maiores países da Europa, abaixo da Rússia é claro.
Podemos fazer uma pausa para pensar no nosso processo civilizatório em crise, pensar nas mães e filhos que perdem seus pais, parentes e amigos na guerra, nos jovens que não terão futuro, nos inúmeros mortos, só do lado russo são já mais de 6 mil soldados que não voltaram para casa.
Sobre as cinzas poderemos erguer uma nova civilização, sem submeter nações ao desespero e ao opóbrio, sem bárbaros processos de colonização incluindo o cultural e enfim sermos povos que vivem em paz, que resolvem conflitos numa mesa de negociação e olham para crianças e velhos com apreço.
Que a Quarta-Feira de Cinzas nos lembrem que somos pó e que a vida tem um valor sagrado.
Evitar o pesadelo nuclear
A guerra na Ucrânia vai subindo o tom e tornando-se uma ameaça para toda a humanidade, no campo de batalha os ucranianos apresentam uma resistência e um heroísmo que poucos acreditavam, as pressões sobre a Rússia no conselho de segurança da ONU e na própria assembléia da ONU aumentou (ontem diplomatas russos foram expulsos pois a sede fica em Nova York), apesar de muitas abstenções, como a India e a China, o tom é de condenação pelos princípios de soberania das nações, as sanções econômicas impostas primeiro para os milionários russos e o próprio Putin, agora para toda economia Russa já são sentidas, no campo de batalha apenas aumentou o tom, e a primeira tentativa de diálogo fracassou, foram enumeradas as questões de cada lado e uma próxima reunião.
A guerra já produziu um enorme flagelo, são mais de 5 mil soldados russos mortos em batalha e certamente o número de ucranianos deve ser maior, além neste caso de civis que pagam inocentemente pela guerra, são mais de meio milhão de refugiados e a entrada dos países europeus na guerra criam um temor maior: as armas nucleares.
Estas armas estão no exclave da Rússia em Kaliningrado, parte territorial descontinua da Rússia que fica entre a Polônia e Lituânia para onde foram levados mísseis de logo alcance com carga nuclear, mas agora todo espaço aéreo europeu está fechado para os russos, assim como a passagem do mar negro para o mediterrâneo que a Turquia fechou, este país é membro da União Europeia, que começa a se envolver militarmente no conflito e a ameaça de Putin de uso de armas nucleares é para este caso, dizem é um blefe os analistas, mas o risco existe.
Um grande comboio militar russo de mais de 30 km de caminhões transportam tropas, talvez entre eles estejam os temidos chechenos que travam a batalha campal, e os outrora inimigos de Putin agora o veem como um comandante, de origem islâmica tem agora relativa autonomia e depende da Rússia.
Em todo mundo e na própria Rússia há protestos pedindo o fim da guerra, lá são duramente reprimidos, o papel do Brasil de voto na ONU pela condenação da Rússia e de neutralidade na OEA se abstendo do voto mostra o caráter ambíguo, o papelão do presidente de ter ido visitar a Rússia dias antes da guerra foi um enorme equívoco, no mínimo.
O Brasil depende dos fertilizantes da Rússia, a Europa depende do gás e também dos grãos cuja Ucrânia é grande produtora, os reflexos na economia já são sentidos: o rublo russo caiu 30% e o dólar começa uma queda que provavelmente não vai parar, na prática além da economia: os alimentos e os combustíveis devem subir de preço verticalmente.
No campo cibernético que a Rússia é uma potência, o site Anonymous declarou sua guerra, porém a entrada de Elon Musk (dono da Tesla) na guerra deve ser vista com cautela, a segunda guerra foi um negócio para muitos empresários, até mesmo a Vokswagem alemã e Ford americana tiveram sucesso no pós guerra.
Kiev pode não cair, mas será um milagre, o socorro militar do Ocidente pode ter chegado tarde, o símbolo que existe na praça central é o Arcanjo Miguel é o anjo das batalhas, para muitos cristãs e os ucranianos são cristãos de rito próprio, mas ligada a Roma (aliás o Vaticano se propôs a intermediar o diálogo), que o chefe do exercito celeste encontre um caminho, agora obscuro para a paz, e não permita um flagelo e uma noite nuclear que afete toda humanidade (na foto o arcanjo Miguel na coluna na Praça Central de Kiev).
Covid: ligeira queda de mortes e protocolos
Depois de várias altas e estabilidade no número de mortes, neste final de semana registra-se a primeira queda de “casos conhecidos” como dizem os fornecedores de dados, pois não há uma política de testagem, assim os números de infecções também vêm caindo, mas por falta de dados são menos confiáveis.
A vacinação de crianças e o número total no país também avançam ultrapassando a 80%, já com um número significativo de doses de reforço (30%), porém os protocolos continuam mal administrados: distanciamento, aglomerações e uso correto de máscaras não podem ser abandonados e a próxima medida anunciada será a liberação de máscaras em ambientes ao “ar livre”.
O número de 722 mortes diárias é alto ainda, afinal são mortes e não casos complicados ou apenas pessoas não vacinadas, uma fase de protocolos bem administrados seriam razoáveis para fazer este número cair rapidamente e basta ir a qualquer evento e ver que não há mais uma verdadeira preocupação, e em ano político isto não é uma medida aceita, por exemplo, no comércio.
Não é compreendida ainda clinicamente a Covid de longa duração e a recomendação médica é a de testar sempre, ela atinge de modo especial as crianças (o site viva bem da uol cita vários casos) e ela não está presente na preocupações de ambientes públicos, apenas as máscaras e álcool gel é o básico, deveria haver testagem, além dos protocolos que deveriam ser observados e não são (distanciamento por exemplo, não se observa mais em qualquer ambiente público e nem há fiscalização).
Espera-se que mantenham os protocolos e que a média móvel de mortes possa cair mais rapidamente do que tem sido até agora, reduzir para endemia é precipitado dizem especialistas.
Amanhã postaremos de um segundo flagelo da guerra, conforme dissemos no início do mês as pestes, seguem-se ou precedem de guerras e depois virá a fome e o caos social, é incrível que alguém torça ou deseja por uma situação de tamanha desumanidade, amanhã retornemos ao tema com esperança que o diálogo Rússia e Ucrânia anunciado dê frutos.
Pode um cego guiar outro cego ?
Numa situação de conflito as partes envolvidas devem ser arbitradas por uma terceira que seja neutra, mas ainda não existe.
A escalada da guerra entre Ucrânia e Rússia segue nesta manhã de sexta-feira, tanques russos se aproximam de Kiev enquanto as tropas de defesa da Ucrânia resistem como podem com ataques anti-tanques e explosões de ponte, como a do rio Teteriv, que dificultam a chegada dos russos a Kiev, também conseguiram atingir alguns tanques com baterias antitanques.
O próprio ministério da Defesa da Ucrânia informa que os tanques russos já estariam a 32 km da capital, e o objetivo é a queda do governo e consequente ocupação russa do país, os aliados do leste Europeu que fazem parte da OTAN: Polônia, Lituânia, Estônia e Letônia invocam o artigo 4º. do tratado da OTAN que qualquer país atingido implica numa reação dos 30 estados membro.
A entrada da OTAN seria o início de uma escalada mundial da Guerra, certamente a China se posicionaria a favor da Russia enquanto os EUA e seus aliados fora da Europa se posicionariam a favor da Ucrânia, o que já vem acontecendo, porém o Brasil segue numa complicada situação em função da visita do presidente da República em hora inoportuna à Rússia, porém o vice-presidente já condenou a ação russa.
Nas primeiras horas desta sexta-feira a situação da Ucrânia vai se tornando dramático com a possibilidade de um eminente assalto das forças russas a capital Kiev da Ucrânia, sem uma reação dos aliados, apesar de terem cedido armas ao exército ucraniano, em poucas horas a ocupação do país pode ser total.
O conselho de segurança conforme noticiamos ontem já se pronunciou contrário ao avanço russo, embora a retórica russa diga que era somente para manter a paz e anteriormente que não invadiria a Ucrânia, já se sabe que são apenas retóricas de guerra.
Quem seriam as forças, países e pessoas capazes de convocar uma reunião diplomática de emergência, as sanções impostas aos bancos da Rússia atingem três aliados de Putin neste mercado financeiro: Gennady Timchenko, Boris Rotenberg e Igor Rotenberg.
Outra sanção foi a interrupção do gasoduto Nord Stream 2 que está pronto e liga a Rússia com a Alemanha, Putin acusou o golpe dizendo que isto vai fazer o preço do gás explodir e a Europa depende dele.
Porém o problema central segue, quem pode dar luz a um diálogo entre cegos, como diz a leitura bíblica que faz alusão a que um cego não pode guiar outro cego, e acrescenta (Lc 6, 42): “como pode dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.
Não se trata de torcidas de uma partida de futebol e sim de vidas humanas e direitos de povos e nações que estão em jogo, não há torcida que tenha luz senão aquela que deseja a paz, os lados em conflito, aquilo faço alusão a Biden e Putin, deve aceitar algum tipo de moderação para evitar uma guerra mundial, ou a volta da guerra fria.
Além da geopolítica, uma visão de mundo
A falta de visão global, a ideia de uma cosmovisão que supere a cegueira foi tratada em vários campos da filosofia, vem desde o mito da caverna filosofia de Sócrates e Platão, onde aqui que os homens veem sem estar na luz são apenas sombras do que é realmente o mundo, mais modernamente Heidegger a ampliou para o “Weltanschauung” (uma espécie de mundovisão ou cosmovisão, mas toda tradução é pobre), uma visão fundamental porque deixa de ver o mundo de modo bipolar ou unipolar para enxerga-lo como um todo onde se inclua o ser, tudo o que existe além de determinada forma particular de ver o mundo, incluindo a natureza e o cosmos.
Em termos da vida cotidiana isto é fundamental tanto na chamada “filosofia natural” (embora esta esteja viciada pelo idealismo contemporâneo), onde se incluem tantos os valores fundamentais, aqueles que já existem no direito internacional (direito a vida, a opção religiosa e cultural, etc.) ampliando o mundo da mera ética e moral para os valores existenciais, aqueles onde além da condição humana estão os direitos de povos e nações que tem determinada forma de ser e viver.
É preciso para isto uma visão de mundo que ultrapasse os limites do nacionalismo e do desejo egoísta de dominação dos povos, a decolonização, a limitação do poder das superpotências e um papel realmente efetivo da ONU, que deve ultrapassar a mera União das Nações, para uma verdadeira unidade e paz entre os povos.
Citamos o livro A peste de Camus, quando ele trabalhava clandestinamente no jornal Combat! na luta contra o nazismo escreveu> “Cartas a um amigo alemão” (1945), onde se lê: “Cartas a um amigo alemão” (1945): havia sentimentos comuns, como a separação ou o medo, mas continuavam a colocar no primeiro plano as preocupações pessoais. Ninguém aceitara ainda verdadeiramente a doença”, neste caso não uma peste, mas a guerra, já postamos aqui a relação entre elas, e agora relacionamos ao medo que é existencial.
Ninguém mais que o povo ucraniano sente isto hoje, porém Alemanha e Reino Unido já estão envolvidos, o presidente da Ucrânia já se reuniu com a Lituânia e Polonia, também os russos, EUA e China e toda Europa sente isto de certa forma, mas dirão não é comigo é com os vizinhos, era isto que alerta a Carta de Camus, não é o vizinho, além das sanções econômicas que já farão reflexo na economia mundial, a expansão da bipolarização da tensão já se espalha aos poucos: a peste.
A relação com o vírus é parecida, vai entrando aos poucos, uma, duas, dezenas e depois centenas de pessoas contaminadas, até se tornar uma guerro-cídio, uma guerra geral senão em termos bélicos, seria um desastre devido as armas nucleares, em termos existenciais e de mundovisão, não há os limites do discurso do ódio, um ódio é um ódio, um não a paz.
Que seja possível enxergar além dos conflitos, a existência e o direito a vida dos povos e das nações, e que os conflitos fiquem nos limites da diplomacia (na foto Reunião do Conselho de Segurança da ONU).
Sobre a Guerra e a cegueira
É sempre cego ou apenas egocêntrico aquela incapacidade de olhar o Outro, querem sua atenção apenas para exigir seus dotes e seus feitos, assim são egocêntricos, porém a cegueira social e cultural é mais ampla, nela está a incapacidade de aceitar culturas e povos diferentes, dizem eles não constituem um grupo relevante ou não tem uma cultura avançada, onde a questão do avanço depende apenas do referencial, o mais comum em ambos casos é reclamar o olhar do outro sobre si, sem que haja o recíproco.
O ensaio sobre a cegueira de José Saramago, já postamos aqui fala desta cegueira social vista como um vírus que se espalha e começa cegar a todos, e que foi transformado em filme pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles, com roteiro de Don McKellar, e chamamos o nosso post-ensaio de Intermitências da Morte, outro ensaio de Saramago.
Camus também descreveu em seu romance A peste, sobre uma doença que atingiu seu país natal (era argelino) e que via que chega-se uma hora em que a verdade parece ofender a todos, até mesmo os outrora sensatos: “mas chega uma hora na história em que aquele que ousa dizer que dois e dois são quatro é punido com a morte” pois é “uma ideia que talvez faça rir, mas a única maneira de lutar contra a peste é a honestidade”, esta virtude esquecida e até ironizada nos dias de hoje.
Diz Camus que ultrapassar o medo e a dor “compreendi que toda a desgraça dos homens provinha de eles não terem uma linguagem clara. Decidi então falar e agir claramente, para me colocar num bom caminho”, isto implica não apenas em sabedoria e coragem, mas também ultrapassar a cegueira humana.
Numa passagem mais contundente dirá o autor: “Os homens são mais bons do que maus, e na verdade a questão não é essa. Mas ignoram mais ou menos, e é isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado o da ignorância, que julga saber tudo e se autoriza, então, a matar”, mas então se faz o ódio e a guerra.
Este parece ser um caminho sem volta pelo qual trilhamos, não apenas no pavio aceso na Ucrânia e na Rússia, mas em toda humanidade, a cegueira do tempo das guerras parece ter voltado a toda e todos estão apontando o dedo uns para os outros, e Karl Klaus avisava aos jornalistas (antes da 1a. guerra mundial) que também embarcavam na onda: “A guerra, a princípio, é a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou.
Também na Bíblia não falta esta metáfora: o cego Bartimeu que implora a visão, a cura do cego de nascença (incrível porque não tinha um sistema cognitivo para enxergar) e foi lavar-se no tanque de Siloé e os dois cegos da Galileia, é claro para a maioria dos teólogos que esta cura é para ver a verdade que os homens se recusam a ver: o Amor e a Paz.
As polarizações regionais e nacionais aos poucos se tornam mundiais e a sensação de que o outro é que vai “se ferrar” é a crescente e pura cegueira, todos nos ferraremos.