Arquivo para a ‘Redes Sociais’ Categoria
Versos incompletos e o poder
Toda incompletude é humana, mas é também a causa de nossa cegueira, podíamos completá-la com o diálogo, com a escuta atenta ao Outro, ou com a pós-moderna filosofia que nada tem de liquido, mas é muita sólida: viver no Outro, um pós-indivíduo.
Vejo versos libertários, literários e bíblicos, todos incompletos, pela ausência do Outro, ou pela simples divisão idealista entre sujeitos e objetos, aqui tornados plural, para dar sentido a um verso de Fernando Pessoa:
“Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso”, também incompleto, mas final pois no início é só que muitos sabem “Navegar é preciso, viver não é preciso”, que não era dele e sim o lema de muitos navegadores portugueses.
Também este poema precisa de completude: “Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça”, como isto é bem-vindo em tempos de eterno retorno.
Queria fazer um pensamento sobre o poder, mas não posso senão já seria poder, diz o nosso poeta português: “Tudo quanto penso, Tudo quanto sou É um deserto imenso Onde nem eu estou”, são versos de “Tudo quanto penso” sendo também incompleto.
Completo com minha vida de estudante, lutando pela democracia num país autoritário, disse os versos finais deste poema de tudo quanto penso: “Extensão parada Sem nada a estar ali, Areia peneirada Vou dar-lhe a ferroada Da vida que vivi.”
Disse Fausto no seu Goethe (foi o personagem a dizer): “embora no arrojo embora meu ser se resolva em nada”, poder de quem ? que podes sobre meu Ser ?
Cegueira e medo
A euforia de um recuo conservador dura pouco, porque apesar de recuos a sociedade como um todo, incluindo a economia, os valores culturais e até mesmo a ecologia (em crise a um bom tempo, a ponto de catástrofes anunciadas) devem dar sinais vitais ou de perigo.
Foi o alerta americano sobre possibilidades de verdadeiras bombas contra a democracia, que inclui o ex-presidente Barack Obama, a candidata Hillary Clinton e alguns deputados democratas, lá como aqui a suspeita de atos autoritários e até mesmo condenáveis dão sinais.
O resultado refletiu nas economias, as bolsas caíram e o dólar subiu, pouco é claro, mas é uma amostra clara que se estamos no caminho errado a euforia logo cai na realidade: o medo.
Em nota oficial o FBI esclareceu que as embalagens direcionadas ás famílias Clinton e Obama foram identificadas durante “procedimentos de rotina de triagem de correio”, o que fez a Casa Branca tentar minimizar os fatos dizendo que eram “desprezíveis”, o que se viu foram fatos.
O edifício Time Warner, por exemplo, em Nova York foi evacuado (foto) onde estão gabinetes de deputados democratas, e segundo agências de notícias, o primeiro a receber pacotes teria sido o investidor em bolsas, conhecido no Brasil por suas manipulações, George Soros.
Assim é o obscurantismo e a cegueira que espalham o medo em primeira instância, o discurso pode parecer como tendo fundamento, mas ao revelar sua face verdadeira, a cegueira segue o medo e muitas vezes levam ao terror.
Claro que é só um sintoma, um evento pequeno, porém não “desprezível” como aponta a Casa Branca, se não levado a sério pode desencadear na sociedade um clima de pânico que segue ao medo, e as repercussões no “bolso” da economia que dói aos poderosos, é afetado.
Todos queremos uma sociedade segura, os caminhos que levam a ela é que são diferentes, sem um caminho que garanta direitos a todos indistintamente, superando desigualdades e preconceitos, geramos uma “paz” duradoura, diferente daquela proposta por Kant como “pax eterna”, a sociedade moderna que assistiu a duas guerras mundiais sabe que ela não é efetivamente duradoura.
Escreveu Byung Chul Han em A expulsão do outro (Relógio d´água, 2018, p. 22): “o medo de cada um por si provoca inconscientemente a nostalgia de um inimigo. o inimigo é, ainda que de modo um provisor de identidade”, retirado do texto Theorie des Partisan de C. Schmitt, citando-o textualmente.
Wikipedia e Inteligência Artificial
Tendo já quase superada a questão do ponto de singularidade (ver nosso post), o ponto que a máquina ultrapassaria a inteligência humana, a questão se volta agora para a consciência e um ponto bastante abordado é a questão da consciência.
Neste sentido a crítica principal é a perpetuação de preconceitos, o que evitaria o que chamo de hermenêutica, mas é uma visão incorreta da evolução da tecnologia digital, por exemplo, o uso de Ontologias Digitais e a capacidade de buscar estudos científicos fora do Wikipedia.
É o que anunciou recentemente um artigo do The Verge, e a omissão mais grave depois de pesquisar cientistas que são omitidos no Wikipedia, foi observar que 82% das biografias escritas são sobre homens.
Em um post no seu blog, conforme o site The Verge, John Bohannon, diretor da ciência da Primer, explica o desenvolvimento da ferramenta Quicksilver para ler 500 milhões de documentos originais, peneirar os números mais citados e depois escrever um artigo básico sobre o trabalho destes cientistas não citados no Wikipedia.
Dois exemplos de mulheres ilustres encontradas e para as quais foram escritas artigos em AI são o de Teresa Woodruff, uma cientista que projetou ovários para ratos com uso de impressoras 3D, foi citada pela revista Time em 2013, com uma das pessoas mais influentes no mundo científico, e outro caso é o de Jessica Wade, uma física do Imperial College London, que escreveu a nova entrada de Pineau.
Wade foi uma das cientistas que afirmou para a “Wikipedia é incrivelmente tendencioso, e a sub-representação das mulheres na ciência é particularmente ruim”, e elogiou o Quicksilver afirmando que com ele você pode encontrar rapidamente grande quantidade de informações muito rapidamente.
A Wikipedia terá que evoluir com ferramenta de Machine Learning, isto poderá acontecer nos próximos anos, o fato que existem ferramentas específicas para isto não invalida o Wikipedia, mostra que tem pontos fracos e devem ser corrigidos.
A vontade de poder e o sagrado
É fato que os conceitos de Nietzsche são fortes: em nossos instintos estão sempre presentes as ideias de vontade de poder, enquanto nada muda ficamos no eterno retorno (Ewige Wiederkehr) e nos imaginamos um super-homem (übermensch), porém isto é uma forma de esvaziamento, o niilismo.
Há outros instintos que nos ligam ao sagrado, a ideia de servir e o respeito ao outro (que são os limites para nossa vontade), e sem eles qualquer âmbito da nossa relação social podem cair naquilo que vou chamar de “niilismo social”, ou seja, o esvaziamento do pensamento social.
Limitados a vontade de poder, são apenas nossos instintos que falam, e as atitudes mesmo na política tornam-se emocionais, apaixonadas no mal sentido, é possível apaixonar-se pelo Bem.
Coloco o Bem em maiúsculo porque não deve ser confundido com o bem maniqueísta, ao imaginar que estamos lutando contra um “mal” muitas vezes simbólico (leia-se A simbólica do mal de Paul Ricoeur) voltamos em “eterno retorno” aos nossos instintos de poder e intolerância.
O ponto que Nietzsche tinha razão é que tais instintos existem, são eles que levam ao falso conceito de autoridade como mão de ferro, e estes levam a totalitarismos, mesmo na vida cotidiana, que esvaziam o sentido de educação, de serviço, o que chamo de “niilismo social”.
Ligado ao sagrado este conceito se purifica, pode tornar-se generosidade, benevolência e até mesmo uma virtude teologal que é a “caridade”, e sem este o “niilismo social” é um caminho.
É isto que faz mesmo pessoas com boa intenção cair na tentação da mosca azul, o poder pelo poder, mesmo os discípulos que caminharam ao lado de Jesus tiveram esta “tentação”, pedem a Jesus no teu reino: “deixa-nos sentar um a direita e outro a tua esquerda” (Mc, 10,37).
Jesus dirá que não sabem o que pedem, diríamos nos dias de hoje não sabem o que escolhem, a ideia de um poder forte que resolva questões sociais profundas, que dependem de uma nova visão de mundo, para sair do eterno retorno, dependem da mobilização da vontade popular e não de um poder central mais forte, é uma tentação também para quem defende o social.
Foi a ideia de um estado forte, conduzido por líderes com “carisma”, que levou o mundo a uma segunda guerra mundial, a sociedade em rede, e a rede são pessoas, precisa sair do seu “niilismo social”, saber que é preciso passar por sacrifícios para mudar, Jesus perguntou aos apóstolos que queriam sentar-se ao seu lado: “Podeis beber o cálice que vou beber?” Mc 10,38.
A grande mudança que necessitamos requer uma cidadania global e não um retorno ao tempo da “Riqueza das nações” de Adam Smith, ainda que o sentimento de nação e povo sejam bons.
Heidegger e o Poder
Embora possa se fazer uma especulação sobre a questão do poder no conceito de pre-sença que é uma resposta de Heidegger ao racionalismo, o ser-para-o-fim “não se origina primeiro de uma postura que, às vezes, acontece, mas pertence, de modo essencial, ao estar-lançado da presença, que na disposição (do humor) se desvela dessa ou daquela maneira.” (Heidegger, 2015, p. 327).
É a ideia que este ser-lançado, a presença “existe para seu fim” (idem), o para está destacado por que está na relação com o conceito para-si de Hegel, e através disto seria possível fazer a especulação do que é de fato a relação que Heidegger vê com o poder, a partir da presença.
O caminho que faremos é mais direto, porque Heidegger analisou diretamente esta questão, estudando a vontade de Poder em Nietzsche, e o eterno retorno que de modo indireto, já fizemos (post) a análise no eterno do estado e queremos aprofundar o conceito.
A afirmação que em nossos instintos estão sempre presentes as ideias de vontade de poder, eterno retorno (em alemão Ewige Wiederkehr) e super-homem (em alemão übermensch), e os dois últimos são conduzido pela vontade de poder, portanto sua categoria principal.
O ente para Nietzsche não é pensado como ser, mas como querer inerente à vontade, assim o ente que quer sempre a si mesmo de modo instável e insaciável é o que o torna, um ente metafísico do querer e não necessariamente do Ser.
Em Nietzsche é um “torna quem tu és” que vale e não o princípio socrático “conhece-te a ti mesmo” que é mais próximo do ser ontológico, e Heidegger vai propor o “confronto” que é a revisão da fundamentação originária do pensamento ocidental, em torno da essência e em sua necessidade, descrita assim: “se uma consideração mais originária sobre o ser deve se tornar necessária a partir de uma urgência histórica do homem ocidental, então esse pensamento s+o pode acontecer na confrontação com o primeiro começo do pensamento ocidental.
Essa confrontação se dá plenamente, “ela mesma permanece fechada em sua essência e necessidade, enquanto a grandeza, quer dizer, a simplicidade e a pureza da tonalidade afetiva fundamental do pensamento e a força do dizer adequado se recusarem para nós.” (Heidegger, 2015, p. 479).
Não por acaso, o brasileiro nietzschiano Oswaldo Giacóia Jr escreveu “Heidegger urgente: introdução a um novo pensar” (Três estrelas, 2013) que é um guia para leitura de Heidegger muito precisa, esclarece que Heidegger pretende reatar um pensamento ainda mais “radical e originário do que aquele que foi vivenciado na Grécia … “ (Giacóia Jr, 2013, p. 46), para corresponde à verdade do Ser como desvelamento (alétheia) diria ainda mais um retorno a sua essência.
Neste contexto o Ser, numa nova poiésis (a maneira criativa e infinita de pensar o Ser), deve antes de tudo a vontade de poder que está presente no messianismo e na mitologia de todo pensamento contemporâneo, fonte das bases autoritárias de fazer política e de sociedade.
O eterno retorno é o conceito mais frágil, não há a questão da consciência histórica nem do tempo, o que diferencia profundamente do circulo hermenêutico de Heidegger.
GIACÓIA JÚNIOR. Oswaldo. Heidegger urgente – Introdução a um novo pensar. S.P. Três Estrelas, 2013.
HEIDEGGER, M. Ser e tempo, 10a. edição, Trad. Revisada de Marcia Sá Cavalcante, Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015.
Morreu Paul Allen
Co-fundador com Bill Gates da Microsoft (foto), teve fortuna igualável e foi de fato o grande desenvolvedor da Microsoft, Bill Gates tinha trabalhado antes da Microsoft apenas numa versão da linguagem Basic, foi ele que sugeriu a compra do QDOS, sistema desenvolvido por Tim Paterson quando trabalha na Seattle Computer Products, de onde surgiu o MS DOS, cuja venda para a IBM é a origem do projeto milionário da Microsoft.
Paul Allen conhecia o sistema MVT da Xerox Palo Alto, que foi inspiração para as primeiras versões do Windows, mais tarde também investiram no Explorer numa versão fortemente competitiva com o Netscape, que desencadeou a chamada guerra dos navegadores Web.
Paul Gardner Allen criou uma fundação com seu nome em 1988 para administrar projetos filantrópicos, entre 1990 e 2014 doou mais de 500 milhões de dólares a mais de 1500 organizações sem fins lucrativos, a maioria destinada a projetos de tecnologia, artes e cultura, mas também uma significativa fatia para desenvolvimento social (cerca de 100 milhões de dólares).
Morreu ao 65 vítima de câncer em sua cidade Seattle, onde era dono do time de basquete.
O ser e o mundo
Heidegger criou uma escola filosófica ao criar uma visão de ser e de mundo, que retorna a uma questão básica essencial que a filosofia deixou escapar: existir e ser.
Mas a expressão ser no mundo, com grande influencia social e também psicológica, foi rapidamente consumida na banalização conceitual por ser aparentemente óbvia.
A expressão ser no mundo, que fez e faz escola no conhecimento psicológico e social, é daquelas que facilmente se prestam à banalização e a empobrecimentos, talvez mesmo pela sua abrangência e aparente obviedade.
O tema está no seu tratado Ser e Tempo (Sein und Zeit), de 1927, que tinha como tarefa recolocar a questão do “sentido do ser”, que foi esquecida pela metafísica tradicional ocidental a partir da modernidade, mas para ele também pelos antigos.
Isto aconteceu na modernidade por ter-se convertido o ser numa ontologia da substância, aquela que visualiza o ser em geral a partir da primazia da “coisa”, ou, dito de outro modo, que toma a “coisa”, como paradigma de representação para tudo o que “é”, pressuposto básico do que a filosofia objetivista traduziu como tudo que é objeto, reduzindo a metafísica e a visão da essência em “superstição”.
Assim para se alcançar a visão do ser é preciso em primeiro lugar, entender o que ée o ser do ente que recoloca a questão do ser (para Heidegger esquecida), ou seja o ser do homem, o dasein (deixo aqui propositalmente sem tradução).
Toda a primeira seção da obra é devotada a análise do dasein (daseinsanalyse), ou seja o desenvolvimento da estrutura do ser no mundo, com um horizonte fundamental para poder ser abordada a questão do ser em geral.
Estas estruturas ontológicas vistas na análise do dasein como: ocupação, disposição, compreensão, discurso, etc. não podem e não devem ser confundida com os seus correlatos ônticos ou empíricos (ah a prática!), elas são: afeto, desejo, conhecimento, linguagem, que na verdade são apenas fundamentação existencial.
A analítica existencial “está antes de toda psicologia, antropologia e, sobretudo, biológica” (Heidegger, 2015, p. 89), embora Paul Ricoeur observe que há uma antropologia filosófica “em função de sua abertura ontológica” (Tempo e Narrativa, 1994).
Heidegger, M. Ser e tempo, 10a. edição, Trad. Revisada de Marcia Sá Cavalcante, Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015.
Pode acontecer o impossível
Talvez seja o que mais podemos esperar quando estamos numa situação que não há para onde correr, deve haver uma saída, recorremos a física e a filosofia, talvez falte a teologia ou alguma forma de mistério acessível ao ser humano.
Um raciocínio que devemos fazer nestes casos é muito simples, se formos pelo caminho que já é conhecido teremos a mesma resposta, mas o novo não é necessariamente uma mudança de rota, pode ser, é o que pensamos nas eleições brasileiras, um eterno retorno ao mesmo.
O novo neste caso é uma relação nova entre a classe política e a sociedade, entre ricos e pobres, e em especial, fora do dogmatismo de cada corrente de pensamento, difícil muito difícil, os ressentimentos são sérios e as ofensas são graves, mutuamente graves.
Recorro a uma passagem bíblica, a do jovem rico que ao aproximar-se de Jesus diz que gostaria de ganhar a vida eterna e Jesus responde Mc 10, 19-20: “Tu conheces os mandamentos: não matarás (sic), não cometerás adultério (opa), não roubarás (corrupção não), não levantarás falso testemunho (fake news), não prejudicarás ninguém (negros, indios, lgbts), honra teu pai e tua mãe (não está escrito honra o estado)”, mas o jovem responde “Mestre tudo isso tenho observado desde a minha juventude”, mas ao propor que doe seus bens, ele vai embora.
Espera não terminou, exegetas e fundamentalistas ignoram o trecho seguinte, no qual até os apóstolos ficam assustados imaginando-se também ricos, e como o são os políticos de hoje, mas Jesus acrescenta: Mc 10, 27: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”.
Há então agora entendemos, está tudo aí, não ainda não, pois tanto o jovem rico quanto os apóstolos tem um “chamado” a uma mudança de rota, e o trecho final é o mais importante Mc 10,29-30 “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”.
Poder ganhar o mundo, podem ganhar as eleições, mas em paz com Deus e com a consciência é outra coisa.
Possibilidades do impossível
As dificuldades de ir além do futuro “possível”, dentro dos limites da visão de mundo e do imaginário popular coloca a história em limites quase intransponíveis, e um futuro logo ali na esquina que todos desejam: maior equilíbrio social, respeito a natureza, segurança, tolerância em diversos níveis, educação (em transformação é importante observar) parecem quase impossíveis, o resultado é um eterno retorno.
Voltam os velhos modelos de nacionalismo (o de nação e cultura nacional são importantes), de egoísmo económico e principalmente de divisão e violência política, ainda que apenas verbal.
A razão principal é a ignorância que os fatores comunicacionais, sociológicos e antropológicos mudaram, embora isto exploda nas ruas e manifestações o tempo todo, a saída de uma região de segurança (de conforto é relativo, pois o desconforto é geral) parece impossível.
Isto reflete no conjunto dos pensamentos, elaborações e discursos cotidianos, velhos chavões e retóricas estão de volta, mas será que nada mudou ? creio que já mudou, mas é preciso uma nova “visão de mundo”, um além do bem e do mal, não com Nietzsche preconizava um século e meio atrás, ele próprio disse a seu amigo Jacob Burkhardt: “Peço-lhe que leia este livro (se bem que ele diga as mesmas coisas que o meu Zaratustra, mas de uma forma diferente, muito diferente”, creio que diria hoje ainda mais.
Voltando agora 14 séculos, Santo Agostinho convertia-se deixando o maniqueísmo para aderir a um cristianismo hoje quase irreconhecível, ideológico de duas faces: instrumentalização de esquerda e fundamentalista de direita, creio que Jesus diria: “perdoai-os não sabem o que fazem”, contextualizado sim, pois os ataques são viscerais e literalmente violentos.
É possível uma síntese disto tudo, talvez já que recuamos de diversas formas ideologicamente a um marxismo que chega no máximo a escola de Frankfurt, de outro lado, ou um nacionalismo pré-cambriano, a síntese poderá vir depois desde se houver uma reflexão, agora não há.
Apagar incêndios, evitar um retorno a um autoritarismo sombrio, contornar falácias de fake news, tentar estabelecer um diálogo sobre propostas essenciais: segurança, educação e saúde.
Autocríticas, penso que são impossíveis para discursos messiânicos, é preciso olhar o planeta como um todo e refletir sobre este “eterno retorno”, ao meu ver não há modelos novos, não há pensamento “novo” (nenhuma alusão ao partido de news yuppies), não vejo pensamento novo, não vejo nenhuma nova “clareira”, apenas velhos discursos ideológicos e religiões que mataram Deus, que nada tem a ver com os que preconizam “armar-vos uns aos outros”.
Minha saída, retornar ao ser, em seu ente: o homem em sua persistente existência neste mundo, o ser-no-mundo com suas consequências e riscos.
Sustentabilidade e economia
Os ganhadores do prêmio Nobel de Economia: William Nordhaus da Universidade de Yale e Paul Romer da Universidade de Nova York, embora toda a imprensa esteja falando apenas do aspecto da sustentabilidade pelo clima, tem o lado da tecnologia como fundamental, Romer fez teses importantes nesta área.
Deixo os comentários sobre William Nordhaus sobre “Economics and Policy Issues in Climate Change” para economistas e ecologistas, não consigo avaliar o alcance do seu trabalho.
Romer ganhou principalmente pelo trabalho “Increasing Returns and Long run Growth”, pois o prêmio conjunto é justificado pelo aspecto da sustentabilidade, mas seu trabalho “Endogenous Technological Change” tem igual importância.
Só para se ter uma ideia, o artigo de tecnologia tem mais de 27 mil citações, pois a tese central que a tecnologia auxilia o desenvolvimento, contradiz a falácia que a tecnologia prejudica o desenvolvimento e ajuda a concentração de renda, contra isto trabalhou também Elinor Ostrom (a primeira mulher Nobel de Economia), Saskia Sassen e até mesmo o marxista Frederic Jamenson.
A definição necessita de conhecimento do Modelo de Crescimento Solow Grow (Jones, 1988), que indica que o progresso técnico exógeno, entenda-se de influência externa, assim como endógeno é aquilo que tem influência interna, isto é central, pois as análises são feitas de modo sistemicos.
Isto acontece por razões não explicadas no modelo, as técnicas de inovação endógenas de mudança atribuem progressos técnicos a esforços sistemáticos pelos agentes de economia, uma inovação claramente não é fator previsto num sistema.
O modelo de explica, por exemplo, quantas empresas poderiam começar a gastar recursos melhorando a tecnologia, em vez de simplesmente aumentar quantidades de recursos e capitais, pode-se pensar, mas a empresa vai demitir, não é assim.
Se os custos adicionais são apenas relativos a tecnologia eles podem e em geral são menores que os investimentos em passivos e pessoal, não se justificando diretamente as demissões, o que acontece é que a inovação desativa algumas funções, mas cria novas, muitas vezes em número igual ou até superior e com salários maiores pela especialização.
Para entender estes efeitos há um trabalho, o que li para este post, escrito com Luis A. Rivera-Batiz (pdf), intitulado. “International trade with endogenous technological change”, no qual usam dois setores fundamentais na industria: um setor de pesquisa e desenvolvimento que produz inovações, e outro, de manufatura que produz bens de consumo e capital físico.
Analisam o efeito de alocação, que refere-se a mudanças na produção setorial pela alocação de insumos básicos entre setores, como um modelo de países, justamente na contramão do que diz o pensamento de conservador de hoje, favorecer os insumos “dentro” dos países, também usado no Brasil ao nível de comércio que era favorecer o consumo interno, o modelo mostra que isto não é sustentável a longo prazo, por isto sustentabilidade a longo prazo.
Jones C (1998). Introduction to Economic Growth. W.W. Norton, 1998, 1rst Edition, 2002 Second Edition.