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Mesmice e outridade
Para desenvolvermos a ideia de outridade recorremos ao que Edgar Morin (2010, p. 192) chama de memento ou de modo mais simplista “lembrete” que é a maneira de trabalhar conceitos sem defini-los, que significa dar fim e não admitir a dinâmica de conceitos:
“O método da complexidade pede para pensarmos nos conceitos sem nunca dá-los por concluídos, para quebrarmos as esferas fechadas, para restabelecermos as articulações entre o que foi separado, para tentarmos compreender a multidimensionalidade, para pensarmos na singularidade com a localidade, com a temporalidade, para nunca esquecermos as totalidades integradoras.”
Mas ao fazer uma busca na web descobri que o termo já existe, definido por Landowski mais ou menos assim: “calculadas, homólogas ao afastamento que seus públicos mantêm. Frente ao Outro é preciso resguardar-se, diz o enunciador mapeador, qualificando-o de exótico, ao exibi-lo para o display, mas, em outros casos, é preciso ocultá-lo do holofote, deixá-lo nas margens; assim, ele pode ser assimilado, admitido ou segregado; em certos casos, será necessário inscrevê-lo como inimigo, excluindo-o.»
Embora seja confundido com alteridade (é até apresentado como sinônimo), dois aspectos do conceito (usando Morin, sempre inacabado) a ideia de exíbi-lo num display, tipica do mundo digital, e ainda a ideia de escondê-lo dos holofotes, que significa não proclamá-lo de modo bombastico ou dogmático.
O termo foi criado por especialistas franceses, a partir das propostas do investigador francês Eric Landowski (do Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS).
A mesmice já sabemos, repetições de conceitos e ideias que com o passar dos anos ficam descontextualizadas e portanto perdem a essencia de seu significado, mesmo que ditas de forma aparentemente criativa, são meras invencionices destituídas de realidade e vida.
Assim tornam-se vazias e dogmáticas, pouco a pouco perde-se o interesse por elas.
MORIN, E. Ciência com consciência. Trad. Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio dória, 14ª. Ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
Diálogos e criatividades
David Bohm é um dos raros autores a abordar com profundidade a questão da criatividade, e seu texto começa com um discurso absolutamente novo, aos menos para quem percorrer os caminhos da dialogia e da hermenêutica como eu, discordando da ideia que diálogo é dois logos, afirma o autor:
“um significado mais profundo para ela [a palavra diálogo] logos significa “a palavra” ou melhor “o significado da palavra”. E dia significa “através de”– não significando dois ou duplo -. Um diálogo pode se dar com qualquer número de pessoas, não apenas entre duas. Até mesmo uma pessoa sozinha, pode ter um sentido de diálogo consigo mesma, se o espírito do diálogo estiver presente.”
Dirá mais ainda no prefácio: “E o significado compartilhado assim criado, é a “cola” ou o “cimento” que mantêm as pessoas e a sociedade unidas”, é realmente interessante uma vez que rompe com o sentido quase inerente a palavra que é um “logos dual”, uma não abertura.
Quase que como uma conclusão, coloca em questão o inverso que seria a discussão:“Contraste isto com a palavra “discussão”, que tem a mesma raiz de percussão e concussão. Elas têm um significado de partir as coisas.”, encontro aqui um “diálogo” com a fenomenologia, pois está quer voltar as coisas por elas mesmas, faz sentido, dividimo-las em partes, não só duas mas inúmeras, um grande problema da modernidade: a fragmentação.
Afirma um dos mais profundos dualismos de nosso tempo, aquele entre ciência e religião: “Supõe-se que a ciência seja dedicada a descobrir os fatos e a verdade e que a religião seja dedicada a outro tipo de verdade e ao amor, mas o interesse próprio das pessoas e as pressuposições “assumem o comando” ”, claro não fala unilateralmente, mas de ambas.
Embora muitos afirmem não julgarem as pessoas, afirma o autor o que estamos fazendo: “parece que alguma coisa está acontecendo: parece que os pressupostos e as opiniões funcionam como programa de computador na mente das pessoas. E esses programas assumem o comando contra melhor das intenções. É como se eles produzissem suas próprias intenções “, os que criticam o mundo “lógico” da cibercultura, agem no dia a dia numa lógica como robôs sem criatividade alguma.
Tal como ocorre com a informação que pode ser tácita ou explicita, o autor explica o nosso pensamento cotidiano onde: “Tácito significa algo não falado, algo que não pode ser descrito por palavras – tal como o conhecimento tácito exigido para se andar de bicicleta”, diz-se que não se desaprende a andar de bicicleta, mas e quanto ao pensamento se for um vício ?
Se nós tivermos uma situação de pensamento implícito construída, o autor chama isto de coerente (considero de certa forma relativo), o que teríamos com o passar do tempo seria: “em um grupo que tenha mantido diálogo por um bom tempo, de forma que as pessoas tenham se feito conhecer umas as outras – iremos ter um movimento coerente de pensamento, um movimento coerente de comunicação.”
É só o começo do livro, mas é impossível falar em criatividade sem antes falar de diálogo.
BOHM, David. Sobre criatividade, São Paulo: UNESP, 2011.
Insegurança do hardware da Intel
O armazenamento de dados tinha 3 níveis: a memória externa (HDs), a memória do computador (as memórias RAMs) e as bem internas antes chamadas Register (ficam no chip) e hoje de memória de núcleo, ficam no núcleo do computador e são as mais rápidas, mas também podem ser janelas para roubo de dados, hoje há um quarto nível que é a externa armazena em nuvens, centro de computação espalhados pelo mundo que vendem estes armazenamentos.
Um erro de produção dos chips da Intel, que chegam a quase 90% dos chips de computadores pelo mundo (o dos smartphones são muito diferentes), acaba de ser pega numa falha de projeto que dá vulnerabilidade para os dados.
A AMD, concorrente da Intel, aproveitou para manifestar que sua memória de Kernel (as memórias do núcleo do computador) não são afetadas por ataques de hackers, e não permite acesso a senhas e outros dados sigilosos da máquina, através dos quais os dados de um computador podem ser roubados.
Segundo afirmou Paul Kocher, presidente da empresa de segurança Rambus, para o New York Times, o problema pode ser maior se o acesso foi em nuvens, onde grande partes dos dados hoje já estão sendo armazenados, isto porque o compartilhamento de máquinas (e com isto compartilhamento das memórias de núcleo) podem ser feitos, mesmo se considerando o protocolo de segurança que evita acesso aos outros níveis de memória.
Problemas de segurança com as gigantes Amazon, Microsoft e Google, além da fabricante de chips Intel poderão sacudir o mercado, além da AMD outras concorrentes orientais devem estar de olho, de nossa parte alertamos para o chave problema.
Globo de Ouro: estes são eles
É uma brincadeira com duas premiações: melhor ator de série drama: Sterling K. Brown (“This is us“) e melhor canção de filme: “This is me“, de “O rei do show”, uma premiação de consolo para um filme genial sobre o dono de um circo que fez sucesso nos EUA, esperava mais para este filme.
Desconhecido para muitos de nós, apesar da ganhadora de melhor atriz para minissérie ser Nicole Kidman (Batman Forever, The Others, Molin Rouge e outros), “Big little lies” deverá permanecer conhecida só numa restrita elite cult brasileira, poucos irão assistir ou se interessar, para a crítica americana foi a grande ganhadora do dia 07 último do “Globo de Ouro”.
Big little lies, ganhou também melhor ator coadjuvante, para Alexander Skarsgård, e atriz coadjuvante, para Laura Dern.
O crescimento das series na TV paga domina a indústria do cinema, posso entender o interesse dos jovens por youtubers e produções independentes.
No cinema o prêmio de melhor filme comédia ou musical (é a mesma coisa?) foi para “Lady Bird: é hora de voar”, venceu entre outros o meu favorito “O rei do show”.
Melhor diretor foi para Guillermo del Toro do filme: “A forma da água”, melhor ator coadjuvante para Sam Rockwell em “Três anúncios para um crime”, que ganhou também melhor filme drama.
O filme “Três anúncios para um crime” ganhou também o prêmio de melhor atriz para Frances McDormand, e que ganhou ainda melhor roteiro para filme com Martin McDonagh, pode-se dizer o segundo maior ganhador da noite.
Melhor ator filme drama foi para Gary Oldman “O destino de uma nação”, enquanto melhor ator comédia ou musical foi para James Franco em “Artita do desastre” derrotando da impecável atuação de Hugh Jackman em “O rei do show”, o Oscar talvez corrija isto.
Nenhuma novidade na premiação da animação “Viva: a vida é uma festa!” da Disney que comprou os estúdios da Pixar alguns anos atrás.
Sobrou pouca coisa para comentar, a atriz Oprah Winfrey recebeu o prêmio pelo conjunto da obra, trabalhou nos filme “A cor púrpura” (1985), “O mordomo da Casa Branca” (2013) e “Selma: uma luta pela igualdade” (2014), fez um discurso forte sobre a questões da igualdade feminina e dos negros (muitos vestidos eram negros em sinal de protesto), e Kirk Douglas, aos 101 anos foi homenageado ao lado da nora Catherine Zeta-Jones mulher de Mike Douglas.
A mensagem universal e a paroquial
Os estados modernos foram construídos sobre a égide do iluminismo e da cultura do liberalismo, que prega a liberdade entre as nações, mas esconde os interesses de grupos e millieus de cultura que não são outra coisa senão porta-vozes da cultura vigente.
Apesar da cultura dos estados se sobrepor a cultura dos povos que estão sobre sua tutela, independentemente dos estados existe uma rica diversidade cultural, na Europa isto pode ser visto pela diversidade de cultura e povos, após a queda do muro de Berlim, há pode-se dizer uma cultura da diversidade pós-queda do muro de Berlim, deem o nome que quiserem dar.
Os estados são a cultura paroquial, a ideia que todos os problemas estão circunscritos e são próprios daquele grupo estabelecido sobre a coação de um estado ou de uma força política e econômica que subjuga muitas vezes aquele povo que deseja viver sua “cultura”.
É o mesmo que aconteceu com o cristianismo, enquanto outras religiões monoteístas procuram se universalizar, ainda que subsistam correntes dentro delas os sunitas e xiitas, por exemplo, no mundo islâmico, a tendência “cultural” é de formar grupos isolados onde os gostos destes grupos ou destas pessoas não se expressam não de maneira integrada.
No cristianismo é um grande equívoco, a proposta vivenciada desde o nascimento de Jesus é universal, os ritos e a liturgia também, mas os sentimentos e grupos paroquiais estão lá, pela força da coação paroquial tentando se impor ao pensamento universal.
O fato narrado em Mateus para a liturgia no dia dos reis magos (amanhã), é simbólico, mas essencial (Mt 1,1-2): “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém” (1), perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (2).
Ora os reis magos, não se sabe exato sua “cultura” mas não eram nem judeus e menos ainda cristãos porque esta cultura acaba de nascer através de Jesus, e somente como um “abortivo” (assim o apóstolo vai chamar-se) a um judeu ortodoxo que vivenciará uma experiência única, e depois levará para “fora” do judaísmo a proposta de JESUS a todos povos.
Talvez sem Paulo esta cultura permaneceria paroquial como uma seita judaica, mas apesar de presente em muitos países continua paroquial, provinciana e muitas vezes, o que é absurdo, sem conexão com a cultura dos povos locais, os reis magos hoje não entrariam na paróquia.
A limitação coercitiva do estado-nação de um povo é o que o impede de integrar-se na cultura universal mundial, a riqueza de cada um não é observada e admirada, como fizeram os reis magos ao conhecer “o rei dos judeus” que havia nascido
O autoritarismo e o antropotécnico
A construção dos estados modernos, essencial para uma etapa da construção da civilização moderna, já dissemos no post anterior, fundamentado nos textos de Petr Sloterdijk “Ira e tempo”, porém será uma conferência feita no final de século (não por acaso), com o título “Regras para o parque humano”, feita em 17 de julho de 1999, em conferência dedicada a Heidegger e Lévinas, no castelo de Elmau na Baviera (foto), que a questão da antropotécnica, visão mais ampla que a sociotécnica e a biopolítica, atinge a maturidade.
Dois pontos destacam-se na leitura deste trabalho depois transformado em livro (Sloterdijk, 2000) em ambos também tive uma reação pessoal na primeira leitura, uma visão humanista totalmente original dos meios de comunicação, o segundo especial para os heideggerianos (minha primeira leitura pré-conceituosa não permitiu), que é uma visão sobre a “clareira” incorporando a história natural e social, mas intertendo a polaridade heideggeriana da dimensão ontológica sobre a ôntica (Sloterdijk, 1999, p. 61), o que parecia mais absurda mas não era, a dimensão ôntica precede a ontológica.
A polêmica na conferência entretanto foi a declaração da falência do humanismo em domesticar a animalidade humana, e ele se perguntou se uma reforma das qualidades da espécie não caminharia para uma “tecnologia antropológica, uma antropotécnica” (Sloterdijk, 2000, p. 45), o que é claro causou espanto e um burburinho na conferência.
A crítica da razão cínica, que parece se comprar mais ainda com a história recente: “o bolchevismo, o fascismo e o americanismo … “ são “três variações dessa mesma força antropocêntrica e três candidaturas a um domínio humanitariamente ornado do mundo – dentr as quais o fascismo errou o passo ao exibir, mais abertamente que seus concorrentes, seu desprezo por valores inibitórios pacíficos educacionais (idem, p. 31).
A ideia que o homem é um animal racional parecia verdadeira, a resposta existencial e ontológica, a clareira de Heidegger, para quem o Ser se apresenta e o Ser escolhe para sua guarda, a busca desta pacificação, almejada pelo humanismo (ele o coloca no singular por entender que é o mesmo), e esta “escuta” do Ser seria capaz de conduzir a uma pacificação do ser humano maior que a alcançada pelos métodos humanistas anteriores, o que inquietante para Sloterdijk é como se organizaria esta sociedade formando por ouvintes do Ser? Qual seria esta “clareira” nova.
Não temos a resposta pronta, a não ser que esta “escuta” não foi feita adequadamente, e talvez um método diferente da “ira” possa ser testado, ainda não o foi, chamaríamos isto não da inversão entre o ôntico e o ontológico, mas sua bivalência, há algo de “matter” que é mais que o ôntico, é mãe e matéria ao mesmo tempo.
As tecnologias que vão dominar 2018
Uma sem dúvida que está na ordem do dia, mas deve crescer até 2021, são as Realidades Virtual e Aumentada, com a diferença que a primeira é a criação de um ambiente totalmente virtual enquanto a segunda é uma inserção de virtualidades no ambiente real, o Pokemon Go, segunda versão dos monstrinhos cresceu em 2017.
As estimativas de grupos de pesquisa como o Gartner e TechCrunch, este mercado (RV e RA) vai movimentar mais de 100 bilhões de dólares até 2021, como o ano que vem é de Copa, o Japão por exemplos promete transmissões inéditas para 2022 no Quatar.
A internet das coisas vai aumentando suas possibilidades, quanto pensavamos que a tecnologia de redes 5G estivesse distante nos EUA já está em funcionamento em muitos lugares e poderá ser uma realidade no próximo ano, com isto a internet das coisas que depende desta transmissão eficiência poderá alcançar novos rumos como os sistemas de água, energia de baixo custo e sofisticados sistemas de controle de transito, entrando finalmente o IoT (Internet das Coisas) na vida das pessoas.
Outra preocupação, mas não sabemos se os sistemas se tornarão mais eficientes, são os sistemas de segurança este ano o WannaCry afetou sistemas de telefonia e o FedEX, entre outras, chegando a afetar mais de 150 países, há promessas para 2018.
A produção de dados chegou a 2.5 exabytes por dia (1 exabyte = 10^18 bytes), e a tecnologia do BigData veio para ficar, mas uma aliada importante na manipulação e tratamento destes dados deverá ser a Inteligência Artificial (foto visão de um cérebro poligonal), os agentes inteligentes que dominarão a Web 4.0 deverão aparecer este ano, mas a previsão para tornar-se realidade na Web é para 2020.
Impressora 3D e nanotecnologia já são realidade, mas devem avançar, assim como a realidade precoce da internet 5G, postamos no dia de ontem os aparelhos “novidades”, o smartphone conceitual e a câmera de 360 graus, na tecnologia as vezes de surpresa estas coisas bombam.
A tecnologia faz parte da história da humanidade, postaremos amanhã sobre o ano de 2017.
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O que ler no ano novo
Um dos livros na minha pilha de novas leitura é Sapiens – uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari, a edição original em inglês é de 2015, mas a edição em português que chega ao Brasil, pela editora de Porto Alegre LP & M, é de 2017 com tradução de Janaína Marcoantonio, só folheie até agora, mas já sinto o peso do livro como desde o capítulo inicial A revolução cognitiva, com o tópico um animal insignificante, até a Revolução Científica, com o primeiro tópico: a descoberta da ignorância.
Já pontuamos em diversos posts sobre a descoberta da Caverna de Chauvet, o livro abre A revolução cognitiva com uma mão humana nesta caverna de 30 mil anos atrás (foto ao lado), uma pintura o primeiro capítulo que já comecei a ler.
Quem quiser fazer um contraponto, um livro clássico (meu irmão me indicou) é o livro de H.G. Wells, ele recua até os primórdios do universo. Publicado em 1922, Uma breve história do mundo é um panorama sobre o planeta e a humanidade, desde o surgimento dos seres vivos, passando pela origem dos povos, das religiões, as grandes navegações, as guerras, a Revolução Industrial até chegar à Primeira Guerra Mundial, o livro é de 1922, e curiosamente também é da LP & M, as versões que se encontram a venda.
Vou para Portugal o ano que vem, ao menos quero ir (sim é a grana), lançado em novembro o livro de Ricardo Araújo Pereira: “Reaccionário com dois cês”, fala da onda conservadora em Portugal, mas acredito que deva falar também da Europa e do mundo todo, seu livro “A doença, o sofrimento e a morte entram num Bar” foi um pleno sucesso com 40 mil exemplares vendidos, este novo não deverá ser diferente.
Um livro que já li e vou reler, é a “Sociedade do Cansaço” do coreano-alemão Byung-Chul Han, num prisma totalmente novo ele traça o perfil de uma sociedade que não consegue por mais bens que produza levar o ser humano a uma maior felicidade e fala de uma ausência de sentido da vida, o final que a crítica não gosto é muito bom, vale a pena ler.
Falando em felicidade de Augusto Cury, mas desta vez com vários autores, o homem mais feliz da História – vários autores, não sei se ele vai comentar outros autores ou se vai inclui-los em sua reflexão, mas isto pouco importa, parece que o já consagrado autor chegou a maturidade na busca de um discurso coletivo, já está entre os mais vendidos no Brasil.
Entre estes quatro não há uma sequência, mas diria assim para os mais preocupados com a política, e eles tem razão, começaria pelo português Ricardo Araújo Pereira, e terminaria com Augusto Cury, para os preguiçosos terminaria com o Sapiens – uma breve história da humanidade, porque ele é denso e grande também, tem 448 páginas sem contar o índice.
Os preguiçosos podem ainda começar pelo livro do Byung-Chul que são apenas 128 páginas em formato pequeno (este que dá quase meio A4).
Claro que existem muitas outras leituras, mas se ler 4 livros por ano, no fim da vida será um pensador, vivendo em média 70 anos e descontados os 14 da adolescência, ainda que possamos ler livros infantis e para jovens, 56×4 = 224 livros, com certeza será um intelectual, tenham certeza que muitos doutores não leram isto a vida toda.
Linguagem, a palavra e o Natal
Fala, língua e linguagem podem parecer a mesma coisa mas não é, a fala refere-se a alocução de um enunciado, a língua ao que determinado povo fala, por exemplo, o português e o inglês são a língua da fala de quem as conhece, mas enquanto linguagens envolvem a complexa estrutura da comunicação humana, pois envolve também os signos e significantes em cada língua que podem ter diferenças.
O mais comum é claro, e aquele que todos nós fazemos no dia a dia é a fala, podem nem sempre ter a correção sintática de nossa língua, no caso brasileiro o português, mas de alguma forma procuramos nos fazer entender pelo outro.
A linguagem é algo mais complexo, tão complexo que os estudos e a forma no uso da linguagem, as palavras retomaram um sentido mais profundo, onde a palavra tem não apenas uma origem (a sua etimologia, que quer dizer estudo e origem das palavras), então a palavra tem um significado mais fundamental do que aquele que ela apresenta na fala.
Nominalistas e realistas divergiram em filosofia até o final da Idade Média, nenhum venceu porque venceu o idealismo que separa sujeito e objeto, a retomada da viragem linguística é também uma retomada do realismo, mas ambos ainda têm uma formulação incompleta, grande parte da literatura contemporânea oscila entre realismo e nominalismo.
O sentido completo da viragem linguística é aquele onde também a superação do dualismo sujeito e objeto ocorreu, os realistas defendem que são as causas materiais é que define o que é “real”, os nominalistas modernos subjetivistas defendem que o real é formulado pela mente então de certa forma se aproximam do idealismo, podemos citar entre estes desde Hobbes, chegando aos neopositivistas Rudolf Carnap e o linguístico Ludwig Wittegenstein.
Sua origem é importante também para a teologia onde João Roscelino (falecido em 1120), que apesar dos equívocos foi mestre do grande Abelardo, criou um nominalismo que colocou em dúvida o dogma trinitário de Deus, não por acaso, porque todo dualismo está fundamentado no princípio idealista: o ser é e o não ser não é, sem terceira hipótese.
Pode-se fazer uma ligação interessante como o Natal, se pensamos na figura de Maria, ícone para católicos e ortodoxos, e algumas igrejas orientais, e a Palavra de fez Carne.
É véspera de Natal e é interessante rever o pensamento de Maria ao dizer no evangelho de Lucas (Lc, 1, 38): “Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!”, e o anjo retirou-se, quer dizer que Maria aceitou que de alguma forma A PALAVRA divina se realizaria ela de forma única e definitiva, claro no menino Jesus que nasceu, mas há algo escondido nesta etimologia porque palavra o judeu é também realização da “Palavra” tinha o significado da viragem linguística dos dias de hoje, claro no sentido bíblico, que significa colocar A Palavra no sentido correto da tradição judaica, e no caso de Maria a tradição cristã.
Pode-se dizer então que Maria era toda “revestida” da Palavra, significando que o Verbo Divino se realizaria plenamente na sua pessoa, a partir da concepção, significa que ela como criatura realizou as escrituras na correção linguística e de vida, então olhar para a vida dela significa ler o Livro Divino de modo particular, de uma vida de criatura na qual o verbo se fez carne, em suma, se realizou, se encarnou e de modo pleno.
Encontrar as veredas e aplainar os caminhos
O profeta Isaias era chamado de profeta da consolação porque ele estimulava o povo hebreu dizem que uma nova vereda seria aberta, e foi ele antes de João Batista que mais explicou o “advento” do nascimento de Jesus e até mesmo do último profeta que foi João Batista.
Ao dizer “Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas” (Lc 3,4) tem um pouco de diferença do evangelho de ‘Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’- conforme disse o profeta Isaías. (Jo 1,23), porque veredas, que são caminhos “escondidos” ou no dizer da filosofia que devem ser “desvelados”, embora na verdade, já existam sinais na realidade não são fáceis de serem encontrados, então veredas.
João Batista ao anunciar a vida pública de Jesus, sendo que ambos passaram pelo deserto, Jesus também caminhou 40 dias pelo deserto, encontrou dificuldades, as tentações mais cruéis, mas depois saiu para a vida pública, sabendo que teria que dizer verdades e ser de fato um novo “advento”.
A mística cristã Chiara Lubich, em uma de suas palavras de vida (escrevi-as mensalmente), escreveu em dezembro de 1982:”Cada um de nós é chamado a preparar o caminho para Jesus que deseja entrar na nossa vida. É preciso então, aplainar as veredas da nossa existência para que ele possa vir habitar em nós … eliminando todos os obstáculos: aqueles colocados pelo nosso limitado modo de viver, pela nossa vontade fraca.”
Encontrar veredas exige um olhar atento, de início parecem atalhos, as vezes difíceis e pouco promissores, mas nos levam ao novo, ao “advento”, o que está por vir é sempre novo e pode nos trazer a verdadeira paz, aquela que não se compra e que pode parecer distante, em geral está ali em uma vereda.