Bolhas, nossos círculos fechados
Se diversos autores, como Paul Ricoeur e Emmanuel Levinas falam sobre a questão do Outro como emergencial e existencial para nosso tempo, a mudança que está em processo, deve nos tirar das bolhas, os círculos fechados nos quais nos metemos.
A pergunta essencial que fez Martin Buber, em o Eu e o Tu, e o Tu aqui é algo mais sagrado que o Outro, é também a pergunta que faz em Esferas I Peter Sloterdijk, onde diz que as crianças parecem nascer com uma espécie de “instinto de relações”? ele vai desenvolvendo ao longo do livro a ideia que não nascemos sozinhos e, deveríamos então através de trabalho cooperativo e da linguagem nos socializamos, e fazer brotar este instinto interior.
Sloterdijk rejeita o princípio liberal, idealista e de origem cartesiana onde indivíduo isolado busca sua razão existencial, ele parte de uma ontologia onde o primitivo é sempre Dois.
Mas não é idealista ao ponto de dizer que este dois é fundido, poderíamos dizer usando o conceito de Gadamer que ainda não é a fusão de horizontes, o indivíduo que sai da placenta e esta é morta, sai da sua bolha primordial, e vai se encontrar de certa forma separado.
O mundo pré-moderno tinha um modelo para que esta separação não fosse total, permanecendo a subjetividade ou intimidade, alguns povos plantavam a placenta com as árvores outros, como os egípcios faziam travesseiros como no caso dos faraós para serem enterrados com eles.
Somos vistos na autossuficiência do modelo liberal, mas também este modelo é criticado, por exemplo, Rousseau, que buscou uma vida isolada do não pensar, como na experiência do lago, em seu escrito dos Devaneios do caminhante solitário, compatível como seu modelo do homem do bom selvagem, em que se inspiram muitas democracias modernas.
Também a esperança de reconquistar uma “vontade geral”, um estado mais forte, onde se proclame uma espécie de “religião nacional” que eclodem nos nacionais em todo o planeta, não são senão uma visão contemporânea, de uma autossuficiente das “bolhas” de diversos tipos de fechamento social em “comunidades”, mas com um princípio egoísta dentro