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Compreensão e Hermenêutica

09 nov

A compreensão leva a sabedoria e certamente sabedoria é o oposto deahermeneuticaDilthey ignorância, mas é possível uma sabedoria que brote da tradição e da vivência sábia, porém mesmo estas deverão ter presentes interlocutores que mergulharam em pensamentos e reflexões de outros, e que estes leram em algum lugar a tradição e os problemas da humanidade.
A ideia que apenas em um livro exista toda sabedoria é refutada até mesmo pelo filósofo cristão Tomás de Aquino com sua famosa máxima; “desconfie do homem de um livro só”, também Marx foi ler a economia “capitalista” de Adam Smith e Ricardo para escrever seu famoso “O capital”, mas é preciso dizer que poucos leem a Bíblia, o Capital, ou qualquer outro livro de referência básica ao pensamento de “tradição” que afirmam ter.
Edmund Husserl, Martin Heidegger, Hans-Georg Gadamer, Emmanuel Lévinas, Paul Ricoeur, Edgar Morin e muitos outros atestam que há uma crise no pensamento, ao menos no pensamento ocidental, pois há pouca leitura e aprofundamento no pensamento do mundo árabe e do oriental, o africano é quase incógnito.
Outra ideia é a de reduzir a cultura a ideologias, sendo que o exercício delas é na maioria das vezes submeter as culturas ao seu esquema de pensamento, Paul Ricoeur escreveu “a ideologia é esse menosprezo que nos faz tomar a imagem pelo real, o reflexo pelo original” (Ricoeur, 2013, pag. 84) e esta talvez seja o maior confucionismo de nosso tempo.
Sabedoria envolve compreensão, e a hermenêutica é a ciência da compreensão, porque envolve interpretação, superação de pré-conceitos, compreensão e diálogo e revisão d conceitos, o assim chamado círculo hermenêutico, cuja elucidação é feita por Gadamer.
Ainda que Gadamer o veja como preso a um historicismo romântico, Dilthey identificou três classes de compreensão: a primeira que ele chama de “juízos e as formações do pensamento maiores”, relacionada a ciência que inclui tanto as naturais como as ciências humanas, são exemplos um livro texto de biologia ou de matemática, mas também pode incluir conceitos como gravidade e outros presentes no senso comum; o segundo é a experiência vivida e são estas que levam as ações mas deveriam passar pelas primeiras, chama isto de nexo vital.
Exprime sobre a segunda como “tirando a elucidação de como uma situação, um propósito, um meio e um nexo vital se interseccionam numa ação, ela não permite nenhuma determinação inclusiva da vida externa da qual surgiu”.
A terceira a mais essencial são as expressões da experiência vivida, dita assim por Dilthey: “Uma expressão da experiência vivida pode conter mais nexo de vida psíquica do que qualquer introspecção pode perceber”, assim em parte ocorre devido a aspecto da compreensão que ainda não se percebe, penetrar nisto leva a um círculo hermenêutico voltando a juízos e formações maiores, embora Dilthey não tenha formulado assim, seria o círculo hermenêutico.
DILTHEY, W. Obras escolhidas – vol. 3 A fundação do mundo histórico nas ciências humanas, 2002.
RICOEUR, P. Hermenêutica and Ideologias, 3ª. Edition, São Paulo: Vozes, 2013.

 

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