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O caminho de Emaús: da inteligência ao coração

24 abr

A parte 2 de Como Viver em tempo de crise, é escrita por Patrick Viveret e além de um olhar de admiração pela obra de Morin, o coautor, ele tem um olhar ainda mais generoso sobre a humanidade, apesar da pergunta grave do título do capítulo: O que faremos com a nossa vida?.
Viveret vai ligar a sabedoria ao amor, citando Martin Luther King: “Devemos nos preparar para viver como irmãos e irmãs, ou nos preparar para morrer como imbecis” (p. 55), e a completa com a inteligência emocional “coletiva” (é um diferencial importante) que é não é psicologismo.
O autor afirma “se não tratarmos a relação entre razão e coração, das razões do coração de que falava Pascal, a inteligência puramente mental, a famosa ciência sem consciência que não passa de ´ruína da alma’ como dizia Rebelais, pode construir piores monstruosidades” (pag. 55-56).
Afirmava sobre a crise anterior o que é muito mais próprio para a crise atual: “a humanidade corre o risco de acabar prematuramente com sua própria história, mas também pode aproveitar esse momento crucial para viver um salto qualitativo. “(p. 56)
Não podemos olhar para milhões de mortes e dizer, ainda bem que não foi comigo, ou um pouco mais humanamente, não podemos nem chorar os entes perdidos.
Números desfilam friamente sem que autoridades se toquem, serão provavelmente 3 mil mortos no pico da curva em São Paulo, mas podemos pensar em abrir o comércio aos poucos.

Em Wuhan onde a crise começou esperaram não ter nenhuma morte para abrir, mas aqui pensamos que não há como salvar vidas, dizem o custo econômico pode ser alto, mas quanto custa uma vida ? E a imprudência poderá custar mais ainda.
A crise pode ser pior que imaginamos, ontem alguns pacientes de Wuhan voltaram a dar positivo no teste, penso que não sairemos desta crise se não dermos aquilo que Morin disse e Viveret reafirmou: “Só poderemos chegar a isso se enfrentarmos a questão da barbárie interior” (p. 57), aquilo que Peter Sloterijk usou como metáfora falando de co-imunidade, é agora uma personificação, estamos prontos a ajudar o Outro para proteger a nós mesmos ?
Precisamos produzir riquezas mesmo que isto custe vidas, e antes não era exatamente uma parábola e, no entanto, foi assim que aconteceu na história, mas agora é exatamente uma personificação, (figura de linguagem como parábolas e metonímias) que significa dar ao que era “objeto” o atributo do Ser.
A passagem bíblica que Jesus usa a personificação é o caminho de Emaús, quando caminha a noite inteira aparentemente falando metáforas, e estes só descobrirão a personificação ouvindo o coração que finalmenre lhes despertou a inteligência (Lc 24,31-33): “Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos com os outros”, a cegueira fora superada.
Não se trata de uma apologia da religião, apenas pensar que muitas vezes não ouvimos o que nos é dito da maneira mais clara possível, porque a nossa inteligência não está ligada ao coração e vice-versa.

 

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