A posição do poder e a simetria
Conforme elaboramos no post anterior, o poder é sempre uma posição hierárquica e assim a decisão final e os instrumentos de opressão estão as posições somente daqueles que ocupam os postos maiores na hierarquia e o que resta a base da pirâmide é a rebeldia ou a resignação.
Se o poder é necessário cabe a quem está no posto exercê-lo com discernimento e generosidade, o ideal era que de fato estivessem a serviço, mas salvo raras exceções, a maioria serve-se do posto, e de modo geral a eles todos aqueles que sofismam com o poder.
O modelo platônico e aristotélico supôs que a polis poderia ser governada por aqueles que eram bem preparados e para isto criaram instrumentos de formação do cidadão da polis, por excelência, o político.
A evolução deste modelo chegou ao iluminismo, e praticamente todos modelos atuais (há algumas exceções na África e em países da Ásia) este é o modelo de poder da maioria das nações, pela força, pelo voto ou por aquilo que Byung Chul Han chamou de psicopolítica, iludindo os povos.
Mas é importante lembrar que existe o poder disseminado por toda a estrutura social, e também que existem as redes (podem ou não usarem mídias) e através delas cada um pode exercer sua ação para um mundo melhor, mais simétrico e com maior reciprocidade entre os co-cidadãos.
Sloterdijk criou o modelo da co-imunidade, mas elas pressupõem que sempre algum “mal” impera, algo como o “mal estar da humanidade” o que aqui chamamos de crise civilizatória, a ausência de um modelo real para se contrapor aos modelos ditatoriais vigentes ou em escala crescente, há uma volta ás crises do início do século, justamente por não haver se oposto a raiz do modelo: o iluminista e o idealista.
As razões econômicas são consequências e não raiz destes modelos, como pretendia Edgar Morin ao enfatizar que não há como mudar sem mudar a raiz do pensamento, também Heidegger afirma que abandonar a revolução do pensamento é não permitir uma mudança real na sociedade, e que é no fundo a razão pela qual voltamos as teses anteriores a primeira guerra, ou seja, repetimos a história.
A simetria, a reciprocidade, a compreensão da diversidade humana e o respeito a ela quase sempre é ignorada pelos modelos do início do século passado, voltar a eles não é senão prenuncio de uma tragédia maior: a crise civilizatória de raízes mais profundas que as anteriores.
Quem sofrerá mais será a base da pirâmide do poder, porém o volume de poder bélico pode levar a uma catástrofe humanitária sem precedentes, só a solidariedade, a fraternidade e a reciprocidade podem evitar e redirecionar esta crise.