Posts Tagged ‘diálogo’
O Ser, a interpretação e o diálogo
O conceito essencial da hermenêutica filosófica desenvolvida por Hans-Georg Gadamer critica o modelo do conhecimento tanto da interpretação histórica romântica, que visa apenas criticar ou aderir a uma reconstrução da intenção do autor (ela é feita principalmente relativa ao texto) e tem função tanto normativa quando teológica, quando olha-se para o Ser enquanto linguagem.
Assim corresponde à uma exigência de sentido do texto, aceita o vínculo com seu conteúdo, não visa explicitar o tema ou o conteúdo de um texto, aceita o caráter vinculativo do conteúdo, ou seja, tem uma orientação essencial ao modo humano de habitar o mundo, vinculante a cultura.
Compreender é nesta perspectiva aplicar, não de modo mecânico ou lógico (no sentido dual), e sim traduzir o texto para a própria linguagem da sua situação concreta, em sua totalidade.
Compreender é assim antes de tudo o ato compreendido, aplicado àquela situação ou aquele algo e assim nada tem a ver com um fazer e um saber técnico, ou seja, este última nada acrescenta ao modo de ser e á situação do intérprete, que é mera habilidade automática e causa-efeito.
Deve-se colocar em jogo então as regras dos preconceitos próprios, abrindo o diálogo que por eles são proporcionados, ocorre assim uma fusão de horizontes, depois em novo passo de ouvir o texto, e só então é possível aplicar um sentido ao texto e interrogar-se.
Neste contexto o diálogo é possível, senão há um fechamento dogmático sem a capacidade de ouvir o Outro além dos pré-conceitos e das intencionalidades dos leitores e/ou autores.
É preciso acentuar a necessidade de mediação que se faz através de ideários comuns que são transmitidos pela tradição histórica ou literária, para Gadamer, tal mediação é que faz pensar e transmitir práticas de relacionamento e de comunicação, e sem elas há dificuldade de diálogo.
A fenomenologia como método para o diálogo
A fenomenologia é essencial para um verdadeiro diálogo porque ela pressupõe um partir do zero, dito de forma filosófica, pressupõe um epoché (uma suspensão de juízo no sentido grego) porém a epoché fenomenológica é um colocar entre parêntesis, isto é, admite o diálogo com a tradição ou com o leitor ou interpretante do texto.
Ela surgiu como método em contraposição ao pensamento positivista, através dos estudos de Edmund Husserl (1859-1938), e como método de investigação filosófico vai captar a essência e o significado de determinada coisa, dito por Husserl: “não há consciência, apenas consciência de algo”, e isto vem de uma subcategoria que é a intencionalidade, Franz Brentano e Tomás de Aquino havia trabalho isto porém apenas com sentido psicológico ou mental.
Dito por Husserl ela é: “a descrição daquilo que aparece ou ciência que tem como objetivo ou projeto essa descrição”, assim parte da ideia que projetamos nossa intencionalidade ao descrever.
Heidegger vai colocá-la retomando a ontologia agora num plano diferente do psicológico e colocando-a como um método: “a expressão ‘fenomenologia’ significa, antes de tudo, um conceito de método”, neste sentido será também uma ruptura com o idealismo e o racionalismo tradicional.
“Uma das contribuições da fenomenologia para a filosofia está no modo de tratamento de juízos e significados. Martín Heidegger não separa a razão da emoção, nem o sujeito do objeto”.
A questão da existência do Ser volta-se para a preocupação com o modo de vivência humana, ou nossos pré-conceitos ou ainda nossas racionalizações, ela não pode isolar-se do relacionamento com o mundo e com os Outros, toda filosofia contemporânea busca um modo de Ser coisificado, isolado, seja objetivo ou subjetivo, pois também no campo da poética, da subjetividade e da religião este desvio é observado.
O Ser deve representar uma presença, um manifesto, ou uma relação com o Outro, e uma exigência é a simetria desta relação, onde cada um é capaz de fazer um “vazio” para conter o Outro, um epoché de seus pré-conceitos, sem o qual não há diálogo.
Uma primeira vista sobre este diálogo, está o círculo hermenêutico proposto na figura acima.