Arquivo para novembro 25th, 2020
O infinito como complemento escatológico
Toda escatologia deve princípio e fim (ou é finitista), é um engano imaginá-la apenas com o que vai acontecer no final dos tempos, o apocalipse cristão ou al-dain dos islâmicos, que não está no alcorão, mas nos ditados atribuídos ao profeta Maomé, ela deve ser pensada em processo.
Na filosofia a ideia do infinito permeia a escatologia que chamo de completa pelo fato que admite um fim como aquilo que Lévinas escreveu em Totalidade e Infinito como o desejo metafísico de tender para a coisa totalmente outra, o absolutamente outro, note-se que não é Deus, pois não é teologia, porém a mudança que é possível para um outro estado metafísico, afinal o subtítulo do livro é “Essai sur l´extériorité”, e a exterioridade tem aí algo essencial.
Para Lévinas a ideia do infinito é aquela que remete ao diferente e o distinto, diz Enrique Dussel que Lévinas ao dizer de diferente e distinto, afirma que o diferente se dá na Totalidade e o distinto se dá na Proximidade, fora disto permanecemos no idealismo puro da transcendência do Sujeito para o Objeto.
Nas palavras de Lévinas: “O desejo metafísico tende para coisa totalmente outra, para o absolutamente outro… Na base do desejo comumente interpretado encontrar-se-ia a necessidade (bésoin): o desejo marcaria um ser indigente e incompleto ou decaído de sua grandeza passada. Coincidiria com a consciência do que foi perdido.”, seu fim escatológico é este então, o ser decaído de sua grandeza passada e com consciência do que foi perdido.
Nisto reside também sua ética, afinal para Lévinas ela tem o nome de metafísica porque se refere à transcendência de outrem, que não é meramente física e o indicativo dessa transcendência é a ideia do infinito, aquele que se dá no face a face, que é portanto o distinto encontrado na Proximidade.
É esta proximidade do “face a face” que é primordial em Lévinas, é ela a experiência originária do inter-humano, aqui relaciono-a com o originário cultural onde há identidade do inter-humano, ou seja de um humano a posteriori em função de um a priori, é neste sentido que considero culturas originárias.
A experiência originária é aquela da proximidade ética de alguém, de uma relação sem máscara, e assim antropologia e ontologia se encontram, no dizer de Lévinas (sei que o ponto de vista é diferente) “a moral não é um ramo da filosofia, mas a filosofia primeira”, assim seria uma civilização equilibrada.
A relação com o ser-para-a-morte que vejo com este infinito, é que não se pensa a partir do finito, assim como a morte não pela negação da vida, isto era para Kant para quem a noção de infinito se opõe como um ideal da razão, Hegel modificou porém colocou a positividade do infinito, exclui a diversidade.
O infinito é diverso porque parte do Outrem, da outra coisa, e também o totalmente outro, por isso sua escatologia é completa, o ser-para-a-morte e o infinito se fundem (claro nem Heidegger nem Lévinas o dizem) porque estão no além si-mesmo e no além vida contendo-a inteiramente.