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O Justo e um terceiro

22 set

Citamos no post anterior que a justiça depende de um terceiro,aTerceiro mas quem seria este ?
Para Lévinas eis a raiz ética da obediência ao direito: “o esquecimento de si mesmo move a justiça” (LEVINAS, 1978, p. 199).
Não se trata no caso dele, de adequar o direito a uma Razão Universal como queria Hegel, mesmo assumindo o conflito no interior do sistema, aquilo que os iluministas modernos definiram como a guerra de todos contra todos, mas porque no caso de Lévinas o Estado Justo pode nascer apenas se tiver a preocupação “de um contra todos” (idem).
Assim a única universalidade admitida por Lévinas, é a racionalidade da razão impessoal ou do direito, que é a da responsabilidade, esquecida na luta política hoje.
Nela está presente um eu, aquele que tem uma ânsia pelo seu destino, integridade e “salvação”: não diretamente, no seu individualismo egoísta e caprichoso, mas em relação ao outro, a si mesmo, que é também outro para os outros, ao homem na sua totalidade (Ibidem, p. 201).  Deve se observar que em relação a “salvação” e “vida cotidiana” não se trata de uma “traição em relação ao nosso destino metafísico”.
Também outro ponto de vista que pode parecer “anárquico” não é este proveniente de mim, de um para o outro, seja ela a fonte que for além da ética, a obediência ao direito, se visto como indispensável para relação ao terceiro, àquele que apela ao próximo face-a-face, mas vendo neste terceiro a humanidade.
Não apenas o presente, mas também o futuro da humanidade, cuja responsabilidade compromete-se a oferecer uma sociedade menos injusta, seja qual for aquela onde é possível viver a paz e todos tem direitos básicos garantidos.
O nosso direito positivo é quantitativo e qualitativo, por isso é difícil entender a justiça como aquela proposta em textos espirituais, como o Bíblico, o pagamento do operário da última hora, o ladrão salvo na cruz, o chamado de Mateus cobrador de impostos.
É justamente Mateus quem relata a palavra do administrador da vinha que contrata trabalhadores na última hora do dia e paga a ele a mesma moeda de prata que paga aos que trabalharam o dia todo, e um destes ao reclamar recebe a resposta: Mateus 13-14: “Então o patrão disse a um deles: ‘Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti.”, o que pode parecer injusto,  mas não o é.
O terceiro que é o Justo entre dois ou mais, aqueles que se põe de acordo e colocam a vida em comum, são outros que podem admitir um terceiro, como diria Sócrates: “a verdade não está com os homens, mas entre os homens”, e se ela é um ser é ontológica.
Quanto mais avançamos na lógica do Outro, menos seremos injustos com o diferente e admitimos um terceiro além do Mesmo e do Outro.

 

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