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O que é o meio divino
Em tempos de crise profetas, oráculos, “sábios” de Platão e todo tipo de falsa sabedoria vem a tona, como é importante e muitos buscam um sinal “divino”, vale a questão o que é o meio “divino” para os que não creem e para os que buscam na fé um motivo para ter esperança.
Para quem crê, cabe bem a passagem de João 3:13-1: “Se não acreditais, quando vos falo das coisas da terra, como acreditareis se vos falar das coisas do céu? E ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”.
As “coisas da terra” assim não estão então tão distantes, afirma a leitura ninguém subiu ao céu, exceto aquele que desceu, o Jesus filho de Deus e aos que não acreditam o Jesus terreno, homem histórico, que depois foi levantado numa cruz, para finalmente re-aparecer ressuscitado.
Voltemos a terra, explicando justamente o Meio Divino (Chardin, s/d), Chardin que escreveu: “no seu esforço em direção à vida mística, os Homens cederam muitas vezes à ilusão de oporem brutalmente o espírito e a carne, o corpo e a alma, como se tratasse do Bem e do Mal. Apesar de certas expressões correntse, esta tendência maniqueísta nunca foi aprovada pela igreja… “ (p. 117).
Assim entender a complexificação da vida humana, a concentração em grandes centros urbanos, a agitação, o excesso de ruído e principalmente a visão meramente econômica da vida levaram ao pensamento “natural” do idealismo, da visão puramente econômica e da onipotência do estado.
Assim olhai as coisas do alto, não significa “sair do mundo”, ainda que haja ordens puramente contemplativas e sejam sérias, ao falar da Cruz, Chardin mostra que “todo homem persuadido de que perante a imensa agitação humana [escreve isto na década de 30 já o dissemos] abre caminho em direção a uma saída, e que este caminho é subir” (p. 113), o destaque é do autor.
Aponta este caminho de subir, a escolha de princípios fundamentais, neste caso é a vida, e estão entre corajosos que triunfarão afirma o autor, e os zombadores que fracassam, pois não se elevam nem mesmo na vida concreta.
Assim o autor afirmará a realidade do Cristo histórico, que nos mostra como uma vida “no mundo” pode ser uma subida mística e concreta, “a apaixonante e insondável realidade do Cristo histórico” da qual tiramos muitos exemplos, e assim é a vida humana de um Ser Divino.
Assim, em tempos de pandemia, não só o gesto de se prevenir usando as condições de higiene, como os gestos sociais de auxílio aos que não tem emprego e aos idosos e familiares de contaminados pelo covid-19, assim como ajuda na família são exemplos de vida divina concreta.
E meio nesta noite de crise deixam sua lição de Amor mais profunda, dar sua Vida pelos homens.
A eclipse de Deus e a pandemia
Martin Buber, que era judeu, dá o nome ao seu livro “A eclipse de Deus” (1952), pois para alguém que acredita, e se crê Deus não está morto, porém inegavelmente algum véu “sólido” o eclipsou na modernidade, que o faz parece em “dissolução”, conforme afirma Buber.
Concordo e é sempre minha análise, que a incompreensão da conjuntura do pensamento atual, já falamos da noite do pensamento nesta semana, Buber também afirma que foi a emergência do pensamento Idealista de Kant que afirma que “Deus não é uma substância exterior, mas apenas uma relação moral em nós”, e Hegel que vê Deus como uma abstração.
Entretanto a síntese hegeliana é tão poderosa, é o ápice do idealismo para diversas leituras que se pode fazer dele, a sua abstração vai confundir o trinitário divino, com uma “abstração absoluta”, usando as categorias em-si, de-si e para-si, onde o “para” não é um além, mas um voltar a si.
Não excluo duas vertentes fora deste contexto, porém o hegelianismo “jovem” de Marx encontrou Feuerbach, também a necessidade de negação do absoluto, e partindo da teologia atéia de Feuerbach (de certa forma também kantiana), o idealismo religioso de Steiner, Bruno Bauer e outros, que os chama de “são” Bruno, Steiner, etc.
O ‘Deus está morto’ de Nietzsche, é decorrente justamente de sua formação fideísta e fundamentalista, vindo de família luterana tentará negá-lo (a Deus) por toda sua vida, porém é importante lê-lo porque desvenda aquilo que chama muita gente a uma fé fundamentalista e pouco “substancial”, isto é desligada da realidade.
Chegamos ao fundo do posso no existencialismo moderno, e a crise pandêmica nos leva de volta a ele, a busca de uma razão para a existência, que procura saber se a insistência na “necessidade religiosa” não aponta algo inerente a natureza humana.
Este é o problema que “atormenta” Buber, que escreveu também Eu Tu onde ele praticamente afirma a existência de um Deus horizontal presente na relação humana, não sendo cristão é curioso pois descobre aquele que está “entre dois ou mais que estão em meu nome” (Mt 18,20), como uma relação com Deus, para os cristão é Jesus.
O problema central, que é o a Trindade, Deus pai, Jesus e o Espírito Santo, não será tratado por Buber, mas ao comentar o existencialismo de Sartre, como parte da crise existencial da modernidade, afirma: “Será que o existir, como o entende Sartre, não significa realmente estar aí ‘para si’, encapsulado em sua subjetividade, ou será que significa estar aí perante determinado X – não um X qualquer, ao qual se devesse atribuir determinada grandeza, mas o X por excelência, o indeterminável e perscrutável?“, questiona Buber.
O problema existencial é que sem o Deus “substancial” e ele existe se acreditamos que Jesus é Deus não é separável do Deus trino, e a fé é inseparável deste “meio Divino”.
A crise cultural e a pandemia
A segunda grande cegueira da crise do ocidente é a cultura, o livro Qualquer Coisa Serve de Theodore Dalrymple, pseudônimo de Anthony Daniels, psiquiatra inglês que tratou de presos perigosos, é uma antologia de contos escritos de 2006 a 2009, e chamou seus estudos de declinologia (veja o vídeo abaixo) porém no livro citado há belas passagens de como ler uma cultura.
Desde os primórdios da cultura humana, a descoberta da Caverna de Chauvet (datada de 32 mil a.C.) prova isto, o homem constrói e registra sua cultura, e aqui um paralelo com o #StayAtHome esta é feita numa caverna, provavelmente local de encontro e proteção de famílias.
Pode parecer demasiado o termo usado por Peter Sloterdijk, mas a domesticação humana não é outra coisa que não a estruturação da vida “doméstica”, e também a origem grega da palavra oikos-nomicus (já fizemos um post) significa oikos – casa.
Acrescentamos aqui o diálogo de socrático de Xenofonte, que se refere ao termo como ser um bom cavalheiro, o Kalokagathos (bom em belo, em grego), que é assim referência a cultura.
Byung Chul Han, que escreveu a Salvação do Belo, onde critica a cultura do liso e em particular a de Jeff Koon e suas esculturas de “baloons” (figura) que muito ou nada dizem, o desejo de uma total imunidade, sem procurar a co-imunidade, conceito de seu mestre Sloterdijk, que pode ser aplicado a pandemia atual.
Um artigo duro, mesmo para mim como apreciador de Byung Chul Han, sobre a atual crise pandêmica, publicado no El País, afirma que: “parece que a Ásia controla melhor a epidemia do que a Europa”, cita os dados de 20 de março quando a epidemia ainda não tinha atingido o auge na Europa e dá como razão a estrutura disciplinada e ancestral do oriente.
Mais cedo do que nós eles apostaram no Big Data afirma o autor, e “suspeitam que o big data pode ter um enorme potencial para se defender da pandemia” diz no artigo de El País, porém alerta que isto pode caminhar para uma ditadura digital, como na China e isto não é mudança.
Sobre a cultura atual autor afirma “hoje não só se volta o polido ao belo, mas também o feio” na obra A Salvação do Belo (pag. 19), esperamos que o flagelo do vírus nos comova os coração e nos faça ir da descoberta da interdependência, como diz Morin, para a solidariedade.
Porém esta solidariedade exercida em conjunto, numa co-imunidade, necessita de um novo conceito do doméstico, da religação, além da conexão digital e do “isolamento” social.
Uma aula de “decliniologia”, com Theodore Dalrymple
#LockDown já
Entramos numa semana decisiva da pandemia, em especial no Brasil, mas também em muitas partes do mundo o contágio chegará a zonas e países mais pobres, onde as condições sanitárias e a concentração de pessoas podem levar a maior tragédia humana, mas é semana da Páscoa e tenho esperança.
Um imenso #LockDown poderia produzir um efeito fulminante contra o contágio e isto auxiliaria o combate a pandemia, estudos de redes (no sentido da relação entre dois nós, neste caso é a proximidade de pessoas) mostram que o efeito rede existe, e a única possibilidade de interromper é criar clusters, setores isolados da sociedade e um único nó de contato produz efeito viral.
Carl Latkin além de ser um eminente infectologista que trabalha em programas de saúde Globais, é também um dos mais produtivos pesquisadores em Redes Sociais, nosso estudo de co-citações em trabalhos de Redes Socais demonstrou isto (um doutorado em andamento), porém um dado importante deste pesquisador é o que mostra a presença do HIV em homossexuais afro-americanos.
Este estudo feito com uma amostragem de 234 homens afro-americanos, mostrou que o fato de estarem em redes sexuais mais densas, estão mais propícios ao contágio.
A analogia com o COVID-19 é que as populações de periferia estão em redes populacionais mais densas e a relação no âmbito familiar é mais forte, por serem famílias mais numerosas, como não temos tempo para fazer amostragens locais, além do período de quarentena, estamos fazendo uma simulação e o risco é real, mesmo a equipe do ministério admite uma explosão do Covid-19.
Acontece que trabalhadores de apoio aos serviços essenciais: caminhoneiros, funcionários de limpeza e assistentes de centros médicos, secretárias, etc. vem da periferia e já o deslocamento é um problema, andam em ônibus lotados e sem condições necessárias de higienização.
A necessidade é urgente de um #LockDown durante esta semana do final da quaresma, não só os feriados podem ajudar, mas uma atitude política de enfrentamento frontal pode ajudar muito.
Carl Latkin, Cui Yang, Karin Tobin, Typhanye Penniman, Jocelyn Patterson, Pilgrim Spikes, “Differences in the Social Networks of African American Men Who Have Sex With Men Only and Those Who Have Sex With Men and Women”, American Journal of Public Health 101, no. 10 (October 1, 2011): pp. e18-e23.
O sinal de e Lázaro e a pandemia
A pandemia veio nos alertar que não é a vida que importa mais a economia, postamos nesta semana que não é a oeconomicus da casa e da agricultura (dos alimentos diríamos hoje, pois o processamento de alimentos já faz parte da história), é a da especulação dos bancos e bolsas.
Ora é a vida que regime a economia e não o contrário, talvez um darwinismo econômico pudesse dizer na origem era o dinheiro e depois veio o homem, nada mais insensato, porém é claro que se uma economia vai a ruina a manutenção da vida fica no limite, fica assim nas guerras, vem a fome.
Porém o sinal da pandemia ainda mal lido até mesmo pelos economistas, e mais perdidos ainda alguns líderes e mesmo religiosos é o sinal de Lázaro (sua tumba ao lado), mais de meio milhão de infectados e a morte chegando não é razão suficientemente para a economia ainda mais forte do planeta querer parar.
A leitura atenta da bíblia revela que Jesus sabia da morte de Lázaro (Jo 11: 4-7) e não foi antes porque os judeus relutavam em mudar o estilo de vida da “lei” e da tradição, e queriam apedrejá-lo, porém Jesus explica aos discípulos que não queriam voltar a Judéia por medo, que isto deveria acontecer para que o povo de lá entendesse que era necessário uma mudança.
Que mudança o mundo espera, sim que vençamos a pandemia, mas o esforço global, a ideia de parar e reviver a economia doméstica que inclui a relação e o bem estar dos que nos são próximos requer uma “conversão”, uma mudança de atitude cultural, cuidar do que está ao nosso lado e se cuidar para não ser “infectado”, o sinal de Lázaro é que a morte vem, mas a cura também virá.
O importante é o que faremos depois para que nova crise não se instale, já tivemos a influenza e no Brasil a vacinação está começando, mas será que estaremos preparados para outra pandemia, sem entender que hospitais e a saúde econômica do povo, em especial, do povo simples é essencial, não entenderemos nada.
Lázaro não ressuscitou (mais tarde ele morreu de morte natural), ele apenas reviveu e Jesus afirmou que esta doença “não mata”, quer dizer a humanidade não será exterminada, mas a lição dura deve ser apreendida é a vida que rege a economia e não o contrário, e façamos nossa parte #FicarEmCasa e aplaudir os agentes de saúde.
Enternecer
Em tempos de #FicarEmCasa, uma boa leitura é indicada, ou ver um bom filme, mas nada de grandes dramas, sensacionalismo ou violência, as leituras que recomendo também que sejam para nos acalmar, nos pacificar e tornar a convivência próxima possível, numa palavra: enternecer.
Um dos livros indico para aproveitar o aconchego do lar, “O prazer de ficar em casa” (só tem em português e infelizmente está esgotado, best seller sem querer), onde a autora brasileira Leticia Ferreira Braga, sem saber os eventos atuais, escreveu em 2007, como melhorar a autoestima e o autoconhecimento, como organizar um consumo mais consciente e explorar os recursos naturais, o esforço para tornar o ambiente que vive mais agradável e também prático, sem luxo e simples.
Para quem gosta de pensar mais fundo, já indicamos e comentamos aqui diversas vezes, “A sociedade do cansaço” de Byung Chul Han, o coreano-alemão sabia que a humanidade caminhava a passos largos para um ativismo e tecnologismo exagerado (ele exagera também quanto ao uso da tecnologia que pode ser um bom recurso na situação atual), porém seu pensamento sobre a dificuldade de contemplação do homem moderno é uma boa reflexão, é preciso enternecer.
Pequenos hábitos de rotina no ambiente doméstico ajudam, fazer melhor a limpeza, até recomendável para o coronavírus, mas cuidado com o toc, evitar assuntos chatos e polêmicos, rir das próprias dificuldades, incluindo as limitações pessoais e dos familiares, enfim enternecer.
Se pudesse resumir uma atitude necessária para o ambiente familiar ficar senão aconchegante suportável é fazer o que não é agradável tornar-se, o que é duro suportável, o que é difícil tornar se possível de realizar, enfim suavizar-se e rever hábitos rudes e bruscos.
É quase uma reeducação cultural, ou fazemos isto ou a casa explode e explodimos junto.
O vírus e suas lições
De repente a sociedade que não podia parar, a “sociedade do cansaço” do ritmo alucinante, dos espetáculos diários, tem que retomar uma visão que já não conhece mais, parar ou ao menos diminuir o ritmo, ficar em casa, conviver com os familiares que são quase estranhos.
O fato é que o universo, a natureza e nela a natureza humana tem suas leis, e estas podem ser além de um Big Bang, podemos estar dentro de uma bolha e cujas leis vem de “fora” dela.
Vi uma hashtag disparar e me surpreendi primeiro, mas depois fui aos poucos entendendo, principalmente jovens usavam #stayfuckatHome como resposta a “StayAtHome, claro não é fácil para quem nunca teve este hábito cultivado, agora ter que enfrentá-lo.
Não consegui com as ferramentas mensurar ambas as hashtags, mas o universo conspira e nos leva a parar e a ficar em casa, pois eventos são cancelados, não há o que fazer na rua, mesmo o comércio dá seus sinais de parada, e é claro que continuam a pensar no lado econômico.
Bom devemos salvar a economia, mesmo que isto signifique uma rápida explosão de um vírus, enfim o universo deu sua lição, não é a economia que vive para o homem, mas o homem que vive para que haja economia, e se ela tem suas próprias leis, que elas não contrariem a natureza e o homem, parece que temos um cheque mate.
As lições para o universo online são duplas, por um lado o presencial retoma um curso que nunca deveria ter saído, o mundo relacional presencial e os círculos fraternais e de outro a necessidade de relações que são públicas ou privadas terem ferramentas online adequadas.
O conflito existe nas duas pontas, nem fazemos as relações presenciais satisfatórias, são fugidias, autoritárias ou o que é pior indiferentes, e nem sabemos como nos comportar no mundo online (o virtual existe antes da internet e do universo digital), e sempre os que criticam usam mal e não compreendem a “lógica” deste universo que pede relações diferentes das presenciais.
Agora temos que marcar reuniões online, usar chats e vídeos e finalmente iremos além da pregação religiosa e ideológica para relações não-presenciais que sejam de fato “relação”, por que virtual vem do latim “virtus” que é parecido a “potencial” quer dizer devemos “cultivar” o virtual para se tornar de fato relação real (virtude vem de virtus), o presencial não garante a “relação”.
A grande lição, haverá muitas outras, é que devemos compartilhar e codividir responsabilidades para superar a crise pandêmica, que já é social e econômica, e depende da atitude de cada um.
A Casa de Bonecas
Escrito em 1878 e construída em 1879, o romance norueguês de Henrik Ibsen (1828-1906), Casa de Bonecas é uma das primeiras manifestações da exclusão das mulheres numa sociedade dualista e machista, feito para o teatro teve sua primeira encenação no teatro Kongelige, de Copenhagen na Dinamarca, já em 1879. Na foto dois filmes da década de 70, um com Claire Bloom outro com Jane Fonda no papel da personagem Nora Helmer.
O romance causou grande alvoroço na época, entretanto Ibsen era de família abastada e respeitada da cidade de Skien, na Noruega, é considerado um dos fundadores do modernismo.
A ambientação é o período natalino, e o casal Nora e Torvard Helmer estão se preparando para a festa, e ele comenta sobre os gastos da mulher, a qual trata com apelidos que a reduzem a infantilidade: “cotovia”, “esquilo” e “minha menininha” como uma criança peralta que ainda sabe pouco da vida adulta.
No primeiro ato chegam uma mulher viúva Cristina Linde e o Dr. Rank, que vai ao escritório conversar com Holmer enquanto Cristina que é uma antiga colega de Nora, conversam sobre a morte do marido de Cristina, antiga colega de Holmer. Enquanto Holmer vai ao escritório com o amigo, Nora e a colega Cristina conversam sobre a vida pessoal de ambas.
Nora conta que o marido receberá o cargo de gerente num banco de investimentos e isto trará estabilidade a família, enquanto Cristina também a trata como uma “criança crescida”.
A campainha toca novamente e a criada anuncia o Sr. Krogstad, que vem falar sobre negócios com o banco no novo cargo de Helmer, Cristina o reconhece como tendo “negócios de toda espécie”, o Dr. Rank sai do escritório vem a sala e também conhece a Sra. Linde.
Quando Nora fica a sós com o Sr. Krogstad que lhe fizera um empréstimo, e o Sr. Holmer não sabia, do período que a família esteve ruim das finanças, o Sr. Krogstad lhe diz que sabe que a assinatura do pai dela como avalista fora falsificada pois eram 3 dias depois do falecimento deste, e aqui o romance entra no seu enredo.
Cristina na verdade teve um romance com o Sr. Krogstad e ela poderá ajudar Nora, retomando o relacionamento com ele, que o convence a enviar a promissória a Holmer, mas já havia enviado uma carta dizendo do empréstimo que a esposa fizera com ele falsificando a assinatura do pai dela.
O final é surpreendente, Holmer abre a carta de Krogstad que conta o “segredo do empréstimo”, depois em seguida recebe a promissória e a rasga, mas a reconciliação com Nora já era impossível porque dissera palavras duras sobre o empréstimo dela, e ao final Nora vai embora deixando-os com os filhos, que ele dissera não ter capacidade e educa-los, sem dúvida um romance chocante para a época, e que recebeu duras críticas.
A mulher e as novas mídias
O dia da mulher foi ontem e a perspectiva de uma sociedade não-machista está muito distante, mesmo em países europeus contatei com tristeza que o machismo ainda é cultura geral, por exemplo, o assédio na França tem índices elevados e em Portugal há casos recentes, onde até um juiz do Supremo manifestou seu machismo num caso de violência doméstica que julgava.
O Wikipedia é o 5º. Site mais acessado no mundo, possui mais de 6 milhões de verbetes, e apesar de ter problemas de edição e corrupção nos seus verbetes, o que é tratado mas pode ficar online e causar confusões, sua importância é inegável, e negá-la é não estar vivendo a realidade presente.
Nas novas mídias não é diferente, o Wikipedia o 5o. site mais lido no mundo, teve recentemente a divulgação que a maioria das mulheres influentes em investigações científicas são ignoradas pelo site.
O artigo escrito por James Vicent em agosto de 2018 na Revista The Verge, consta que 82% das biografias são escritas sobre homens, cita o exemplo de Teresa Woodruff, uma cientista que não tinha entrada no Wikipedia (agora tem), e foi nomeada uma das pessoas mais influentes em investigações e Inteligencia Artificial pela revista Time em 2013.
Outra influente investigadora citada é Jessica Wade, física do Imperial College London que escreveu a nova entrada de Pineau, um sistema chamado QuickSilver, e falou sobre o Wikipedia:
“… é incrivelmente tendencioso e a sub-representação de mulheres na ciência é particularmente ruim”.
O artigo teve como foco as pesquisas na área de IA e citou ainda a investigadora de robótica Joële Pineau.
Entretanto as novas mídias deram poder e voz também as mulheres, é inegável que um número de grupos sociais excluídos, culturas quase desaparecidas, e muitas minorias tem voz agora graças as novas mídias.
Nas mídias de redes sociais, facebook e instagram são inúmeros os casos de exposição de imagens e conteúdos machistas, nem sempre denunciados e punidos por práticas ofensivas.
Vicent, James (2018) AI spots 40,000 prominent scientists overlooked by Wikipedia, The Verge, Disponível em:
https://www.theverge.com/2018/8/8/17663544/ai-scientists-wikipedia-primer, Acessado em: 20/10/2018.
Asceticism, spirituality and epoché
A ascese que vem do grego áskesis que significa “exercício espiritual”, e muitas vezes ela significa a renúncia ao prazer e até mesmo alguma das necessidades primárias, por exemplo, não comer e fazer jejum, pode estar ligada a espiritualidade ou simplesmente a alguma cultura.
O epoché significa a suspensão de juízo, conforme já explicado na fenomenologia é um “colocar entre parêntesis”, que significa abandonar mesmo que convicto algum conceito ou teoria, com vistas a penetrar num fenômeno, e ter consciência de alguma “coisa” a qual investigamos.
Poderia ser um ponto de convergência entre espiritualidade e conhecimento, claro em um ambiente que isto fosse propício, e que cada um dos lados ali estivesse preparado para uma verdade “suspensão de juízos”, coisa que é rara, ainda mais em tempos de convicções confusas.
Supondo que seja possível, e o exercício que Husserl propõe, os gregos o fizeram para chegar ao conhecimento, a episteme e sair da doxa, quais são as condições necessárias para esta realização, então pensar num exercício para isto significa criar uma ascese para a “epoché”.
Pode-se ampliar assim a epoché fenomenológica para elevação espiritual, não é uma mudança de seu verdadeiro percurso por ela deve encontrar o Ser criando uma fenomenologia transcendental (ou reflexiva como afirmava Gethmann) e este caminho Heidegger é que trilhou mais fundo.
Voltar-se ao que é vivido, ao originário, à fonte, ao nascimento daquilo que é tal como é (o voltar- se a coisa como propus Husserl), constituindo uma elevação por exercício que tem como consequência o conhecimento pessoal, mas está longe de ser apenas uma autoajuda.
Tomar o ser humano e tomá-lo em consideração, não é só no sentido de acumular novas informações, mas tornar-se mais Ser, o homem novo como propôs Husserl, libertar-se do movimento automatizado e imediato do cotidiano, da ação impulsiva e pouco reflexiva.
Há muitas falsas asceses, que por serem meros exercícios não trazem consigo nem uma espiritualidade, nem uma forma de autoconhecimento de fato.