RSS
 

Arquivo para janeiro 16th, 2018

Diálogos e criatividades

16 jan

David Bohm é um dos raros autores a abordar com profundidade a questão daaSobreCriatividade criatividade, e seu texto começa com um discurso absolutamente novo, aos menos para quem percorrer os caminhos da dialogia e da hermenêutica como eu, discordando da ideia que diálogo é dois logos, afirma o autor:
“um significado mais profundo para ela [a palavra diálogo]  logos significa “a palavra” ou melhor “o significado da palavra”. E dia significa “através de”– não significando dois ou duplo -. Um diálogo pode se dar com qualquer número de pessoas, não apenas entre duas. Até mesmo uma pessoa sozinha, pode ter um sentido de diálogo consigo mesma, se o espírito do diálogo estiver presente.”
Dirá mais ainda no prefácio: “E o significado compartilhado assim criado,  é a “cola” ou o “cimento” que mantêm as pessoas e a sociedade unidas”, é realmente interessante uma vez que rompe com o sentido quase inerente a palavra que é um “logos dual”, uma não abertura.
Quase que como uma conclusão, coloca em questão o inverso que seria a discussão:“Contraste isto com a palavra “discussão”, que tem a mesma raiz de percussão e concussão. Elas têm um significado de partir as coisas.”, encontro aqui um “diálogo” com a fenomenologia, pois está quer voltar as coisas por elas mesmas, faz sentido, dividimo-las em partes, não só duas mas inúmeras, um grande problema da modernidade: a fragmentação.
Afirma um dos mais profundos dualismos de nosso tempo, aquele entre ciência e religião: “Supõe-se que a ciência seja dedicada a descobrir os fatos e a verdade e que a religião seja dedicada a outro tipo de verdade e ao amor, mas o interesse próprio das pessoas e as pressuposições “assumem o comando” ”, claro não fala unilateralmente, mas de ambas.
Embora muitos afirmem não julgarem as pessoas, afirma o autor o que estamos fazendo: “parece que alguma coisa está acontecendo: parece que os pressupostos e as opiniões funcionam como programa de computador na mente das pessoas. E esses programas assumem o comando contra melhor das intenções. É como se eles produzissem suas próprias intenções “, os que criticam o mundo “lógico” da cibercultura, agem no dia a dia numa lógica como robôs sem criatividade alguma.
Tal como ocorre com a informação que pode ser tácita ou explicita, o autor explica o nosso pensamento cotidiano onde: “Tácito significa algo não falado, algo que não pode ser descrito por palavras – tal como o conhecimento tácito exigido para se andar de bicicleta”, diz-se que não se desaprende a andar de bicicleta, mas e quanto ao pensamento se for um vício ?
Se nós tivermos uma situação de pensamento implícito construída, o autor chama isto de coerente (considero de certa forma relativo), o que teríamos com o passar do tempo seria: “em um grupo que tenha mantido diálogo por um bom tempo, de forma que as pessoas tenham se feito conhecer umas as outras – iremos ter um movimento coerente de pensamento, um movimento coerente de comunicação.”
É só o começo do livro, mas é impossível falar em criatividade sem antes falar de diálogo.
BOHM, David. Sobre criatividade, São Paulo: UNESP, 2011.