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Mudar de via, para qual via?
Quase no final do livro “É hora de mudarmos de via: as lições do coronavírus” de Edgar Morin escreve: “Evidentemente, a política não pode criar a felicidade individual. É preciso parar de acreditar que o objetivo da política seja a felicidade. Ela pode e deve eliminar as causas públicas da infelicidade (guerra, fome, perseguições). Não pode criar felicidade, mas pode favorecer e facilitar a possibilidade de cada um viver poeticamente” (pags. 73,74).
Parece um sonho em meio a uma pandemia e uma política cada vez mais desastrada, porém o autor ainda continua: “… ou seja na autorrealização e na comunhão” (p. 74).
Logo em seguida dá o diagnóstico do que chama de “mal difuso”, “a poluição urbana, a baixa qualidade da alimentação industrializada e a alienação consumista provocam a degradação de nossa civilização”, e a qualidade de vida “se traduz por bem-estar no sentido existencial, e não apenas material. Implica a qualidade das relações com o próximo e a poesia dos envolvimentos afetivos e afetuosos.”
Assim há uma aspiração cada vez mais profunda à “verdadeira vida” diz o autor (pg. 76) ela “é provocada e alimentada pelo caráter individualista de nossa civilização; ao mesmo tempo, é inibida por suas coerções e desviada para o imaginário e o lazer de tal modo que uma economia de fuga se põe a serviço da vida da `verdadeira vida´” (pg. 76).
Ao explicar sua missão aos apóstolos, o Mestre vai diferenciar esta relação do verdadeiro líder (pastor no imaginário da sociedade agrária judaica) e diz (Jo 10,12-14) “o mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovelhas”, há lideres assim.
Caminhar para uma sociedade com uma “política civilizacional” exige líderes solidários capazes de viver e ser solidários com seus concidadãos e eles são facilmente detectáveis da linguagem e do zelo com seu povo.
MORIN, E. “É hora de mudarmos de vida: as lições do coronavírus”, trad. Ivone Castilho Benedetti, RJ: Bertrand do Brasil, 2020.