RSS
 

Urgente: mudar o pensamento, ensinar a viver

10 fev

Quando propomos um modelo que não é aquela do mundo da vida, dele Husserl fez uma filosofia, o seu Lebenswelt (mundo da vida), Habermas fez dela uma sociologia, Heidegger e Gadamer a incorporam em seus pensamentos, mas afinal que é a vida senão uma aprendizagem, não aprendemos com a pandemia.
O problema central de busca de uma “clareira” é que criamos modelos demasiadamente longe da vida, de sua defesa incluindo a natureza, a dignidade e o próprio viver, estamos num Setembro Amarelo, cujo tema não é outro senão o de dizer que vale a pena viver.  Teremos uma clareira, mas ela durará pouco, e poderíamos começar já uma grande mudança, depois poderá não haver tempo. 
Foi Morin que fez dela uma ousadia ao escrever Ensinar a Viver, a pedagogia esquecida e o método pouco utilizado, quando Morin escrevia seu Método (na verdade em vários volumes e sentidos), li no comentário da Editora Sulina que o publicou no Brasil, que “ele o desfaz em partes que, holograficamente, repetem esse todo de maneira sintética, mas completa”.
Morin começa por uma crítica que muitos fazem na universidade, mas se curvam a ela para não fazer valer suas “carreiras”, ele critica essa “deriva das universidades”, cujo dilema central ele sempre retorna que é “refazer o pensamento”.
Agarrados a métodos e modelos já superados, logicistas e neopositivistas, não se aponta “a natureza do conhecimento, que contém em si o risco de erro e de ilusão” (MORIN, 2015, p. 16).
O grande teórico da complexidade propõe antes de tudo um retorno a filosofia (no sentido do pensamento primário) em sua condição socrático de diálogo, aristotélicas (no sentido entre outros, da organização da informação), platônica (questionamento das aparências), e até mesmo pré-socrática (questionamento do mundo, inserção do conhecimento na cosmologia moderna), enfim não pode ensinar a vida sem saber que ela tem dilemas, erros e opções.
Morin, que poderia arrogar-se de sabedoria pela idade, pela intensa atividade intelectual, desde do pedestal daqueles cheios de certezas, sem dúvidas ou equívocos que vemos desfilar pelas academias e pelos palanques públicos da mídia devoradora e pouco questionadora.
Morin busca “conceber os instrumentos de um pensamento que fosse pertinente por ser complexo” (Morin, 2015, p. 23), e vemos a barbárie de certezas dogmas e pouco elaboradas.
Frases prontas, manuais de autoajuda, laissez-faire (principalmente econômico), grosseria e histeria ideológica, fazem um aprofundamento da crise cultural, humanitária e social de hoje.
Me assusta que leitores de manuais tenham tanta certeza com tão pouco pensamento, aliás a crítica ao pensamento cresce e o elogio da ignorância parece vencer qualquer argumento.
Morin nos encoraja e nos remete a um futuro ainda visível e possível, sua palestra na Fronteira do Pensamento (em 2016) é uma esperança e um aprofundamento que lança novas luzes.

MORIN, Edgar: Ensinar a viver: manifesto para mudar a educação. Trad. Edgard de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco. Porto Alegre: Sulina, 2015

 

Tags: ,

Comentários estão fechados.