Colaboração e ingratidão
Termos aparentemente tão distantes estão profundamente conectados, a colaboração que quase sempre envolve uma dose de gratuidade (pode até ser remunerada, mas faz a faz com alguma generosidade) e a ingratidão, que é o não reconhecimento da grátis-dão, do que é feito com alguma dose de doação.
Isto sempre envolve os meios do poder, em tempos de psico-poder, a escolha de meios para certos fins é fundamental, aquilo que o indivíduo influencia ou desafia em benefício próprio, está explicado em Habermas usando o conceito de Hanna Arendt e polemizando com Max Weber: “é essa capacidade de disposição sobre meios que permitem influenciar a vontade de outrem que Max Weber chama de poder. H. Arendt reserva para tal caso o conceito de violência” (Habermas, 1980, p. 100).
Assim, pode-se teorizar que o que não leva a colaboração pode levar a uma forma de poder ou de violência, se admitimos que colaboração tem uma oposição essencial a ingratidão, ou para teorizar mesmo, este poder gera uma dose de ingratitude.
Ainda no campo da teorização, na vida fenomenológica penso que os “meios” aceleraram a ideia da colaboração, Habermas vai falar de um “individualismo metodológico” aplicando-o a formas de poder que não permitem o “entendimento mútuo” ou a superação do “egóico sentido de poder”, que leva a não-colaboração e ao não-reconhecimento do gratuito.
Penso que Hanna Arendt é mais direta porque seu modelo é “um modelo comunicativo” (interativo) onde o consenso seria alcançado por meios não-coercitivos, pelo “entendimento recíproco” que levaria a “vontade comum”, a meu ver, falta ainda a ideia da gratitude.
Em meios onde a colaboração e a reciprocidade, ações mútuas de co-laborar, ou seja trabalhar juntos, já é uma realidade, o poder se dispersa e o líder não aparece como poder coercitivo, do latim coercĭo, que significa retenção.
O que se propõe então, partindo de Hanna Arendt é que se pense na forma que permita a co- laboração como forma comunicativa de influenciar a vontade do outro, sem coagi-lo, isto leva a sistemas de ingratidão, incompreensão e luta pelo poder através da violência.
Habermas, J. (1980). A crise de legitimação do capitalismo tardio. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.