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Esferologia e Jonas

22 dez

A retomada do profeta Jonas dentro da esferologia de Peter Sloterdijk, deve ao conceito de intimidade que o explora bem como a concebemos, um reduto pessoal, seguro e composto por um único material particular, essa intimidade especifica não deve existe, ele usará duas expressões “díade” e pela “divalência”, depois as conjugará com uma expressão musical bicorde, onde não há uma nota dominante.

Parece que o sentido judaico de Jonas, aquele que rejeitou sua missão e foi para o ventre da baleia pouco teria de ver com isto, apenas com a intimidade, com o reduto onde caiu recusando sua “missão”, porém pensada como uma díade, a relação de dois ou mais onde não há centro, e a divalência, diferente da ambivalência onde valem iguais, há forças contrárias em relação diádica.

Não apenas nos fenômenos humanos, mas todo tipo de relação tem forças diádicas, relações intrapessoais também seriam este emaranhado de consciência entre o interno, o externo, o pessoal, o coletivo, ou se preferimos as relações idealistas, o subjetivo e o intersubjetivo.

Voltemos agora ao tema para pensar sobre Jonas, o profeta e a baleia. Ser profeta significa revelar a vontade de Deus para seu povo, assim a díade entre o divino e o humano é dita entre o homem/ santo, como homem não daria conta de sua tarefa, afinal era preciso ter santidade e habitar o divino, mas nem só santo seria o suficiente, pois é preciso ser homem para conhecer as perdições e ocupar a terra, no caso de Jonas pregar a conversão ao povo de Nínive, os assírios eram terríveis.

Aqui entra a baleia, estando nela reconhece o poder de seu Deus, reza, se arrepende e é “vomitado” em terra firme, saindo perto da cidade que devia profetizar antes de sua desobediência, mas ao ser vomitado volta para cumprir a vontade de deus e seu papel de profeta.

Aqui entram as notas bicordes, o final triunfante, não é nem a estrutura de homem, nem a de profeta que vence, é um lugar de homem/profeta, a estrutura relacional já está toda aí, bem diante de nós se quisermos dissecá-la, cumprirá a missão, mesmo não a desejando.

Para os cristãos é a importância da missão, mas para Sloterdijk é mais transcendente ainda (mesmo não tendo o menor tique religioso), é responder a sua pergunta essencial da esferologia: onde estamos quando estamos no mundo, Jonas é fundamental por isto, no ventre da baleia com medo de nosso destino, então precisamos ser vomitados para entender as nossas tarefas.

Diz o filósofo ironicamente: “os únicos corpos que são localizados sem dualidade no mundo são os dos mortos” (Esferas I), e pergunta a mim e ao leitor é: Onde você está agora? A resposta para isto não é um simples GPS, mas sim é a sua consciência a única ferramenta que você possui disponível para perceber o seu entorno e articular uma resposta mais sensata e que diga algo sobre estar aí.

 

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