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Tolerância, guerras e história

16 fev

Cresceu ainda mais em meio a pandemia, que nos forçou a uma reclusão involuntária, uma espécie de intolerância ao Outro, aquilo que na filosofia atual tem-se chamado da exclusão do Outro, escreveram sobre isto Habermas, Paul Ricoeur, Emmanuel Lévinas entre outros, e mais atualmente Byung Chul Han.

No iluminismo, Voltaire já havia escrito algo parecido em seu “Dicionário Filosófico”: “O que é a tolerância? É o apanágio da humanidade. Somos todos cheios de fraquezas e de erros; perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei da natureza.” (VOLTAIRE, 1978,  p. 290)

Na época o livro foi proibido de circular na França tamanha era a intolerância entre católicos e protestantes, e foi isto que levou Voltaire a chamá-los de maníacos.

O iluminista afirmava que “sem a tolerância” o mundo continuaria desordenado, como continuou, e radicaliza ao dizer: “o melhor meio para diminuir o número de maníacos, se ainda restam, é de confiar esta doença do espírito ao regime da razão, que lenta, mas infalível ilumina os homens” (idem), assim acreditava porque era próprio do espírito das luzes e a religião no seu tempo, pela divisão entre os cristãos da Reforma e os católicos, eram intolerantes ao contrário do evangelho que pregavam sobre o perdão e a misericórdia.

Sobre a questão religiosa, John Locke muda a argumentação para defender a tolerância religiosa partindo exatamente da separação entre Estado e Igreja e estabelecendo funções diferentes para cada uma dessas instituições, assim como poderes próprios para a realização de suas devidas funções, mas foram preciso duas guerras para que o conceito fosse amadurecido.

A questão da Tolerância religiosa ficou estabelecida no Tratado de Paz da Vestfália, histórico para as relações internacionais, que na verdade foram dois tratados nas cidades alemãs de Münster e Osnabrück, em 1648, colocando fim na chamada Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) no qual as disputas religiosas levaram a lutas entre reinados.

A Declaração de Princípios sobre a Tolerância foi adotada em 16 de novembro de 1995 pelos Estados-membros da UNESCO, nela afirma-se que a tolerância não é a indulgência nem a indiferença e sugere “o respeito e a apreciação da rica variedade das culturas do mundo e formas de expressão”, lançando um olhar diferente a culturas e religiões diferentes.

Os maníacos de Voltaire podem agora serem traduzidos como fanáticos, defensores de territórios e de poder, motivações da primeira e segunda guerra mundial, onde os territórios levaram a tensões entre a Tríplice Entente (também conhecida por Aliados: França, Reino Unidos e Russia) e a Tríplice Aliança (que eram as Potências Centrais: Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro), os territórios reduzidos da Alemanha e expandidos da Rússia e da França, a região da Alsácia-Lorena será disputada pela Alemanha) alimentarão a futura segunda guerra mundial, e estes tratados mal feitos vão levar a novas disputas de território, vê-se o caso da Finlândia (que ficou estabelecida como neutra em relação a antiga União Soviética) como o caso citado em recente conversa de Putin com Macron sobre a atual crise da Ucrânia, que poderia ter uma espécie de “solução finlandesa”, nas últimas horas houve uma retirada de pequena parte de tropas da Rússia da fronteira com a Ucrânia. 

Qualquer tratado agora precisa ter bases seguras, a ideia de que uma “nova ordem mundial” está em curso esconde desejos expansionistas e de intolerância política.

 
 

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