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Regenerar o humanismo

16 mar

Em suas comemorações de seus 100 anos, que Edgar Morin fez no ano passado, e está em seus livros de memórias “Leçons d´un siêcle de vie” (lições de um século de vida), muito antes da guerra atual ele dizia sobre resistir a dominação, à crueldade e à barbárie, e pedia novo humanismo, o qual esteve sempre presente em sua literatura.

Retomar a consciência da complexidade humana, e incluí-la num novo patamar que superasse o antropocentrismo, este era o humanismo retomado no renascimento, e sobretudo criar um mundo onde fosse possível uma cidadania mundial com respeito as diversidades culturais.

Ele que lutou na resistência ao nazi-facismo, não deixou de mostrar seu arrependimento ao período do stalinismo, sabia que estávamos num empasse entre estes dois pensamentos que poderiam nos levar a barbárie, profético em relação a escalada atual da guerra.

Não é um desenvolvimento isolado, já em outras obras suas como O Praíso Perdio e o Método, suas noções chaves de conceitos como autonomia, uberdade, amor, indivíduo e sujeito foram se desenvolvendo salvando valores que são inerentes a eles, assim como manter uma dignidade humana potencialmente ameaçada, diria agora, o processo civilizatório como um todo.

Em o Método II não hesita em denunciar as ilusões do humanismo tradicional (a direita ou à esquerda) e procura revitalizar o seu sentido ético e antropológico: “Não se trata de recusar o humanismo. É necessário, como veremos, hominizar o humanismo, e portanto enriquecê-lo, baseando-se na realidade do Homo complex” (Morin, Método II, p. 398).

A eleição do homem como centro do mundo, e a rejeição tanto à Deus (ou a alguma dividinda superior a qual nos submetemos) e ao respeito a natureza a qual a ciência julgou dominar é um passo fundamental para regenerar o humanismo ou caminhamos na lógica da dominação.

Tudo se passa como se a história começasse no auge do capitalismo do século XVIII ou do comunismo do início do século XX, as escassas referências a verdadeira cultura tanto grega como judaico-cristã, direta ou indiretamente condenadas, é o corte desta raiz humanismo.

Não basta dizer que é superada, sem qualquer referência histórica, por exemplo, à Socrates e a Heráclito onde há um aprofundamento sobre a educação e interioridade da consciência.

A questão da emergência do Ser prende-se a outra indissoluvelmente ligada a da liberdade, o homem anulando sua autonomia (dizem em prol de certo “humanismo” antropocêntrico) é vitima do fatalismo, da ausência de horizontes que não sejam o da dominação do Outro, aquela cultura ou ordem que é diferente da outra e que também deve ser respeitada.

Nicolau de Cusa, Ficino, Pico della Mirandola, exploraram esta perspectiva, em Ficino, por exemplo: a providência (que governa uma ordem espiritual), o destino (que dirige aos seres animados) e a natureza (que permite ao Ser permanecer no mundo como corpo vivo ao qual os seres se submetem), ainda que precise ser atualizada em termos de linguagem, não é antropocêntrica.

Morin, E. O Método vol. II, Europa-América, Lisboa, Ed. Francesas: Paris, 1997

 

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