Arquivo para março 22nd, 2022
A beira do abismo
É o novo ensaio do centenário filósofo e educador Edgar Morin, lúcido como sempre e sensato diz que uma Ucrânia neutra seria aceito por todos e não deixa de condenar a barbárie e o risco de uma guerra planetária.
Em seu artigo Morin relembra a crise dos mísseis russos em Cuba, em 1962, no qual o mundo este também a beira de uma catástrofe atômica, estava na época hospitalizado em Nova York e um amigo (Stanley Plastrik) lhe informava todos os dias o risco de uma bomba cair na cidade, até que Krushchov aceitou retirar os mísseis de Cuba.
Vê a crise atual como a mesma incerteza do amanhã, agora com mísseis apontados para as principais capitais da Europa, e relembra do perigo de acordos e questões mais resolvidas que dão trégua, mas não eliminam a possibilidade de pais, já postamos aqui sobre isto na II Guerra Mundial.
Morin relembra seu artigo escrito em 3 de maio de 2015, portanto após o acordo de Minsk de 2014, que “seria desejável que François Hollande, Laurent Fabius e Manuel Walls tomassem consciência do impiedoso aumento dos perigos e propusessem um plano de paz coerente de uma Ucrânia federalista, traço de união entre Oeste e Leste. Não estamos mais no tempo de buscar o melhor, estamos no tempo em que se torna necessário evitar o pior”, escreveu na época.
Houve uma crescente evolução da OTAN na Europa, mas também a reconstrução da Rússia como uma superpotência militar estabelecendo suas zonas de influência na Síria e na África, além da sangrenta reintegração da Chechênia por duas guerras (1994-1996 e 1999-2001) e também a intervenção militar na Geórgia (2008) depois a crescente e atual pressão sobre a Ucrânia.
Será que Putin vai parar aí, uma trégua de guerra na Ucrânia pode demonstrar os reais objetivos de Putin que parecem ir além, Suécia, Finlândia e Noruega já se movimentam desconfiadas.
Afirma Morin que não resta dúvida que a heróica resistência do presidente Zelenski, de seu governo, do povo ucraniano surpreendeu Putin e “provocou nossa admiração”, abro aspas pois há uma tentativa de desconstruir Zelenski que é judeu como um neonazista, porém a guerra se prolongou além da conta do Kremlin .
Morin defende as sanções econômicas, lembrando que elas também atingem quem as pratica, mas ressalta que “pessoalmente, sou contrário a sanções que atinjam a cultura, a música, o teatro, as artes” e agora até mesmo a ciência, recentemente artigos científicos russos foram retirados de repositórios, não se trata de dizer que ciência é neutra pois não é, mas visa o progresso humano.
Faz uma bela reflexão ao afirmar: “Um dos aspectos da tragédia é que não podemos fazer uso da fraqueza nem da força separadamente e que estamos obrigados a navegar entre as duas de maneira incerta”, lembro apenas que o fraco pode redimir o forte e vice-versa, enfim um acordo.
Que seja possível evitar um desastre nuclear não apenas pela guerra, mas há usinas nucleares na região (na foto a cidade abandonada Pripyat de Chernobyl).