Arquivo para junho, 2023
Idealismo e pericorese
O idealismo ao desenvolver as categorias em-si, de-si e para-si isola a possibilidade trinitária de relação e anula a ideia de relação ontológica, o que é em-si se não é Ser e o que é para-si se não é não-Ser, o Outro não é negação do Ser, mas seu complemento.
De-si é relação, e isto completa a ideia trinitária cristã de três pessoas em relação, que é a chamada pericorese.
Numa metáfora possível com o Idealismo: Deus-Pai é Deus-em-si, Deus-filho é Deus-para-si e Deus-Espírito Santos é Deus de-si, observa-se que Deus-para-si tanto é homem (Deus transcendente sua divindade) como é Divino (Jesus é Deus e transcende a humanidade)
Isto que significa o uno em três pessoas, o primeiro concílio cristão de Nicéia (325) foi discutido a divindade de Jesus, porque era ainda mais fácil, devido ao dualismo Ser e não-Ser, acreditar em dois do que em três.
Para subsistir a ideia dualista, alguns pseudo-teólogos lançaram mão da ideia que Deus-Pai é fonte e origem de toda divindade, assim as outras duas pessoas foram geradas pelo Pai, criando uma nova forma de negar a pericorese trinitária, ou se preferir “a dança” na relação divina interna.
Foram os padres capadócios, Gregório Magno, Gregório de Nissa e Basilio de Nissa que viram esta contradição, que vem revestida de nova roupagem, da troca da palavra prósopon (persona) por hipóstasis e esta por sua vez confundida com ousía.
Basílio usou da fórmula de Mt 28,19 que afirma que a comunicação dos Três no batismo manifesta o Espírito Santo na união do Pai com o filho, na mesma dignidade, e manifesta ao homem no batismo, por isto o batismo válido é em nome das Três pessoas em um Deus.
A relação é como se fosse a dança entre as três pessoas com a metáfora dos capadócios (figura).
Esta relação não é mítica, embora mística, sua relação com a humanidade está descrita em Jo 3,1: “De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.
Deus a imagem do homem
Foi Feuerbach o primeiro a fazer a uma redução antropológica da teologia, seu deus é feit para a firmar o homem, não há libertação do homem sem a negação de deus. Ele partiu do pressuposto de que a religião é expressão e causa da alienação humana, via assim: “o conhecimento que o homem tem de Deus é apenas o autoconhecimento do homem e de sua própria essência”, numa clara alusão a Absoluto de Hegel.
Sua análise da atitude religiosa e pelo conceito de alienação, Feuerbach influenciou os pensadores socialistas do século XIX, especialmente Karl Marx, é entre outros (chamados de velhos hegelianos) uma transição entre o idealismo hegeliano e o materialismo histórico.
É importante sua análise porque muitos hoje reafirmam esta ideia que é a base matéria que constitui a consciência do homem, a consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo, o conhecimento de Deus é o conhecimento que o homem tem de si mesmo, assim deus da prosperidade e que dá bens materiais humanos é deus de Feuerbach.
Isto está presente também nas religiões contemporâneas, um deus do poder e da riqueza.
Já elaboramos que este deus do Absoluto de Hegel não é relação e, portanto, não é trinitário.
Sua leitura é: ““a chave hermenêutica que o autor utiliza para a compreensão da religião é a seguinte: religião é antropologia, ‘teologia é antropologia’, assim o que o homem fala acerca de Deus, através da linguagem religiosa, nada mais é que uma confissão de suas aspirações e projetos”, entretanto é deus que cria para satisfazer apenas as necessidades imediatas humanas.
Isto na significa um Deus nas aturas que desconhece homem, sena a figura de Jesus seria apenas um ser superior sem relação com o homem, inclusive em suas necessidades humanas.
O mundo hegeliano criou esta face egoísta e meramente humana, onde dons e ascese divina não existem.
FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Campinas: Papirus, 1988.