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Arquivo para a ‘Noosfera’ Categoria

Um sentido para o grande e o novo

26 abr

Apresentar algo Grande e Novo digno da ideia não significa criar uma novidade e formar com ela uma bolha, significa algum sinal mínimo de originalidade, note-se que o termo não dispensa a origem, e significa algo que de fato traga uma transformação positiva.  

O continente da Velha Europa está em crise, e custa a admitir isto, e a guerra não representa o novo e sim a velha conquista imperial, o saque de povos vizinhos e as narrativas mentirosas que esconde imperialismos.

Sloterdijk estabelece algumas exigências para um político da atualidade: “Profissão: político. Residência principal: opacidade. Programa: pertencer- se. Moral: pequenos trabalhos de desafios. Paixão: ter uma relação com a ausência de relação. Evolução: autorrecrutamento a partir de conhecimento, que se torna iniciativa” (Sloterdijk, 1999, p. 65).

Talvez seja clara a opacidade, ausência de transparência e discursos difusos e até contraditórios conforme a ocasião, o programa é claro, afirmação de sua personalidade e o recrutamento de iguais, a moral não é qualquer coisa que exija desafio, e a boa moral não é outra coisa, muitas vezes a capacidade de sofrer e doar-se pelos outros e de fato, pelo povo.

Em 1999 Sloterdijk sentenciava: “é evidente que numa época que a forma do grande é mudada, patologias de filiação de todo tipo tornam-se epidêmicas … já o atletismo de Estado mais antigo muitas teve de lidar com as fronteiras de seu poder de generalização …” (pag. 66).

No livro “A nova ciência dos networks” Laszlo Barabasi escreve um exemplo muito importante, sem o perseguidor de cristãos Saulo, que ao ter uma experiência mística sai da bolha judaica e vai para o mundo grego e depois o romano, o cristianismo seria ainda hoje uma seita, e hoje parece retornar a ela por falta de um espírito aberto.

Saulo, agora Paulo não vai combater em fronts do império e sim levar um novo espírito ao reino imperial romano e será perseguido por este espírito e não por usar qualquer tipo de arma, e anunciar o reino da paz.

Em atos dos apóstolos 9,31, após uma reapresentação de Paulo para a comunidade cristã que o temia é dito: “A Igreja, porém, vivia em paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria”, e finalmente Paulo exerce o bom combate: sem guerras, acusações ou intolerâncias.

 

Pré-ocupação e pré-conceitos

25 abr

Não se trata de jogar com as palavras, elas tem o sentido claro sem o hífen, questões que ocupam nossa mente e se tornam desafiadoras, e os preconceitos quando estimulados social e estruturalmente colocam pessoas, indivíduos, etnias e povos em descrédito.

Porém há outro sentido para aqueles que se preocupam com a saúde mental e a saúde social onde seja possível conviver com a diferença, com o Outro e com o contraditório, trata-se de uma saúde espiritual, no sentido de fazer uma resistência do espírito a um ambiente hostil.

O objetivo de deixar uma pessoa em descrédito através do preconceito, não pode ser confundido com a intolerância e o desamor do pré-conceito presente na estrutura do pensamento dualista: subjeito x objeto, natural x cultural, corpo x mente, nela residem boa parte da resistência ao diálogo e a abertura ao Outro diferente.

Alguns autores consideram que o preconceito como discriminação (Erving Goffman por exemplo), são mais relevantes do que o próprio estereótipo feito sobre determinados indivíduos, porém também estes autores entendem que existem características anti- dogmáticas que podem articular a relação existe entre preconceito, estigma e discriminação (o próprio Goffman faz isto).

A partir da perspectiva que o pré-conceito é interente ao homem e à sua percepção de verdade (Gadamer, 1997) o modo de conceber e entender próprio da realidade acerca de um determinado fenômenos, deve passar primeiro por um pré-entendimento ou pré-conceito deste mesmo fenômeno, ou seja, dificilmente vamos a realidade sem nenhum conceito a respeito dela, para isto é preciso um epoché fenomenológico, diz a boa fenomenologia.

Digo isto antes da pré-ocupação, porque em geral grande parte dos fenômenos naturais e existenciais passam por um filtro preconceituoso, no sentido de pré-entendimento, e assim o nó e o véu sobre a realidade fica estabelecido, é preciso uma atitude para ir a frente, deixando que a ocupação (e não seu pré estabelecimento) adquira o lugar certo no devido tempo.

A esperança (e para quem crê é a fé) entra nesse vácuo entre os dois estágios, a pré-ocupação que pode estar envolta de pré-conceitos da realidade, e a verdade estabelecida pelo fenômeno em si, alguns pensarão o fato, mas o fenômeno ou a coisa em si, é própria e o fato depende sempre de uma narrativa sujeita ao pré-conceito.

Resumindo, não se preocupe antes da hora, deixe que o fenômeno e a realidade fale por si na hora exata de sua “ocupação” ou em termos ontológicos de sua “presença”, seu da-sein.

GADAMER, H.G. Verdade e método. Tradução Flávio Paulo Meurer. 3ª. ed. Petrópolis (RJ): Vozes . 1997.

 

A volta às nações e ausência do Todo

24 abr

Em tempo de hipercomunicação, a mídia social faz sentir a ausência do Todo, que Peter Sloterdijk chama do Grande: “a forma do grande no mundo industrial insiste no conhecido estresse megalopata em dimensões ampliadas – mas então devem preocupar-se as pessoas da rua, que antes teriam apoiado um Ministro das Relações Exteriores” (Sloterdijk, 1999, p. 61), o que ele não imaginava era que isto teria uma reação contrária: a volta do patriotismo.

Porém somente forças inesperadas perceberam este efeito, enquanto a sociedade atual: “sofrendo crises de náusea frente a sua classe política, no momento não pode fazer mais do que conceder uma pausa de reflexão para questões fundamentais” (p. 62).

O autor percebe a falta de “alguma coisa”, o destaque é dele, mas prefere “interpretá-lo como o espírito da era agrária” e dos grandes impérios (pg. 60), e em sua visão agnóstica, “para ela chegou o momento crítico com a “morte de Deus” “ (idem), novamente o destaque é do autor.

Assim na ausência de uma figura escatológica, num mundo que rejeita a ideia do sagrado, do divino e de um Deus humano-divino dos cristãos, “a forma do Grande é mudada, patologias de filiação de todo tipo tornam-se epidêmicas” (pg. 66), não só na política, mas também religiosas, todos acreditam terem encontrado um “grande” e o colocam hereticamente no lugar de Deus, até mesmo nas religiões um deus imaginários da riqueza, do ócio e até da luxúria, por mais contraditório que possa parecer.

O livro do final do milênio passado, entende o problema certo mas no lugar errado, sob o tema de “revolução conservadora” (novo destaque do autor) experimenta-se a “duas ou três gerações nos movimentos catolizantes da resistência na Europa central e do sul, provavelmente pela frente uma grande carreira intercultural – sob estandarte religioso, culturalista, regionalista” (pg. 67).

Volta a uma análise correta: “no Grande moderno – as identidades estado-nacionais quase religiosas que desde o século XIX marcaram formas políticas de vida na Europa e mais tarde no mundo inteiro” (idem), lembre-se o nazismo e agora em várias formas de guerras “nacionais”.

O fenômeno moderno deste Grande, da grande pátria seja em Israel ou na Rússia, na China ou nos EUA, não é outra coisa senão a ausência de um Grande Maior, o divino que leve os homens a quebrar fronteiras, a conviver com o diferente e a entender a necessidade de uma nova civilização que veja o planeta como Terra-Pátria.

Para o grande religioso, pode-se perguntar onde está Deus, mas a figura divina-histórica de Jesus e sua visão além-abraamica que ultrapassa a destes povos em conflito, proclamava um lema universal: “Quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12,45).

 

Um poder escondido nos pequenos

19 abr

Em toda história se ignorou as camadas da sociedade que não tinham participação no poder, não em regimes autoritários onde isto fica evidente, ainda que os ditadores gozem de alguma popularidade devido seu poder de manipulação e uso da força, a maioria da sociedade deve e o processo se torna irreversível com o acesso através das mídias sociais, que podem ser redes.

O poder dos laços fracos, desconhecido pela maioria dos manipuladores e autoritários existe e mesmo que submetidos a um duro regime, nas sombras e nos meios informais ele acaba se manifestando, porém, o poder de propaganda e de massificação na grande mídia era imenso.

É verdade que parte da opinião dita popular também está sujeita a tradições e culturas de opressão e manipulação, já o era antes, e agora pode tornar-se perverso, mas quando usado para promover o bem comum, a igualdade e o respeito, poder ser a única força assimétrica.

A opressão supõe sempre um certo consentimento, por persuasão, por medo ou por alguma conveniência circunstancial ou histórica, porém ao longo do tempo, pode demorar anos, uma verdadeira opinião “pública” prevalecerá e a polarização das forças imperiais em jogo, irão se enfraquecer.

Como reconhecer o lobo e o cordeiro neste jogo, é simples, e a parábola bíblica explica (Jo 10,12):

“O mercenário, que não é pastor
e não é dono das ovelhas,
vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge,
e o lobo as ataca e dispersa”.

O pastor conhece as ovelhas e elas escutam sua voz, diz outro trecho bíblico, e ele não age com o poder, mas como protetor e facilitador do caminho das ovelhas para não se perderem.

 

Poder em Foucault e Chul-han

16 abr

Michel Foucault rompeu com as concepções clássicas do termo poder e define como uma rede de relações onde todos os indivíduos estão envolvidos, e entendemos a rede aqui com o sentido moderno de rede embora fosse vago no seu tempo, os indivíduos são tanto geradores como destinatários do movimento destas relações, entretanto ele as identifica como biopoder, enquanto Chul-Han vai identificar como psicopoder, e de certa forma agrega as mídias a isto.

A ideologia de Estado, nascida de Hegel é a base de toda história de poder contemporâneo, o autoritarismo e as guerras modernas nasceram de uma nova ideia de imperialismo e colonialismo, na qual estados mais fortes controlam o poder não apenas pelas armas, mas antes pelo biopoder e agora pelo psicopoder.

O biopoder de Foucault, o estado é o primeiro nível de poder (ele chama de setor), o mercado o segundo nível, e, o terceiro é a sociedade civil, a ideia de 4º. poder da imprensa vem daí.

Ele estudou o poder não para desenvolver uma teoria sobre ele, mas para identificar aspectos da subjetividade (na ontologia seria a questão do Ser), ou seja, sujeito sobre os outros sujeitos.

Isto é importante para diferencia-lo de Chul-Han, que parte das relações ontológicas entre os seres e identifica a ação de mídias e estruturas mídias que atuam sobre a psicologia do poder, assim sua ideia de poder (O que é poder) é como uma técnica de dominação que estabiliza e reproduz o sistema dominado por meio de uma programação e de um controle psicológicoc.

Foucault vê o biopoder, como no corpo como uma máquina de adestramento, já que a biopolítica, em meados do século XVIII, estava focada em controles reguladores da população, a ideia que era o aumento populacional que proporcionava a miséria e a fome.

Peter Sloterdijk que orientou a tese de doutorado de Chul-Han sobre Heidegger, defende que este processo de “adestramento” falhou e assim, o processo de controle desenvolve-se para o quarto poder, que Chul-Han focaliza excessivamente nas mídias, esquecendo do 4º. poder da imprensa, TVs e cinema que influenciaram enormemente.

Ele desenvolve patologias de autocentramento (narcisismo), instabilidade emocional (borderline) como respostas às demandas de uma sociedade intoxicada de exigências de eficiência, de aparência e de coerção disciplinar, escreveu o autor):

“É inerente à sociedade pré-moderna da soberania a violência da decapitação; seu medium é o sangue. A sociedade disciplinar moderna é, em grande medida, uma sociedade da negatividade, sendo regida e dominada pela coerção disciplinar, isto é, pela ‘ortopedia social’. Sua forma de violência é a deformação. Mas nem a decapitação e nem a deformação estão em condições de descrever a sociedade de desempenho pós-moderna. Ela é dominada por uma violência da positividade, que confunde liberdade e coerção. Sua manifestação patológica é a depressão” (Han 2018,  pp. 183-184).

HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Âyiné, 2018. 

 

Vencer o medo tendo esperança

12 abr

É comum ouvir no dia a dia, não tem jeito, está tudo perdido mesmo, em dias difíceis para toda a humanidade, parece impossível acreditar num futuro cheio de luz e felicidade, porém tanto na filosofia quanto na verdadeira espiritualidade existe um espírito de resistência: a esperança.

Tantas vezes na história parecíamos perto do fim, os impérios antigos, as grandes guerras e as duas “mundiais” recentes não são um mero acaso, e também não deixaram de ter muita morte, tristeza e decepção, mas o pior é que não tivemos a sorte de entender aquele flagelo.

Não sabemos lidar com a dor, com a decepção, com o “não” e queremos a todo custo ser os vencedores em qualquer contenda, até mesmo as esportivas que deveriam ser motivo apenas de alegria e distração, podem se tornar uma guerra pela falta de espírito sadio de competição.

Na Sociedade Paliativa: a dor hoje, Byung Chul-Han escreve: “A sociedade paliativa é uma sociedade do curtir. Ela degenera em uma mania de curtição. O like é o signo, o analgésico do presente. Ele domina não apenas as mídias sociais, mas todas as esferas da cultura. Nada deve provocar dor”, queremos algo que “cure” imediatamente ou suprima qualquer dor ou mesmo um pequeno sofrimento.

O autor cria um verbo baseado nas novas mídias: “Não apenas a arte, mas também a própria vida tem de ser instagramável; ou seja, livre de ângulos e cantos, de conflitos e contradições que poderiam provocar dor. Esquece-se que a dor purifica”, e o medo traz luz a consciência. 

Como vencê-lo? Já parou para tentar responder essa pergunta? com a Esperança, não aquela de quem espera e nada faz, mas aquela de quem para e medita sobre a dor, sobre também aqueles que sofrem injustiças, julgamentos e que deveriam ocupar nossas consciências.

A resistência do Espírito, que Edgar Morin preconiza para os dias de hoje, são também um espírito de Esperança, porque de nada valeria o exercício espiritual, sem que nele coubesse uma crença num futuro melhor para todos, de paz, de justiça e de aceitar as diferenças.

Na narrativa bíblica, quando os discípulos viram Jesus ressuscitado “andando sobre o mar”, tiveram medo e não entenderam bem o significado icônico dele, mas o mestre disse (Jo 6,19): “Coragem, sou eu”, e se aproxima deles, uma força nova veio justamente após este “medo”.

 

O infinito não é só “acreditar”

11 abr

Nem sempre que temos conceitos morais e religiosos significam que superamos o medo, a angústia e as dificuldades da vida, orações e pregações fervorosas podem encobrir a verdade, isto afasta muitas pessoas da crença na felicidade e vida eterna porque não leem isto na vida real de quem crê.

Quando algo do infinito nos toca na vida, não apenas descobrimos a verdade, não apenas uma crença em alguém (algo é coisificar o eterno) que faz parte desde já em nossa existência, isto nos revigora e torna capazes de ajudar o mundo da paz, da esperança e do verdadeiro Amor.

Sabemos em nosso íntimo que ninguém pode sondar e saber verdadeiramente de nossa alma, no entanto, alguém perscruta nosso interior, quando amamos e fazemos algo bom pelos outros, por nós mesmos e pela humanidade, algo bom invade nosso ser e nos dá serenidade.

Esta força que desperta interiormente levou grande sábios, mestres e santos a descobrirem algo novo que os fez progredir numa verdadeira ascese, foram capazes de atitudes heroicas, mas curiosamente com peso menor que seria para os homens que não conhecem esse Amor.

Quando vivemos de fato esta dimensão, até mesmo certo tipo de religiosidade rotineira e burocrática nos abandona, queremos ver o Outro crescer, queremos ouvi-lo e amá-lo como é.

Assim superamos o medo com atitudes positivas em relação ao mundo e as outras pessoas, assim o que é realmente Verdadeiro, ou seja, o bem humano e o divino em nós, se manifesta também fora e não há nisto nenhum medo, nenhuma angústia porque é um Bem Verdadeiro.

O contrário, a constante oposição ao Outro, o sentimento de sempre salientar a diferença e a arrogância de ser superior em algo que fazemos bem ou melhor que os outros, embora pareça verdadeiro, leva junto um sentimento que nos afasta do Outro e da humanidade, não é a paz.

Se olharmos para as guerras, veremos sempre este princípio, ver o outro inferior e menor que nós, assim não são dignos de viverem, “merecem” toda maldade que no fundo está no nosso interior e não nestas pessoas, a maioria inocentes, ainda que dentro de cada povo ou nação há pessoas que não seriam dignas do nosso bem querer, não é eliminando-as que construímos a paz.

A paz verdadeira entre os homens nasce do coração sereno, que entende o infinito, e que almeja ainda que num futuro distante, uma vida melhor para todos, sem injustiças e guerras.

 

Substância e a essência do Ser

04 abr

Substância é um conceito essencial tanto da metafísica como da ontologia, embora a modernidade queira caracterizá-la apenas como aquilo que é material, a etimologia diz sub instância, ou do latim literalmente é “o que está abaixo de”, mas pode ser também “derivado de”.

O dualismo como vê tudo como oposição e afirmação, uma substância primeira é aquela que não tem a disposição em contrário, por exemplo, um homem, uma árvore ou um animal, não existe seu oposto, porém ainda não é o que designa o Ser, já que estes mudam, nascem com alguma forma originário e depois modificando são o fundamento de algo “derivado”: uma acidente, uma sub-instância de homem, de árvore ou de algum animal.

No século XVII René Descartes propõe uma divisão entre corpo e mente, dividindo a substância em duas categorias: res extensa, que se refere à matéria física, e a res cogitans que se refere à mente ou ao pensamento, o dualismo simplificado como corpo e mente, neste século havia ideias contrárias: o monismo “atomista” de Leibniz e o natural de Spinoza.

O século XVIII esta ideia sofre duas reformas: a de Hume que critica a substância como algo essencial sendo apenas uma ideia criada pela mente humana, para dar sentido à experiência, e o idealismo kantiano, a substância não é uma coisa em si, mas uma categoria do entendimento humano.

Ainda nos limites do kantismo, permanecem duas possibilidades de conceber um ser ou um objeto, o sentido imanente, que permanece no âmbito da experiência possível, mas agindo somente através dos sentidos (conceitos ou princípios cognitivos) e o transcendente, que admite um deus imanente, que permeia toda a realidade e não se separa da matéria.

O transcendente é então o que leva o sujeito (daí chamar-se subjetividade) ao objeto (objetividade) permitindo o conceito ou princípio cognitivo.

A ideia de uma pessoa, ou três pessoas no caso cristão, é aquela que dá ao ser (não o separa do objeto e da experiência) a sua transcendência e assim permite uma ascese espiritual.

No caso cristão chamo a atenção para Jesus Ressuscitado que pede e assa um peixe e come, não por necessidade, mas por possibilidade, assim não afeta a substância embora a conceba.

Diz a passagem (Lc 24, 40-43): “E dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” Deram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele o tomou e comeu diante deles”, se não tinha necessidade porque comeu, lembrem-se da última ceia.

 

Eu, o Outro e o Terceiro Oculto

03 abr

O princípio da incerteza que vinha da física, a partir de Heisenberg, no início do século passado aos poucos colocou a Física em cheque, pondo o determinismo científico, o logicismo também  em cheque devido o paradoxo de Gödel que determinava que um sistema matemático axiológico ou é completo ou consistente, não podendo ser os dois ao mesmo tempo, porém uma nova visão científica e ontológica se desenhava, a Ontologia Transdisciplinar.

    Na semana de 13 a 17 de julho de 2008, a 9ª. Conferência anual do Instituto Metanexus, realizada em Madrid, Espanha, entre filósofos, biólogos, físicos, cosmólogos, neurocientistas, cientistas cognitivos, historiadores, educadores, teólogos e líderes de comunidades aconteceu com o tema “Subject, self, and Soul: Transdisciplinary approches to Personhood”, onde Barsarab Nicolescu foi convidado a abrir a Conferência.

    Nela Nicolescu vai desenvolver a ideia do terceiro oculto, a filosofia já havia falado do Outro através de Lévinas, Ricoeur e o educador Martin Buber, que no livro “Eu-Tu” reconhece no outro um algo “divino”, mas para aí como os outros, para na beira do conceito de alteridade.

   Nicolescu foi a frente, escreve como Heisenberg um modelo de ultrapassar o dualismo sujeito x objeto, característico da modernidade: “: “Nunca podemos chegar a um retrato exato e completo da realidade (Heisenberger, 1998, p. 258). A incompletude das leis da física está presente em Heisenberg, mesmo que ele não faça nenhuma referência aos teoremas de Gödel. Para ele, a realidade é dada como “texturas de diferentes tipos de conexões”, como uma “abundância infinita”, sem qualquer fundamento último” (Nicolesceu, 2008)

    Citando ainda Heisenberg, afirma Nicolescu citando a consonância com Husserl, Heidegger, Gadamer e Cassirer (que ele conheceu pessoalmente), que é preciso suprimir qualquer distinção rígida entre Sujeito e Objeto.

   O ideia do sujeito oculto em Nicolescu está além do limiar Eu e o Outro, está na concepção que vem da física que existe um terceiro estado na natureza, o Terceiro Incluído além do Ser e do Não-Ser, chama-os de Objeto-Transdisciplinar e Sujeito-Transdisciplinar, na física quântica já estava claro que a análise de um fenômeno do Objeto deve ser transdisciplinar devido um estado então desconhecido na natureza, agora também um Sujeito Transdisciplinar é descrito por Nicolescu (chama-o TD-Subject) que desvela o Terceiro Oculto.

    Embora o tema fale da alma e chega a falar de espiritualidade, para uma boa leitura bíblica é preciso entender o desvelamento de Jesus após sua morte (aparição é um termo limitado) que se revela de modo surpreendente e divino aos discípulos, o Terceiro Oculto é Ele próprio.

   Na passagem de discípulos que estão caminhando para Emaús e um Terceiro caminhante se infiltra entre eles, ao verem partir o pão logo vão lembrar de sua “conversa”: “ Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).

NICOLESCU, B. “Subject, self, and Soul: Transdisciplinary approches to Personhood”, Metanexus Conferece, Madrid, 2008.

 

Física quântica, terceiro oculto e espiritualidade

02 abr

Nicolescu Barsarab além de formular a teoria do terceiro incluído, fundamentando pela física quântica que o princípio de Aristóteles do terceiro excluído, existe A ou não-A sendo excludentes, entretanto a física quântica já havia revelado um terceiro estado T, como uma combinação entre os estado de “existência” e “não-existência” como um estado físico, este Ser existente ou não como terceiro estado permite falar de uma Ontologia Transdisciplinar.

Sucintamente, Nicolescu (2002) desenvolveu é que em vez de uma realidade esperando para ser descoberta usando o método científico, existem múltiplos níveis de Realidade (ele coloca Realidade em maiúscula e usa a letra T para transdisciplinaridade) organizados em dois níveis.

Um nível diz respeito à Realidade Subjetiva (TD-Sujeito), assim chamada porque trata da fluxo interno de perspectivas e consciência. Incluem-se psicologia e filosofia individual, família, comunidade, sociedade, história e ideologias políticas. O outro nível diz respeito à Realidade objetiva (TD-Object), assim chamado porque trata do fluxo externo de informações, fatos, estatísticas e evidências empíricas.

Os exemplos incluem economia (negócios e direito), tecnologia, ciência e medicina, ecologia e meio ambiente, planetário (mundial e global) e cósmico e universo (Nicolescu, 2002, 2016).

Cada nível de Realidade é diferente, mas “cada nível é o que é porque todos os níveis existem no mesmo nível”, a existência de um único nível de realidade, o fechamento disciplinar do conhecimento, também Edgar Morin alerta para isto, cria um novo tipo de obscurantismo, do fechamento disciplinar em áreas de conhecimento.

Diz Carta da Transdisciplinaridade de Arrábida no seu preâmbulo: “Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais cumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências, no plano individual e social, são incalculáveis”, e diz no seu artigo terceiro: “A transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar; ela faz emergir novos dados a partir da confrontação das disciplinas que os articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza da realidade” (Arrábida, 2014).

A abertura para o sujeito, não se trata apenas da subjetividade idealista, é a própria abertura ao Ser e o que a Ontologia Transdisciplinar propõe é vê-lo na complexidade que se desvela.

Nicolescu, B. Manifesto of transdisciplinarity. New York, NY: SUNY Press, 2002.

Nicolescu, B. The Hidden Third [W. Garvin, Trans.]. New York, NY: Quantum Prose, 2016.

Freitas, L., Morin, E., Nicolescu, B. Portugal, Convento da Arrábida, 6 de novembro de 1994.