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Arquivo para maio 16th, 2025

O que é sentido para Agostinho de Hipona

16 mai

Em sua epistemologia, Agostinho revela que pode ver e tem o sentido das coisas, mas podem existir sombras, dito assim: “Assim sendo, não podemos dizer que o objecto que é visto gera o sentido; mas gera uma forma ou a sua semelhança, que se produz no sentido da vista quando sentimos alguma coisa, vendo-a.” (Agostinho, 2008, p. 88), então o conhecimento não é inato.

O exemplo de Agostinho é interessante porque usa a ideia do sinete (um imprimatur com um selo, por exemplo), a imagem que ele produz: “quando na cera se imprime um sinete, a imagem não deixa de se produzir por apenas se ver depois da separação. Mas porque, depois de separada a cera, se mantém aquilo que foi produzido, por forma a poder ser visto, é por isso fácil persuadir-se de que a forma impressa na cera a partir do sinete já existia, mesmo antes de ser separado dela.” (Agostinho, 2008, p. 88-89), mas se fosse líquido não permanecia.

Assim explica as três formas de visão que podemos ter: “A primeira delas, ou seja, a própria coisa que se vê, não pertence à natureza do ser vivo, a não ser quando olhamos o nosso corpo. A segunda, de tal modo lhe pertence que no corpo se forma e, pelo corpo, se forma na alma; forma-se no sentido da vista, o qual não existe nem sem o corpo nem sem a alma. A terceira é só da alma, já que é a vontade.” (Agostinho, 2008, p. 90), isto explica sua visão da alma.

Assim, na metáfora do sinete, somente uma mensagem é gravada se a Alma está predisposta, e assim recebe a mensagem (foto acima).

Embora coexistam esta três formas de visão, elas precisam das três etapas e se concretizam na vontade, vista como: “essa tem tal força para uni-las a ambas que não só dirige o sentido que vai receber a forma para o objecto que é visto, como, depois de receber a forma, o mantém fixo nele” (AGOSTINHO, 2008, p. 91).

As formas que a visão se concretizam no exterior auxiliam a não ver as sombras que as degradam, digo por Agostinho assim: “quando vive segundo a trindade do homem exterior, isto é, quando consagra às coisas que do exterior enformam o sentido do corpo não uma louvável vontade pela qual as refira a qualquer coisa de útil, mas uma indigna concupiscência pela qual a elas se prenda.” (Agostinho, 2008, p. 91), assim temos a tendência a ver sombras.

É assim que pode-se entender a “iluminação” diria da consciência (Agostinho diria divina), onde: “… é assim que, da memória, e da visão interior, e da vontade que as une a ambas, se forma aquela trindade; o reunirem-se* estas três coisas numa só, chama-se ‘pensamento’** a partir de ‘reunião’***.E, nas três, já nem a substância é diferente”¬ (Agostinho, 2008, p. 92).  

Assim a linguística agostiniana não é dualista, nem imanente nem transcendente.

AGOSTINHO, St. De trinitate, livros IX e XIII, Tradutores : Arnaldo do Espírito Santo / Domingos Lucas Dias / João Beato / Maria Cristina Castro-Maia de Sousa Pimentel, LusoSofia:press, Covilhã, 2008.

¬ As notas da tradução portuguesa explicam: “coguntur*. cogitatio**. coactus***. O verbo cogito, ‘pensar’, é formado do verbo ago, ‘levar’, do qual deriva o verbo coagere > cogere, ‘juntar’, e o substantivo coactus, resultado da acção de juntar: ‘reunião’. Daí a associação conceptual que Agostinho estabelece entre pensamento e reunião.