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Arquivo para a ‘Recursos comuns’ Categoria

A paz e a morte do papa

21 abr

As conversações de tréguas entre Rússia e Ucrânia, entre Israel e o Hamas e a guerra só tarifaço de Trump põe o mundo sob alerta de uma grave período de instabilidade civilizatória.

A morte do papa Francisco nesta madrugada da Brasil e manhã da Itália significa também a perda de um defensor incansável da paz e repercute no mundo todo. 

Em nota oficial, na tarde de hoje (21/04) o Vaticano esclareceu que a morte do Papa Francisco aconteceu as 7h35 (hora da Itália), portanto 2h35 do Brasil), causada por:

– AVC Cerebral

– COMA

– COLAPSO CARDIOCIRCULATÓRIO IRREVERSÍVEL  

Deixo um vídeo pessoal onde faço uma reflexão sobre o verdadeiro pensamento do Papa sobre questões polêmicas expressa no capítulo 3 de sua encíclica Fratelli Tutti (todos irmãos), segue:

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A grande paixão civilizatória

14 abr

Guerras militares, guerras de mercado, situações endêmicas (a dengue atualmente no Brasil, por exemplo) e uma retórica polarizadora sem fim é uma crise civilizatória, a base não é a situação conjuntural de agora, ela vem desde o início da colonização e se agravou com duas guerras mundiais.

Parecia no final da segunda grande guerra que com a ONU, o estabelecimento de direitos humanos e os acordos nucleares que tínhamos encontrado a saída, porém a base de todo este processo, temos postado aqui, é um pensamento idealista, que a polarização chama de neoliberal e o outro polo de comunista, porém toda guerra é de pilhéria e morte de inocentes.

Reunidos pela OTAN, os ministros da Defesa europeus (foto) salientaram em reunião finalizada no domingo (13/04), que apesar das negociações dos Estados Unidos com a Rússia, que ambos consideram avanços, a Europa desacredita porque as agressões da Rússia continuam, e ameaçam a região.

Não importa a retórica, a base de todo pensamento idealista/iluminista é um estado forte e muitos países não abandonam este pensamento, a crise tarifária agora é a manifestação do lema de Trump: “American first”, americano primeiro enfrentando até mesmo a Europa.

O pouco que entendo de economia, entendo que há uma interdependência das nações, um carro produzido em qualquer parte do mundo tem peças produzidas no mundo inteiro, os americanos querem que voltem a ser produzidos lá, com as tarifas o carro americano fica mais caro, enquanto a tática da China tem sido produzir barato e dominar os mercados.

Aliás a pedido das montadoras americanas, no quesito produção de carros Trump recuou, no sábado (12/04) recuou também na taxação de smartphones, computadores e chips.

Haverá mais empregos nos EUA, mas isto não me parecia um problema, muita gente ia para lá porque haviam empregos e bem remunerados, porém neste quesito a deportação de ilegais é também no caminho contrário e a falta de mão de obra poderá representar outro problema.

A guerra no Oriente Médio segue cruel com os Houthis, nos ataques o chefe da inteligência do grupo Abdul Nasser Al-Kamali foi morto, e as ameaças ao Irã prosseguem um caminho perigoso.

Há sempre esperança, há sempre negociadores com desejo sincero da paz, o que faz a crise civilizatória avançar é o pensamento imperialista e belicista aumentar com a eleição cada vez maior de governos autoritários, influenciados pelo pensamento iluminista, que veem os países de outros povos como inimigos e não cedem em qualquer processo de negociação.

É uma semana para os cristãos que envolve a paixão de Jesus, parece estar mais próxima de uma paixão civilizatória da humanidade, é preciso pensar nos inocentes, no futuro da humanidade e na paz tão desejada, mas pouco lembrada na hora de algum conflito, é preciso semear a paz.

 

Finitude, guerras e paixão

07 abr

Não nos referimos aqui a paixão emocional, porém aquela que os sofrimentos causam e que segundo o sentimento religioso (lembrando a paixão de Jesus) é também um momento de muitas mudanças trágicas e reafirmação de um alento salvífico.

O homem quando esquece de sua finitude se imagina dono do seu futuro e não olha ao lado.

A humanidade parece viver isto, agora no lado econômico, com uma economia já frágil devido as guerras, o tarifaço do governo Trump sobre as importações daquele país trazem uma forte instabilidade no comércio internacional, com reflexo no câmbio financeiro e nas bolsas.

Apenas alguns países com pouca expressão econômica ficaram fora deste tarifaço, as ilhas Seycheles, Burkina Fasso e algumas ilhas do pacífico, até mesmo o governo da Argentina que correu para algum acordo (Milei foi pessoalmente aos EUA) voltou de mãos vazias, a desculpa foi o atraso do helicóptero que levava Trump, mas pouco depois afirmou que exige que um afastamento da China que tem fortes investimentos lá, desde o governo anterior.

As tarifas lembram os níveis do Ato de Tarifas de Smoot-Hawley de 1930, aprovado por uma margem de 20 votos no Senado americano, que provocou uma guerra mundial global e aprofundou a Grande Depressão, conforme análise de especialistas em comércio.

Não apenas por estas tarifas, pois cresce a impopularidade do governo Trump, houveram diversas manifestações neste fim de semana nos EUA, até tradicionais parceiros os vizinhos México e Canadá estão nesta guerra, já com medidas de retaliação as importações dos EUA.

As bolsas asiáticas já abriram em “forte queda” nesta segunda feira, segundo diversos canais de notícias, e deve provocar além dos problemas econômicos agravamento nas guerras e uma onda ainda mais forte de governos autoritários, medidas de restrição de liberdade, etc.

Assim é um clima de paixão, não a divina, mas a humana, o processo civilizatório pode entrar em uma fase mais acelerada que as guerras militares em uma crise econômica e humanitária, que já é grave em quase todo o globo, tudo parece próximo ao cenário da pré-guerra de 39.

O Brasil na época, durante o início do governo Vargas (que depois de eleito se tornará uma ditadura) queimou toneladas de café nos portos, então uma riqueza nacional, para segurar os preços e isto encerrou o grande ciclo do café no Brasil e em especial no Estado de São Paulo, grande produtor.

Dois analistas econômicos André Valério e Rafaela Vitória afirmaram que “o cenário que já era complexo ficou consideravelmente mais incerto”, referindo-se também aos índices de produção no Brasil que tiveram uma leve queda em fevereiro/2025 apontou Rafaela no X (veja o gráfico).

 

Coração puro e superação

13 fev

Somente aqueles que conseguem manter um coração puro, um desejo de sempre avançar, é preciso que ir além do mundo cheio de mágoas, rancores e ódios, da valorização do “eu” e não do Outro, a superação é possível se não olharmos para o que passa e não tem grande valor.

Os desafios, as dores e dificuldades fazem parte da vida, são vencedores os que vão além destas contingencias e mais que isto são solidários aos que passam ao seu lado, sempre que temos alguém para partilhar e para seguir em frente, a vida pode ser diferente do mero viver.

O filósofo coreano-alemão Byung-Chul Han escreveu: “Assim, cada crítica da sociedade tem de levar a cabo uma hermenêutica da dor. Caso se deixe a dor apenas a cargo da medicina, deixamos escapar o seu caráter de signo” (Han, 2021), pois não sabemos superar a dor e nem somos solidários com quem sofre.

No seu livro A sociedade paliativa: a dor hoje, escreveu: “A arte de sofrer a dor se perdeu inteiramente para nós … A dor é agora, um mal sem sentido, que deve ser combatido com analgésicos. Como mera aflição corporal, ela cai inteiramente fora da ordem simbólica” (Han, 2021, p. 41), os destaques são do autor.

A sociedade tem dificuldade de viver a empatia, a felicidade e a afetividade, ela está condenada a calar-se, e “a sociedade paliativa não permite avivar, verbalizar a dor em uma paixão” (Han 2021, p. 14), grifo do autor, assim a paixão parece perder sentido ou ser “uma fraqueza”, quando na verdade é dela que tiramos o desejo de persistir e ir avante.

Assim podemos transformar a dor em amor, melhor que isto podemos entender melhor o que é paixão e o que com-paixão, sentimentos cada vez menos colocados na ordem do dia, o desejo de diminuir o outro, como fazem os haters, os memes e a negação do Outro, torna a sociedade mais agressiva, valoriza-se não a dor, mas o ódio, o escárnio e a humilhação.

Acreditar e persistir na crença de valores fundamentais para um verdadeiro humanismo é fonte essencial de civilidade, que pode contribuir com um processo civilizatório positivo e no qual aquilo que tem de mais humano pode ser valorizado, é preciso acreditar e persistir.

Na foto acima, System of Pain/Networks/Networks of Resilience, curadoria de Cecilia Vargas, no Dickson Center at Waubonsee Comunity College, Junho 7 a 10 Julho, 2018,

HAN, B.-C. A sociedade paliativa: a dor hoje: Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.

 

Desenvolvimento, poder e civilização

08 nov

A política dominada pela arrogância do poder, pelo pouco serviço as causas sociais e pelo desprezo e desrespeito a cidadania do cidadão comum é a vida pública deteriorada.

A polarização em dois grandes blocos políticos não aconteceu recentemente, Edgar Morin em seu livro Terra-Pátria já afirmava: “A guerra fria começa já em 1947. O planeta está polarizado em dois blocos, travando em toda parte uma guerra ideológica sem remissão. A despeito do equilíbrio do terror atómico, nem por isso o mundo se acha estabilizado” (Morin, 2003, p. 30).

Que tipo de crise é esta? em outros livros Morin fala da crise do pensamento, neste de uma crise do desenvolvimento: “Nossa civilização, modelo do desenvolvimento, não estará ela própria doente do desenvolvimento?” (Morin, 2003, p. 83).

A crise civilizatória que vivemos, tem efeitos colaterais: “Os indivíduos só pensam no dia de hoje, consomem o presente, deixam-se fascinar por mil futilidades, tagarelam sem jamais se com- preender na torre de Babel das bugigangas. Incapazes de ficar quietos, lançam-se em todos os sentidos” (Morin, 2003, p. 84).

Outro efeito é os jovens: “Quando a adolescência entra em rebelião contra a sociedade, quando ela “se extravia” e mergulha na droga pesada, acredita-se que é apenas um mal da juventude; não se percebe que a adolescência é o elo fraco da civilização, que nela se concentram os problemas, os males, as aspirações difusas e atomizadas noutra parte”. (Morin, 2003, p. 85).

O que acontece é que entramos numa “corrida cega” como a chama Morin: “A corrida da tríade que se encarregou da aventura humana, ciência/técnica/indústria, é descontrolada. O crescimento é des- controlado, seu progresso conduz ao abismo”. (Morin, 2003, p. 92).

Certamente produzimos frutos civilizatórios importantes: “Ah, certamente! Shelley, Novalis, Hulderlin, Pushkin, Rimbaud, Bach, Mozart, Schubert, Beethoven, Mussorgski, Berg são os frutos históricos de um desenvolvimento civilizacional; mas a obra deles transcende esse desenvolvimento, ela exprime nosso ser-no-mundo, fala-nos do indizível, leva-nos ao limite do êxtase, lá onde se atenua a influência irremediável do tempo e do espaço” (Morin, 2003, p.107).

Porém os donos do poder, envoltos em seus devaneios megapolíticos, de impérios e lutas que não contemplam a grandeza humana e civilizatória, incapazes em sua arrogância de abrir mão de privilégios e de outros povos e nações como aliadas e amigas, incapazes de resolver os problemas sociais e climáticos.

Diz o evangelho sobre estes, que são também os de religiosidade farisaica: “Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação” (Mc 12,38-40)

MORIN, E. e Kern, Anne-Brigitte. Terra-Pátria, trad. por Paulo Azevedo Neves da Silva. — Porto Alegre: Sulina, 2003.

 

Além das dores, outra alegria

07 nov

Não há só cancelamentos de identidades e etnias, há também cancelamentos voltados às políticas que eliminam a fraternidade, a solidariedade e o amor.

Edgar Morin para falar da “salvação” escreveu: “A vida, a consciência, o amor, a verdade, a beleza são efémeros. Essas emergências maravilhosas supõem organizações de organizações, oportunidades inusitadas, e elas correm a todo instante riscos mortais. Para nós, elas são fundamentais, mas elas não têm fundamento” (Morin, 2003, p. 164).

Este tipo de cancelamento não é só o mais perigoso, é ele próprio um cancelamento da possibilidade de uma boa-nova: “O amor e a consciência morrerão. Nada escapará à morte. Não há salvação no sentido das religiões de salvação que prometem a imortalidade pessoal. Não há salvação terrestre, como prometeu a religião comunista, ou seja, uma solução social em que a vida de cada um e de todos se veria livre da infelicidade, do acaso, da tragédia. É preciso renunciar radical e definitivamente a essa salvação” (Morin, 2003, p. 164).

Morin cita outro autor fundamental para sua argumentação: “Como diz Gadamer, é preciso “deixar de pensar a finitude como a limitação na qual nosso querer-ser infinito fracassa, (mas) conhecer a finitude positivamente como a verdadeira lei fundamental do dasein”. O verdadeiro infinito está além da razão, da inteligibilidade, dos poderes do homem” (Morin, 2003, p. 164).

Como é este além da finitude pode ser escrito conforme o autor: “O evangelho dos homens perdidos e da Terra-Pátria nos diz: sejamos irmãos, não porque seremos salvos, mas porque estamos perdidos*. Sejamos irmãos, para viver autenticamente nossa comunidade de destino de vida e morte terrestres. Sejamos irmãos, porque somos solidários uns com outros na aventura desconhecida” (Morin, 2003, p. 166), e explica em nota de rodapé (*):

*Na verdade, a ideia de salvação nascida da recusa da perdição trazia em si a consciência recalcada da perdição. Toda religião de vida após a morte trazia em si, recalcada, a consciência da irreparabilidade da morte.

Cita Albert Cohen para explicar: “Que esta espantosa aventura dos humanos que chegam, riem, se mexem, depois subitamente param de se mexer, que esta catástrofe que os espera não nos faça ternos e compassivos uns para com os outros, isto é inacreditável” (Cohen, apud Morin, 2003, pgs. 166-167).

Assim fica seu apelo à fraternidade: “O apelo da fraternidade não se encerra numa raça, numa classe, numa elite, numa nação. Procede daqueles que, onde estiverem, o ouvem dentro de si mesmos, e dirige-se a todos e a cada um. Em toda parte, em todas as classes, em todas as nações, há seres de “boa vontade” que veiculam essa mensagem” (Morin, 2003, p. 167).

MORIN, E. e Kern, Anne-Brigitte. Terra-Pátria, trad. por Paulo Azevedo Neves da Silva. — Porto Alegre: Sulina, 2003.

 

Dilemas sobre a paz na Europa e Oriente Médio

21 out

O primeiro grande dilema, embora bastante é obvio, não tem respaldo na grande imprensa internacional: falta forças que queiram a paz de modo equidistante dos países em conflito.

Outrora a ONU poderia representar este papel, mas com lutas internas entre as grandes potências este poder está limitado a discursos e tentativas de sensibilizar as partes em guerra.

O segundo grande dilema vem de um sério equívoco que é comum ver em forças belicistas: se deseja a paz prepare-se para a guerra, pois é justamente o contrário, se deseja a paz lute por ela.

Além dos países em conflito, todas as regiões fronteiriças se acham sensibilizadas para a guerra, no leste europeu por exemplo, foi notícia na imprensa alemã, que a Estônia que possui apenas 6.500 militares na ativa e uma população de 1,3 milhão de habitantes, fez a simulação de um plano de evacuação recente para retirada da população, embora 60% dos cidadãos se digam dispostos a defender o país, não teriam preparo militar para isto.

Uma curiosa estrutura de defesa foi implantada na fronteira de muitos países bálticos (foto do jornal alemão DW – Deutsche Welle) instala na fronteira, não se sabe a eficácia, mas é para a guerra, a proximidade da Ucrânia e da Rússia faz vários países bálticos se preparem para o pior.

Em meio a ataques israelenses e pouca ajuda pública, são forças ativistas que estão no Líbano que entram em ação, ainda que politizada e insuficiente para as pessoas necessitadas, é o que tem mantido a ajuda humanitária no país, há denuncias inclusive de ser um “negócio” para a Síria, segundo o mesmo jornal DW militares e forças de oposição na Síria cobram valores exorbitantes para o transporte de, refugiados fugindo da guerra.  

Isto induz a um terceiro e grave dilema, a cruz vermelha e o crescente vermelho (versão árabe da cruz vermelha) embora não aceitem a polêmica religiosa, é ela que divide forças de ajuda.

O quarto dilema é resolver a questão de fundo ideológica e cultural-religiosa de fundo nos conflitos, o sociólogo Raymond Aron proferia no período da guerra fria (EUA x União Soviética) uma frase mundialmente conhecida: “A guerra Fria foi um período em que a guerra era improvável, e a paz, impossível”, o dilema agora é inverso: “a paz é improvável, e a guerra possível”, as forças imperialistas em jogos não cederão com facilidade os interesses disputados.

Como pensar na paz, parece um caminho árido e pouco prático, mas grandes pensadores têm apelado para ele: “a resistência do espírito” e como consequência “a resistência da esperança”, Edgar Morin entre outros apontam este caminho, talvez o único mudar a mentalidade do poder, para pensar em solidarizar e servir toda a humanidade, não um grupo específico. 

 

Enfrentar de fato a questão da miséria

24 set

Basta distribuir a renda ou apenas dar um prato de comida, resolve a questão emergencial, mas mantém a pobreza latente e não propicia a ascensão social e estabilidade econômica.

A questão da miséria é um problema complexo embora sua consequência seja facilmente vista, porém, a elevação da qualidade de vida e a sobrevivência digna de milhões de pessoas deve ser encarada de modo além do emergencial, ainda que este seja necessário.

Entre as causas poucas vezes analisadas da pobreza estão a corrupção, as guerras, a infraestrutura precária e a dificuldade em gerar empregos e cria-los com salários dignos, assim a informalidade e até mesmo os crimes e mercados ilegais (até de drogas) são consequências.

As consequências são conhecidas: fome, desemprego, falta de moradia digna, ausência de saneamento básico, violência, propagação de doenças epidêmicas, discriminação e vulnerabilidade social.

Combater um dos aspectos ignorando outros, por exemplo, a questão do saneamento básico é crucial e não é facilmente visível para muitos gestores públicos que veem apenas aspectos que dão mais visibilidade e ajudam a melhorar a visão dos gestores, que no Brasil é sempre crítica.

A questão da distribuição de renda é um aspecto fundamental, mas não se trata de resolver só o emergencial, criar possibilidades de mobilidade social entre os níveis de renda mais baixos é um fator essencial para erradicação da pobreza, assim como promover aspectos de escolaridade e criação de empregos.

O problema global a ser enfrentado é a emigração, não só a fome e a pobreza, mas principalmente as guerras e perseguições a determinados grupos étnicos é um fator muito grave e pode escalar em uma guerra mundial, era visível isto no final das duas grandes guerras.

Programas públicos claros não apenas que resolva o problema emergencial, que é o visível para a população, mas de médio e longo prazo são essenciais, a pouca mobilidade social e a dificuldade das camadas de mais baixa renda de acesso a bens e serviços públicos é ainda um fator crucial em muitos países do mundo, e a miséria extrema persiste, apesar de programas e política, onde elas fracassaram foram exatamente onde a propaganda era mais forte e as medida menos efetivas.

Mudar a retórica do assistencialismo e da distribuição das sobras sociais é fundamental, é preciso devolver a dignidade a toda pessoa humana, superando não só o preconceito, mas principalmente o modo de encarar estas pessoas que tem a mesma dignidade das outras.

 

Justo, a ideia e o pensamento

29 ago

As três palavras são importantes num momento de grande crise do pensamento (o que é), o que é ideia, e a ideia de justiça ou do justo, explorada por pensadores atuais como Jürgen Habermas (citado em post anteriores sobre a inclusão do Outro) e citamos de passagem os dois volumes de Paul Ricoeur o Justo (o volume dois publicado pela Martins Fontes) embora o próprio autor diga que é um ensaio, ele penetra num aspecto mais profundo, a questão da verdade e da moral.

A leitura do texto a Inclusão do Outro de Habermas, esclarece que em termos filosóficos, que a moral em John Rawls, em termos kantianos tem diferenças entre o liberalismo político original de Kant e o republicano kantiano que é como Rawls o defende, isto bastaria, mas há uma longa análise no Volume 1 de Paul Ricouer sobre a justiça em Rawls.

Para entender o livro 2 de Ricoeur é preciso entender que para os gregos a filosofia primeira é aquela que para eles, e a retomada ontológica tem a ver com isto, a metafísica como questões sobre o Ser, a existência, a causa e o sentido da realidade e a physis (natureza) devem ser colocados de modo precedente à segunda os aspectos ligados à lógica e a ética.

O livro 2 aborda aquilo que parece mais essencial em Ricoeur, embora confesse que se trata de um ensaio, sua meta é “justificar a tese de que a filosofia teorética e a filosofia prática são de níveis iguais; como nenhuma dela é filosofia primeira em relação àquilo que Stanislas Breton caracterizou como função meta- (eu mesmo .. defendia essa reformulação da metafísica nos termos da função meta-, na qual seriam unidos “os gêneros máximos” da dialética dos últimos diálogos de Platão e a especulação aristotélica sobre a pluralidade dos sentido de ser ou do ente) “ (Ricoeur,  2008, p. 63) … mas não falou (inicialmente era escrito de uma conferência) disto e sim das duas filosofia segundas.

Sua análise está fundada “num primeiro momento, pensar a justiça e a verdade uma sem a outra; num segundo momento, pensá-las de modo da pressuposição recíproca ou cruzada” (Ricoeur, 2008, p. 64) e esta empreitada “nada tem de revolucionária, situa-se na linha das especulações sobre os transcendentais …” (idem).

Ao abordar o primeiro estágio da análise: “Pensei na declaração de Rawls no início de Théorie de la justice: “A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, assim como a verdade é a primeira virtude das teorias” (pg. 65) e ali o autor retoma a parte ética de outro texto seu: Soi-même comme um autre, para “garantir o estatuto eminente da justiça”.

A ideia desenvolvida ali é que está tríade leva a “eqüidade”, não é o dualismo entre o Eu e o Outro (o próximo usa também Ricoeur), “a tríade pertence ao eixo horizontal não consiste absolutamente na simples justaposição entre o si, o próximo e o distante; é a mesma dialética do si. O querer viver bem enraíza o projeto moral da vida, no desejo e na carência, como marca a estrutura gramatical do querer … mas sem a mediação dos outros dois termos da tríade, o quer vida boa se perderia na nebulosa das figuras variáveis da felicidade … eu diria que o curto-circuito entre o querer vida boa e a felicidade resultado do desconhecimento da constituição dialética do si” (pg. 66).

O autor formula a ideia da distante nestes termos: “justa distância, meio-termo entre a pouquíssima distância própria a muitos sonhos de fusão emocional e o excesso da distância alimentado pela arrogância, pelo desprezo, pelo ódio ao estranho, desconhecido. Eu veria na virtude da hospitalidade a impressão emblemática mais próxima desta cultura da justa distância” (pg. 66).

A justiça no eixo vertical, aquele do poder e da norma é vista pelo autor assim: “no eixo vertical que leva à preeminência da sabedoria prática e, com ela, da justiça como equidade, pode-se fazer uma primeira observação referente à relação entre bondade e justiça. A relação não é nem de identidade, nem de diferença; a bondade caracteriza a meta do desejo mais profundo e, assim, pertence à gramática do querer. A justiça como justa distância entre o si e o outro, encontrado como distante, é a figura inteiramente desenvolvida da bondade. Sob o signo de justiça, o bem torna-se bem comum” (pg. 67).

Considero a tríade o si, o outro e o distante, se visto também como uma alteridade transcendente, há um outro “desconhecido” e que pode ser divino e portador de mensagens, na teoria das redes por exemplo o “elo fraco” é considerado fundamental, o ensaio de Ricoeur é rico, porém ao retomar a questão do imperativo categórico kantiano, que justifica o idealismo político, creio que Habermas está correto em afirmar que este é o deslise na consistente “Uma Teoria da Justiça” de John Rawls atual e muito influente.

Uma parte da leitura bíblica pode ampliar o conceito deste distante como alteridade transcendente (Mt 5,20): “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”, que no sentido deontológico poder-se-ia dizer “não entrareis na verdade da justiça”.

Uma parte da leitura bíblica pode ampliar o conceito deste distante como alteridade transcendente (Mt 5,20): “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”, que no sentido deontológico poder-se-ia dizer “não entrareis na verdade da justiça”.

RICOEUR, P. Justo 2: justiça e verdade e outros estudos. Trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

 

 

Apagando incêndios

12 ago

Com iniciativa do Egito e do Qatar, apoiado por outros países, há uma tentativa de um cessar fogo entre o Hamas e Israel que evitaria uma provável retaliação do Irã pelo assassinato do líder do Hamas, Ismil Haniyeh, em Teerã, no final de julho passado.

O Irã considera possível, porém exige um fim de incursões de Israel na faixa de Gaza, Israel se prepara como se a guerra fosse inevitável, e isto levantaria um novo front de guerra mundial entre o Ocidente e agora o mundo árabe.

O outro front na guerra entre Ucrânia e Rússia com um envolvimento cada vez maior da OTAN, a Ucrânia lançou um ataque surpresa em território russo na cidade de Kursk onde se trava intensos combates, com a Rússia fazendo novo recrutamento de jovens para serviço militar.

Duas preocupantes situações em usinas nucleares também ocorreram neste final de semana, uma na cidade de Rostov, onde uma nova usina foi ligada e houve preocupações com uma unidade que teria algum problema de funcionamento, porém o engenheiro-chefe da usina, Andrey Gorbunov, afirmou segundo fontes da imprensa: “estamos trabalhando com a eficiência máxima”, dizendo que eram manutenções de rotina.

Mais grave foi um incêndio no dia de ontem, nas instalações da usina nuclear Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, neste domingo (11/08), conforme informa a agência Reuters, localizada em zona da guerra, em território ucraniano, mas sob o domínio da Rússia, ambos países trocaram acusações pelo incêndio causado, o presidente da Ucrânia, Zelensky, afirma que a situação está sob controle e os níveis de radiações está normal.

Evgeny Balitsky, um funcionário alocado pela Rússia na região ocupada de Zaporizhzhia, acusou a Ucrânia de iniciar o incêndio bombardeando a cidade vizinha de Enerhodar, e as autoridades russas disseram que a usina “sofreu sérios danos pela primeira vez” devido ao ataque.

Assim o perigo das guerras, que produzem enormes perdas e vidas humanas, o risco de um “acidente”, uma atitude precipitada ou cruel, como assassinatos, pode disparar processos irreversíveis e criar um clima mundial irreversível de guerras e horrores.

A esperança que as forças de paz, e no caso das usinas de forças técnicas competentes, evitem tragédias maiores do que aquelas que as guerras já causam, mortes e desespero humano de civis e pessoas inocentes.