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A hermenêutica e a verdade

26 jan

O grande arquiteto da hermenêutica no século XX foi Hans-Georg Gadamer (1900-2002), que criou uma hermenêutica filosófica, influenciado pelos estudos de Martin Heidegger, de quem foi aluno na Universität Marburg, reelaborou o conceito do círculo hermenêutico a partir de Heidegger.
Na sua obra prima Verdade e Método: elementos de uma hermenêutica filosófica, publicada em 1960, Gadamer não apenas revolucionou a hermenêutica ocidental moderna, como também a reorientou criando uma nova hermenêutica filosófica baseada na ontologia da linguagem.
Segundo Heidegger a hermenêutica é filosófica e não científica (no sentido dos métodos convencionais ainda em vigor), ontológica e não epistemológica, existencial e não metodológica, porque procura a essência da compreensão e não sua norma ou “método”, o método oscila entre o positivismo e o racionalismo, mas sem pertencer ao fenômeno. 
O estudo e a compreensão da existência, uma vez que este permite o conhecimento do Ser, precede as normas, até mesmo aquela consideradas “éticas” pelo iluminismo/idealismo, das regras sociais e não regras morais, diz a teo-ontologia por que o “sábado pertence ao Homem e não o Homem pertence ao sábado”, aqui em referência a “regra ética judaica” ou de sabatistas de guardar o sábado.
Segundo Heidegger, a hermenêutica seria filosófica, e não científica; ontológica, e não epistemológica; existencial, e não metodológica. Seria responsável por procurar a essência da compreensão, e não a normatização do processo compreensivo. O estudo da compreensão confundir-se-ia com o estudo da existência, uma vez que permitiria o conhecimento do Ser.
Embora a hermenêutica contemporânea venha de Schleiermacher e Dilthey, que defendiam a abertura do espírito para uma época que julga a antecedente, e isto seria o processo histórico, Gadamer aponta que não podemos abandonar o presente e enveredar pelo passado como tendo uma “lição histórica”, pelo contrário são os termos das questões que se colocaram no passado que podem define os termos do presente.
O fato do homem vivenciar uma realidade história faz com que sua visão de mundo, e por consequência, suas possibilidades de conhecimento partam dos pré-conceitos que o cercam, tonando impossível eliminá-los por completo, para que possa ler a verdade absoluta, como pretendiam iluministas e historicistas modernos, é um véu sobre a verdade e não a própria.
O círculo hermenêutico que já estava desenhado na obra de Heidegger, na ótica de Gadamer tem um sentido ontologicamente positivo para a compreensão, que segundo ele, no decorrer da interpretação, a elaboração de novos projetos e um novo horizonte se faz necessário.
Assim somente com a admissão dos pré-conceitos vindos da historicidade do interprete que ao serem devidamente analisados em sua veracidade, possibilita uma nova compreensão, a elaboração de novos horizontes, verdadeiramente coerente.
Passar da pré-compreensão para análise e síntese é permanecer no erro, por mais criativo que seja este processo, a ruptura dos pré-conceitos vem “de fora”, da abertura e da reelaboração.
Por isto sistemas viciados, fechados, provincianos e demagógicos sucumbem, trituram o Ser, dizem dar-lhe “identidade”, mas dão apenas fechamento e obsessão

 

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