Redes e Bolhas
Uma sociedade que já vivia em bolhas, sejam elas culturais, políticos ou religiosas, se viu ainda mais presa as suas folhas com a pandemia e o isolamento social, ainda que isto tivesse um aspecto positivo de recuperar as relações intra-bolhas, porém as extra-bolhas parecem que terminaram por serem prejudicadas.
A pandemia mostrou que é impossível viver num isolamento, ainda que em muitos lugares foram tomadas medidas rígidas, e defendo-as como necessárias em muitos casos, o vírus não tem fronteiras, raça ou limites que não possa atingir, e o fim do isolamento social pode não ser tão benéfico como se imagina, os riscos no aspecto sanitário e também os problemas sociais agravados pela pandemia criam um cenário complexo.
É preciso rever o pensamento intra-bolha, aquele que provoca um isolamento social, voluntário ou involuntário, como é o caso das discriminações de todos tipos e não excluo as religiosas, e é preciso sanar o relacionamento extra-bolha, aquele que saindo do nosso grupo de segurança, nos leva ao encontro do Outro.
As redes sociais são um alento, sempre lembrando que não são as mídias de redes sociais exclusivamente, o conceito é mais amplo, é justamente na análise destes contornos fora das bolhas, que a potencialidade das redes se manifestam: a importância dos elos fracos, a análise dos “mundos pequenos” e até mesmo a pandemia pode ser olhada sob um prisma de redes sociais ajudando a análise dos contágios e auxiliando planos de controle.
Olhando a história foram pessoas e situações de contorno que criaram situações e soluções novas, aquelas condições que estão no limite ou fora das bolhas, que s]ao importantes e que via de regra a sociedade e o pensamento conservador as exclui, porque de alguma forma desestabilizam a “bolha”.
Profetas e oráculos na antiguidade foram rejeitados, inclusive pelas bolhas a qual pertenciam, são os casos icônicos de Jesus e Sócrates, por exemplo, mas na história são muitos casos que estão neste limite, e deve-se identificar quem são estes casos no presente, para estar a atento a soluções novas e realmente criativas.
É simbólica para explicar esta situação a parábola evangélica do vinhateiro que chegada a época da colheita manda empregados a sua vinha para receber o que lhe cabia que está em Mateus (Mt 21,33-43), os empregados são espancados, apedrejados e mortos, depois de dois envios o dono da vinha resolve mandar o próprio filho, e ele desperta uma cobiça ainda maior e é morto, e então estes maus vinhateiros tiveram a lição que mereciam.
É importante notar que são os que cuidam da vinha que fazem estas atitudes perversas, isto é, estão dentro das bolhas, assim as primeiras contradições nascem dentro das bolhas e depois se refletem fora, ter uma atitude de abertura ajuda a resolver problemas e prevenir situações limite.