A diversidade cultural e as esperanças
Em seu livro “no mesmo barco: ensaios sobre hiperpolítica” Peter Sloterdijk destaca que: “a aparência histórica ensina a todo observador que grupos humanos nas regiões pioneiras, durante os últimos três ou quatro mil anos, devem ter conseguido navegar sobre suas velhas jangadas de tal forma que agrupamentos de jangadas puderam surgir em grande estilo” (Sloterdijk, 1999, p. 73), o que quer dizer que velhos hábitos culturais resistem ao tempo, mesmo que considere “mentalmente pobre e mesmo assim significativo o termo ´cultura’”. (idem).
Enfatiza que a decadência das superestruturas “revelam que quase nada têm a dar aos indivíduos, nos seus esforços de continuar a vida” (Sloterdijk, 1999, p. 74), e mais que isso pode-se reconhecer que “tão logo decai o opus commune, as pessoas podem regenerar-se somente como unidades menores” (idem).
Assim é nestas unidades menores que pode-se regenerar e elaborar uma nova opus commune, retoma o Decamerão de Giovanni Boccaccio onde há a sobrevivência da pequena comunidade frente ao “desastre da grande”, lembrando o período da peste que pode ser um paralelo com a atual pandemia, lá os fiorentinos “já não sabem se devem temer mais a contaminação ou os saques ou a fome, eles caem numa desorientação equivalente a uma paralisia” (Sloterdijk, 1999, p. 75), a primeira versão de “no mesmo barco” é de 1993.
Num período que sucedeu aos impérios babilônicos, egípcios, sírios e persa, foi nas pequenas comunidades gregas que nasceu a ideia da polis das cidades-estados e que chegou até a república moderna, foi da renascença fiorentina que nasceu uma revolução artístico-cultural que levou o espírito humano as primeiras grandes navegações e as expansão do mercantilismo, e foi do racionalismo franco-alemão que nasceu a revolução liberal burguesa e hoje onde estarão estes pequenos grupos capazes de resgatar a civilização?
Há novas cosmovisões que renascem (elas buscam suas formas culturais primeiras) na África tal como o filósofo Achiles Mbembé e sua necropolítica, uma reação ao poder de ditar quem pode viver e quem pode morrer, na américa latina o sociólogo peruano Anibal Quijano, o filósofo, psiquiatra e ensaísta Frantz Fanon, natural das Antilhas Francesas.
O problema central destes pensamentos é a decolonialidade, ou seja, a ideia que a modernidade e seu projeto político se valeram da colonização e não haverá mudanças significativas nas superestruturas de poder se esta forma de pensamento não for submetida a crítica e ao desmascaramento de seus objetivos.
É daí que podem nascer esperanças, uma reconfiguração do globo onde os povos tenham direito a sua liberdade, a sua expressão cultural e social, com uma vida digna.