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Pequenas ações, ausência do pensar e grandes desastres

01 abr

Li de um psicólogo: “Não são grandes ações que causam grandes efeitos!” é preciso estar atentos a pequenos vícios, pequenas faltas que julgamos toleráveis porque elas se tornam com o passar do tempo grandes problemas, a ideia de deixar livre tudo a nossa volta, torna-nos mais vulneráveis às frustações, as dificuldades da vida, as decepções e obstáculos.

Não se trata também da disciplina rígida dos ditadores e pessoas de pouco diálogo, donos da verdade, pseudo “pensadores” cada dia mais comum na vida cotidiana da sociedade midiática.

As ideias do simplificar, do fazer o que dá na “telha”, liberdade sem obrigações, um mundo sem obstáculos e sem dor (Byung-Chul Han: A sociedade paliativa: a dor hoje), cria um mundo de rebeldes sem medir consequências, ódios gratuitos, intolerância, bolhas e obstáculos ao diálogo, ao direito do Outro e do diferente, enfim a sociedade do ódio e da guerra.

Cada pessoa pode dar seu passo interior antes de levá-lo a sociedade, a ideia que toda ação é externa é própria do não-pensar, o agir impulsivamente e isto não tem apenas ligação com as novas mídias, mas a ausência de reflexão, de meditação e de contemplação (Vita Contemplativa, Hannah Arendt e Byung-Chul Han), pensamentos verborrágicos sem reflexão.

Explica Han citando Arendt: “Vita activa, de Hannah Arendt, começa com a distinção entre imortalidade e eternidade” (Han, 2023, p. 144), e prossegue: “Envolto pelo infinito, o ser humano, como ser moral, busca pela imortalidade ao criar obras que permanecem” (Han, p. 145), mas “em contrapartida, o objetiva da vita contemplativa não é, segundo Arendt, o persistir e durar no tempo, mas a experiência do eterno, que transcende tanto o tempo como também o mundo circundante” (Han, p. 145).

Esclarece que ao escrever também a própria Arendt pode ter tido a intenção de ser imortal, mas “mesmo a escrita pode ser uma contemplação que nada tem a ver com a busca da imortalidade” (p. 146) e ela admira-se que Sócrates não tenha escrito, renunciando assim a imortalidade, não o cita, mas também Jesus não escreveu, os evangelhos só foram escritos pelos discípulos.

Assumir os pequenos tropeços, recomeçar e pensar porque tropeçou ajuda a caminhar.

HAN, B.-C. Vita contemplativa: ou sobre a inatividade. Trad. Lucas Machado, Petrópolis, RJ: Vozes, 2023.

 

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