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Essência, substância e ipseidade

18 jun

Assim o relativismo não se trata apenas de equívocos filosóficos ou lógicos, sua penetração na política e na ciência cria uma visão distorcida mais profunda que o dualismo, que é parte até mesmo de boas referências filosóficas e cientificas, são meias-verdades e por isso sofismas.

O fato que a ciência deseja desvendar do mais microscópico estado da natureza até o infinito além de todo cosmo é porque ainda fazemos perguntas essenciais: o que somos, do que é feita a matéria e todo universo, qual sua dinâmica e como a vida começou.

Assim substância desde Aristóteles, os pré-socráticos apenas especularam, é o que subsiste por si mesmo, o substrato que suporta as qualidades acidentais de tudo que existe, pode-se pensar como uma “matéria primeira” e como ela recebeu forma e características.

Está presente na obra Isagone de Portífirio (234-309) com sua famosa árvore do conhecimento e que seu interprete e tradutor Boécio (480-524) propõe a pergunta sobre se existência particulares ou universais, chamado por isto de “querela dos universais”, se podemos criar categorias universais, o tema da essência e substância aqui pode ser reduzido a: o que é ? e o que tem ?.

A discussão que foi até o final da idade média, que coisa (quid) é essência ou substância de tudo, teve em Duns Scotus (1265-1308) uma aproximação, o que chamou de hecceidade e teve sua recuperação por Heidegger que reelabora a ontologia a partir da fenomenologia (Deleuze também a usa).

Já a essência é a natureza fundamental de algo, o que faz algo ser como é, assim são as propriedades que definem a identidade de um ser ou objeto (pensando como idealista), sem as quais deixaria de ser o que é, assim a descoberta da partícula de Higgs, por exemplo, embora seja algo atual ajuda responder esta questão dá estabilidade ao modelo da Física Padrão, mas ainda estamos presos às ideias filosóficas do idealismo e iluminismo.

Já postamos aqui que ideia não é o eidos grego (derivado de idein – ver), próximo ao morphé (forma no grego), capturada pelo intelecto como infra-estrutura de uma coisa, assim ligada a substância e de certa forma a essência, o idealismo as transforma em coisificação (res – coisa).

Portanto não é só meta-física, é também física e matéria, porém substância está ligada ao que os gregos chamavam de hilé que é a matéria, o substrato ou a matéria-primeira como foi dito.

Assim, a essência não se refere a algo material ou objetivo, mas sim a uma realidade subjetiva e ideal, está ideia ou conceito é a forma que precede a existência material, algo muito vago (reificado).

O idealismo traz conceitos e formas pré-estabelecidas, monta um quebra cabeça muitas vezes abstrato ou apenas lógico e torna-o fundamental para descrever toda realidade, porém não se propõe nem a busca do substrato nem da essência da qual ela se propõe, por isto é ideologia.

O conceito moderno (usado por exemplo por Paul Ricoeur) de ipseidade, é próximo a hecceidade, segundo ele permite estabelecer uma conexão entre originalidade e criatividade da identidade, temas tão fundamentais na contemporaneidade, lembrando que o Outro assim como a narrativa (Ricoeur, 2010) são temas muito caros ao autor.

Hecceidade não se refere nem essência, nem sujeito, nem objeto é algo individuado, aquilo que o Ser é.

Ricoeur, P. (2010) Tempo e narrativa.Tomo3. São Paulo: Martins Fontes.

 

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