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Posts Tagged ‘espiritualidade’

Não só de pão o homem viverá

30 jul

Escrevemos no post da semana passada, somo a “multiplicação dos pães”, que sem dúvida tem o aspecto da partilha, mas que o aspecto sobrenatural era esquecido por muitos, reduzindo algo “inefável” a uma situação de solidariedade, e isto é o que estamos desenvolvendo em torno da falta de espiritualidade, e ou a ascese desespituralizada, o termo é de Peter Sloterdijk, claro.

A definição de Sloterdijk é clara: “Como exercício defino qualquer operação que conserva ou melhora a qualificação do ator para realizar a mesma operação da próxima vez, seja ela declarada como exercício ou não” (Sloterdijk, 2009, p. 14), e se aplica a nossa interpretação porque ele fala e personal trainers, mas eles podem ser também eloquentes pregadores, filósofos midiáticos ou qualquer outro tipo que faça “exercícios” para motivar e tirar as pessoas da mesmice, mas é só momentâneo.

Ele anuncia em seu livro uma virada antropotécnica, e o que sejamos aqui é demonstrar uma clareira ontoantropotécnica, ou seja, que ela não é incompatível com a ontologia do Ser, aqui no sentido da ascese e da espiritualidade, explica-se aqui por uma passagem bíblica

Retornemos a hermenêutica bíblica, depois da bíblica que está nos evangelhos sinópticos (Mt 14:13-21, Mac 6:31-44, Lcs 9:10-17 e Jo 6:5-15), Jesus deseja afastar-se da multidão porque queriam torná-lo um “rei” humano (está nas passagens), a multidão volta e vai atrás dele, e o Mestre indaga (Jo, 26-27):

“Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”.

Não há condenação porque eles queriam se alimentar, mas Jesus pede uma “ascese”, esforço para o alimento que não se perde, e este é “quem o Pai marcou o selo”, a ascese encontra a espiritualidade ela exige um alimento a mais: “o pão do céu”, aquele que alimenta a alma.

Se era possível uma interpretação apenas humana e terrena na passagem da multiplicação dos pães, agora a pedagogia de Jesus realiza a hermenêutica necessária para entendê-la.

 

SLOTERDIJK, Peter. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik.Frankfurt, Suhrkamp, 2009.

 

Espiritualidade e ascese

29 jul

Não há uma espiritualidade profunda sem uma ascese e a verdade elevação espiritual demanda tempo e treino, o mestre budista Dalai Lama vê assim: “Desenvolver força, coragem e paz interior demanda tempo. Não espere resultados rápidos e imediatos, sob o pretexto de que decidiu mudar. Cada ação que você executa permite que essa decisão se torne efetiva dentro de seu coração.”

É preciso assim desenvolver um círculo virtuoso onde alguns sacrifícios e abstinências são necessárias, não significa que abandono das questões materiais, mas o uso equilibrado e consciente daquilo que está sendo almejado, seja uma simples paz interior ou um alto grau de religiosidade, o desapego de afecções deve ser feito em passos e com equilíbrio.

A comunicação com o Ser transcendente é também uma boa relação com os seres humanos que passam por nossas vidas, desde o mais complicado até o mais generoso, todos são nossos próximos.

A meditação, o equilíbrio físico e mental, a harmonia do ambiente que vivemos, pode e deve ser simples, a comunicação sensata e cotidiana do que desejamos doar como nosso pensar, o estudo e a pesquisa de grandes mestres do pensamento e da espiritualidade e finalmente aquilo que é o mais alto desejo de uma espiritualidade: a ascese ao divino, ao sobrenatural e ao Todo.

A ascese assim é um caminho, não sem quedas e jamais sem dificuldades, se for sem dificuldades ensinam os grandes mestres de espiritualidade, talvez não seja uma verdadeira ascese (Na foto Quadro de Rembrant).

Por último pode haver ascese sem espiritualidade, elas podem melhorar a saúde, enriquecer e embelezar o ambiente a nossa volta, mas não significam de fato uma elevação da alma.

Orar, meditar e dialogar com todos e tudo a nossa volta, não é loucura dialogar com a natureza, com os animais e com o universo, tudo é criação divina e tudo “fala” do divino.