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Arquivo para março, 2022

Condenação da Rússia e deserto de soluções

03 mar

A Assembleia Geral da ONU condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia por 141 votos a favor (foto) e 5 contrários (Belarus, Coréia do Norte, Eritréia e Síria, além da própria), porém a lista de abstenções é longa (35 países) e incluem os tradicionais aliados da Rússia: China, Venezuela e Cuba.

O Brasil votou a favor em contradição com a posição na OEA e a visita recente do presidente.

No discurso do chanceler da Rússia na ONU 100 países se retiraram da sala em boicote ao seu discurso, no final o Chanceler russo disse que as sanções econômicas do Ocidente são a única coisa possível ameaçando com armas nucleares qualquer outra solução de apoio militar.

Hoje se inicia a segunda rodada de negociações entre Ucrânia e Rússia num deserto de soluções a não participação da Ucrânia na OTAN pode ser negociável, porém a Ucrânia já pediu o ingresso na União Europeia, e o discurso de Volodymyr Zelenski foi aplaudido de pé pela assembleia da UE que discutia incluí-la, mas o processo é longo e talvez em função da negociação não seja a hora.

Inicia-se hoje uma nova rodada de negociações para a paz, deve ser pensado um imediato cessar fogo, o deserto de ideias é amplo, no momento cada país apresentou apenas suas exigências, até a China se dispôs a intermediar, porém os dois países seguem um diálogo direto.

A Criméia já é um território anexado, entregar as duas regiões de Donetsk e Luhansk, para a Ucrânia significa ceder parte de seu território, um desarmamento unilateral da Ucrânia pode ser pensado se a questão da OTAN for negociável pelos russos.

Uma paz regional que não erga uma nova cortina de ferro parece distante, Putin está fragilizado dentro da Rússia devido as sanções, porém o impasse continua, a nível mundial segue uma bipolarização, embora diplomaticamente a Rússia sai da Assembleia da ONU muito fragilizada.

É preciso repensar a paz mundial, o conflito mostrou a fragilidade do equilíbrio nuclear, questões territoriais como Taiwan e parte das antigas repúblicas soviéticas seguem em desequilíbrio, e muitas abstenções escondem um apoio velado a Rússia e ao seu belicismo, do qual não escapam muitos países da OTAN sem deixar de incluir os Estados Unidos.

Há um deserto de soluções que não envolvam a solução armada e a indústria de guerra cresce.

 

Cinzas de uma quarta-feira

02 mar

Em todo mundo cristãos celebram no início da quaresma a quarta-feira de carnaval, os 40 dias até a Páscoa, não houve carnaval e sim uma festa da carne e da morte que é a guerra no leste europeu, imploramos que o crescente envolvimento de muitos países não crie uma 3ª. guerra mundial.

Diversas cidades ucraninas foram arrasadas e tomadas por forças militares russas, ao norte as já declaradas repúblicas populares da região de Donbass (do rio Don) Luhansk e Donesk, e agora ao sul Mariupol e Kherson, no Norte ainda há resistência na segunda maior cidade do país Kharkiv.

As tropas russas, o maior comboio militar desde a segunda guerra mundial chegou nas proximidades de Kiev, a noite lá terá combates extremos, uma torre de comunicação foi derrubada e um memorial do Holocausto foi atingido, mostrando que a retórica de lutar contra o neonazismo é apenas um pretexto para a guerra, a Ucrânia também foi atacada por Hitler e o memorial lembrava isto, claro há grupos neonazistas na Ucrânia como em muitos países.

No início da pandemia quando a Páscoa não podia ser celebrada em público para evitar aglomerações, afirmamos aqui que era uma Quaresma significativa, talvez esta com tantos mortos devemos pensar não mais na paixão e morte de Jesus, mas na nossa paixão e possível morte de civilização, há protestos pela paz, mas nas redes as manifestações de ódio entre “torcidas” estão espalhadas.

Também é verdadeiro que em todo mundo há manifestações de solidariedade pela paz, muita acolhida aos refugiados cujo número pode surpreender porque uma país está todo ele destruído e a Ucrânia não é uma pequena nação, é um dos maiores países da Europa, abaixo da Rússia é claro.

Podemos fazer uma pausa para pensar no nosso processo civilizatório em crise, pensar nas mães e filhos que perdem seus pais, parentes e amigos na guerra, nos jovens que não terão futuro, nos inúmeros mortos, só do lado russo são já mais de 6 mil soldados que não voltaram para casa.

Sobre as cinzas poderemos erguer uma nova civilização, sem submeter nações ao desespero e ao opóbrio, sem bárbaros processos de colonização incluindo o cultural e enfim sermos povos que vivem em paz, que resolvem conflitos numa mesa de negociação e olham para crianças e velhos com apreço.

Que a Quarta-Feira de Cinzas nos lembrem que somos pó e que a vida tem um valor sagrado.

 

Evitar o pesadelo nuclear

01 mar

A guerra na Ucrânia vai subindo o tom e tornando-se uma ameaça para toda a humanidade, no campo de batalha os ucranianos apresentam uma resistência e um heroísmo que poucos acreditavam, as pressões sobre a Rússia no conselho de segurança da ONU e na própria assembléia da ONU aumentou (ontem diplomatas russos foram expulsos pois a sede fica em Nova York), apesar de muitas abstenções, como a India e a China, o tom é de condenação pelos princípios de soberania das nações, as sanções econômicas impostas primeiro para os milionários russos e o próprio Putin, agora para toda economia Russa já são sentidas, no campo de batalha apenas aumentou o tom, e a primeira tentativa de diálogo fracassou, foram enumeradas as questões de cada lado e uma próxima reunião.

A guerra já produziu um enorme flagelo, são mais de 5 mil soldados russos mortos em batalha e certamente o número de ucranianos deve ser maior, além neste caso de civis que pagam inocentemente pela guerra, são mais de meio milhão de refugiados e a entrada dos países europeus na guerra criam um temor maior: as armas nucleares.

Estas armas estão no exclave da Rússia em Kaliningrado, parte territorial descontinua da Rússia que fica entre a Polônia e Lituânia para onde foram levados mísseis de logo alcance com carga nuclear, mas agora todo espaço aéreo europeu está fechado para os russos, assim como a passagem do mar negro para o mediterrâneo que a Turquia fechou, este país é membro da União Europeia, que começa a se envolver militarmente no conflito e a ameaça de Putin de uso de armas nucleares é para este caso, dizem é um blefe os analistas, mas o risco existe.

Um grande comboio militar russo de mais de 30 km de caminhões transportam tropas, talvez entre eles estejam os temidos chechenos que travam a batalha campal, e os outrora inimigos de Putin agora o veem como um comandante, de origem islâmica tem agora relativa autonomia e depende da Rússia.

Em todo mundo e na própria Rússia há protestos pedindo o fim da guerra, lá são duramente reprimidos, o papel do Brasil de voto na ONU pela condenação da Rússia e de neutralidade na OEA se abstendo do voto mostra o caráter ambíguo, o papelão do presidente de ter ido visitar a Rússia dias antes da guerra foi um enorme equívoco, no mínimo.

O Brasil depende dos fertilizantes da Rússia, a Europa depende do gás e também dos grãos cuja Ucrânia é grande produtora, os reflexos na economia já são sentidos: o rublo russo caiu 30% e o dólar começa uma queda que provavelmente não vai parar, na prática além da economia: os alimentos e os combustíveis devem subir de preço verticalmente.

No campo cibernético que a Rússia é uma potência, o site Anonymous declarou sua guerra, porém a entrada de Elon Musk (dono da Tesla) na guerra deve ser vista com cautela, a segunda guerra foi um negócio para muitos empresários, até mesmo a Vokswagem alemã e Ford americana tiveram sucesso no pós guerra.

Kiev pode não cair, mas será um milagre, o socorro militar do Ocidente pode ter chegado tarde, o símbolo que existe na praça central é o Arcanjo Miguel é o anjo das batalhas, para muitos cristãs e os ucranianos são cristãos de rito próprio, mas ligada a Roma (aliás o Vaticano se propôs a intermediar o diálogo), que o chefe do exercito celeste encontre um caminho, agora obscuro para a paz, e não permita um flagelo e uma noite nuclear que afete toda humanidade (na foto o arcanjo Miguel na coluna na Praça Central de Kiev).