Arquivo para maio 19th, 2022
Serenidade e paz verdadeira
Já postamos um histórico da paz: Pax dos romanos, paz da Vestfália acordo entre católicos e luteranos sobre a laicidade do estado e a Paz Perpétua de Kant, cada um que pensa em estruturas e acordos de paz que não demonstraram pela ineficácia de poder estabelecer a paz.
Entramos em aspectos ontológicos com a questão da Serenidade proposta por Heidegger, que inclui aspectos originários e de territorialidade dos povos, quase sempre são estes os fatores que são determinantes para povos entrarem em guerra, porém pouco pensados nos acordos de paz.
Se vivemos quase sempre sob alguma tensão é importante entender se é possível uma paz além das questões humanas, que é claro que devem ser resolvidas, pois elas precisam de homens que sejam verdadeiramente pacíficos e tenham ontologicamente esta questão resolvida interiormente e ajudar a humanidade os caminhos que levem a uma paz duradora.
A filosofia de Heidegger desenvolve o quanto o homem avançou em razão, técnica e ciência, mas perdeu a fundamentação própria de Ser reduzido ao Ente (a coisa sem alma), perde sua originariedade (diferencio de originaridade apenas por que ela trata mais de povos originários das américas), ele assim principia sua própria essência (a vê só como subjetividade) e perde a força de re-presentação que dela vem, perde uma essência que não é secundária, mas primordial.
Em sua conclusão de Serenidade, Heidegger contrapõe a imediatez e falta de meditação que temos na atualidade: “Existem, portanto, dois tipos de pensamento, sendo ambos à sua maneira, respectivamente, legítimos e necessários: o pensamento que calcula e a reflexão (das Nachdenken) que medita. […] um pensamento que medita surge tão pouco espontaneamente quanto o pensamento que calcula. O pensamento que medita exige, por vezes, um grande esforço. Requer um treino demorado. Carece de cuidados ainda mais delicados do que qualquer outro verdadeiro ofício. Contudo, tal como o lavrador, também tem que saber aguardar que a semente desponte e amadureça” (HEIDEGGER, 1955, p. 13-14).
A serenidade, a meditação sobre a necessidade dela para entender a originariedade de cada Ser, de sua presença em determinada Região, requer mais que um exercício momentâneo é preciso que ele seja durador e mire a eternidade.
Na leitura bíblica encontra-se a mais profunda lição de Jesus aos seus discípulos sobre a paz (Jo 14: 27): “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração”, é uma lição também para os pacíficos e para os amantes da paz.
HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Tradução de Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, versão original é de 1955.
Serenidade, originário e paz
Serenidade remete a ideia de uma super qualidade do Ser, vem do latim serenus, que é diferente de paciência que vem de patientia, “resistência e submissão” e é antes confundida com sereno.
Três qualidades do Ser podem ser diretamente ligadas a serenidade: tranquilo, significa resolver os problemas com a paz, calmo que significa manter seu interior em Paz e claro significa expressar e comunicar a paz com clareza.
Heideger escreveu um opúsculo sobre Serenidade, no início termina o capítulo com uma frase que expressa em filosofia uma síntese da serenidade: “quando a serenidade para com as coisas e a abertura ao mistério despertarem em nós, deveríamos alcançar um caminho que conduza a um novo solo. Neste solo a criação de obras imortais poderia lançar novas raízes” (HEIDEGGER, 1959, p. 27).
Falta-nos na concepção de Ser e que Heidegger destaca em sua ideia sobre o originário a ideia de Região, assim como foi traduzido do alemão, mas poderia ser o locus (horizonte)de pertencimento uma nação como Ser em sua verdadeira identidade originária, escreveu Heidegger:
“Não estamos nem nunca estamos fora da Região, uma vez que como seres pensantes […] permanecemos no horizonte […] O horizonte é, porém, o lado da Região virado para o nosso poder de re-presentação (Vor-stellen). A região rodeia-nos e mostra-se-nos como horizonte” (HEIDEGGER, 1959, p. 48).
Aqui é preciso voltar a um dilema do pensamento de Heidegger, tendo em vista que estar em meio à Região é permanecer no horizonte: estar, mas não estar nessa senda originária, significa que é uma re-velação da Região, que se faz visível ao ente, nela seu Ser é.
O filósofo afirma que a serenidade pressupõe o estar liberto (Gelassensein) e a Região a-propria (Ge-eignet) e confia ao ente sereno (gelassen) a guarda da serenidade. ora, se o aguardar é então fundamental e decisivo do qual falamos é a a-propriação ao qual “nós pertencemos àquilo que aguardamos” (HEIDEGGER, 1959, p. 50)
Não ignora o autor a ausência deste conceito no Ocidente, um desconhecimento histórico: “a essência do pensamento não pode ser determinada a partir do pensamento, isto é, a partir do aguardar enquanto tal, mas sim a partir do outro de si mesmo (Anderer seiner selbst), ou eja, a partir da Região, que é na medida em que se religionaliza” (HEIDEGGER, 1959, P. 51).
Nisto de fundamentam as guerras contemporâneas, sem esquecer que muitas delas tiveram origem na disputa dos territórios de povos originários onde seu Ser foi completamente ignorado.
HEIDEGGER, M. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget, 1959.