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Arquivo para dezembro, 2024

O Natal e Herodes

16 dez

O rumor que nasceria um Messias e um Salvador enfurecia Herodes que governava a Judéia sob domínio do Império Romano, ele mandou matar crianças inocentes, perseguia os rebeldes e vivia de fúria, luxúria e poder, as guerras hoje se assemelham a este personagem do início da era cristã.

Por causa dos conflitos da colonização dos judeus, a interpretação de Herodes e de alguns religiosos era que o Messias seria um guerreiro, um “rei” e por isto ordena que procurem o recém-nascido e sem o encontrar manda matar recém-nascidos daquele tempo.

Os judeus se manifestavam por causa dos altos impostos, e depois da morte de Jesus no ano 70 d.C.  o segundo templo foi destruído, segundo o site Heritage Daily há provas históricas que isto ocorreu (foto).

Não é diferente hoje, procuram interpretações políticas para o advento que anuncia não só o fato que Jesus nasceu, mas também a sua segunda vinda (Parusia) e não faltam Herodes que instigam guerras e violências, grandes ou pequenas, e o ódio está disseminado em nosso tempo, mas para cristãos verdadeiros e também religiosos que a sua forma celebram o Natal, sempre será tempo da verdadeira Paz e da vinda de Jesus.

No leste europeu, na faixa de Gaza e em muitas outras partes do mundo o espírito de Herodes vive, caçam e matam inocentes, justificam atrocidades com narrativas adocicadas e até com palavras que inspiram paz e socorro as populações carentes, mas são só narrativas.

O espírito de Amor e Paz é resiliente para aqueles que realmente desejam um mundo melhor, sempre haverá aconchego e harmonia em lares daqueles que vivem segundo o respeito e terão mais carinho e afetividade do que comidas, bebidas e exageros luxuosos.

Também as celebrações verdadeiras de Natal buscarão palavras e ações de fraternidade mais concretas e encaminham mentes e corações para o espírito de resiliência da paz do Natal.

 

Entre a paz e a saciedade

13 dez

A sociedade do cansaço é a que busca do máximo desempenho, a máxima volúpia e o máximo consumo, ela não leva a paz nem a felicidade, mas ao stress, a depressão e para boa parte da população a exclusão, a fome e a miséria.

E a paz e “satisfação” que todos buscam não se encontram em atitudes exageradas de consumo e eficiência, e sim naquela sabedoria interior que busca a compreensão, o amor e o equilíbrio nas ações e palavras, a verdadeira paz que todo homem são busca.

Atenas era modelo de sabedoria e riqueza, Esparta modelo de disciplina militar e valentia.

Um evento pouco conhecido na história é a Paz de Nícias, acordo entre as cidades gregas de Atenas e Esparta, em 421 a.C., estabelecendo uma trégua entre as cidades por 50 anos, porém em 414 a.C. o acordo foi rompido, a Guerra do Peloponeso.

Atenas possui a riqueza das minas de prata e Esparta era famosa por seu preparo para a guerra, qualquer coincidência com os impérios atuais não é por acaso, Atenas se uniu a cidade de Argos, rival de Esparta, mas perderam a guerra, e em 405 a.C. o rei Pausânias de Esparta ordenou o cerco de Atenas e a população faminta e exausta se rendeu.

A Fortuna, deusa romana do acaso, da sorte e do destino tinha a vista vendada (como a justiça moderna), pois distribuía os desígnios humanos aleatoriamente, assim se é feliz ao acaso. 

Assim, os modelos fundamentados apenas na “sabedoria” ou na “guerra” são ambos falidos, o que falta é um espírito de verdadeira conciliação entre os povos e tolerância entre culturas.

Também o império Macedônio e Romano tiveram seu fim, assim por mais armado e preparado que estejam nações e países atuais, não será pelas armas que conquistarão um “bem-estar”.

O crescimento de um espírito maior de compreensão e solidariedade, que vai além dos critérios apenas lógicos de razão e sabedoria, só eles podem criar um clima de paz e saciedade.

O fato que muitos buscam saciedade hoje em bebidas, comidas, drogas e outras fugas, é pelo fato que ainda não entramos numa Civilização do Amor, da Paz e da solução de crises sociais.

 

Sobre o filme Virgem Maria

12 dez

A primeira observação importante sobre o filme Virgem Maria, dirigido por D. J. Caruso (foi diretor também de Amor de Redenção) e roteiro feito por Timothy Michael Hayes, é que não é uma narrativa bíblica teológica e então também não pode ser vista como apologia a Maria, mãe de Jesus, que é o título em inglês (11,4 visualizações até 11/12 segundo o portal Terra).

Virgem Maria retrata a fé e a coragem de Maria e José, em fuga ao Egito para salvar o recém- nascido Jesus na perseguição que o Rei Herodes, interpretado por Anthony Hopkins, faz a todos recém nascidos ao saber que o Messias prometido ao povo judeu havia nascido.

As especulações sobre a infância e posturas de Maria também não podem ser vistas a luz da narrativa bíblica, porém é importante notar que não é ignorada e é venerada na Bíblia, tanto pelo anjo Gabriel, e se alguém duvida da importância de Maria é só ler o capítulo 1 de Lucas, um dos mais longos,  é todo sobre o nascimento de Jesus, mas em especial os versículos 42-43 (existem várias traduções) onde a prima Isabel a saúda: “Bendita és tu entre as mulheres e benedito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?”.

Esclarecida o problema da narrativa bíblica onde não há dúvidas da importância de Maria na história da salvação, vamos as críticas laicas sobre o filme, curiosamente uma delas é a idade de José, ainda que encontremos a narrativa sobre ter idade avançada, não é claro nem do ponto de vista cultural (o que era velho na época provavelmente seria entre 30 e 40 anos) e nem do ponto de vista religioso, não há esta referência bíblica, é apenas uma tradição.

A escolha de Maria a atriz Noa Cohen também é criticada por ser israelense, pelo momento político atual, porém o diretor esclareceu que a escolha, entre várias entrevistas, foi imediata e deve-se destacar o tom de pele mais moreno de Noa era predominante na época de Jesus.

A ideia de desconstruir a narrativa bíblica por causa da nacionalidade de personagens é muito além do problema da guerra atual, cruel sem dúvida, porque afeta pessoas e não questões políticas, religiosas ou ideológicas que estão envolvidas, esta era a postura tanto do império romano como dos fariseus, os falsos religiosos daquele tempo.

Como é uma ficção a crítica deveria se concentrar na interpretação dos atores, figurino e no enredo construído, pessoalmente gostei do filme, mas creio que os problemas religiosos com Maria e políticos podem prejudicar a apreciação de uma obra artística.

 

A crise precede o advento promissor

11 dez

É preciso coragem (já postamos aqui sobre virtude cardeal da “fortaleza”) em tempos de crises, valores, instabilidades, relações sociais confusas e muitas pré-ocupações (ocupações antes do tempo).

É normal nestes tempos pessoais ou sociais que a mente se projete para o passado ou futuro, o futuro gera ansiedades e o passado remorsos ou angústias, claro se mal interpretados ou mal colocados, porque em geral é uma passagem a um futuro promissor, um advento, algo a vir.

Não podemos estar sufocados por preocupações que ainda não se materializaram, mas não podemos ser inocentes ou provincianos a ponto de olhar somente um mundinho ao redor, a vida e o mundo vão além de nossos próprios horizontes e sempre há algo promissor a frente.

Byung-Chul Han escreveu sobre a Sociedade Paliativa: a dor hoje, eram reflexões devido a pandemia, porém com um horizonte largo que via uma sociedade que quer abolir a dor e o sofrimento, porém eles existem e são parte inalienável da vida.

As guerras, agora sobre perspectivas de tréguas (vejam o post anterior), uma crise social ao mesmo tempo de valores e de perdas de muitas conquistas anteriores, não é apenas sinal de crise é sinal que algo virá, há um advento que toda a humanidade espera.

Porém cada um tem sua própria ansiedade, um futuro que imagina e até mesmo uma volta ao passado, uma Paris no seu auge que as luzes de Natal podem inspirar, uma Lisboa com seus bons valore nacionais (é triste que nasça um nacionalismo um pouco doentio), porém isto pode ser uma alavanca para pensar num futuro sustentável, uma nova era em que não apenas o mundo eurocêntrico se ilumine, mas também os povos historicamente colonizados.

Na cultura africana, ou afro-americana há celebrações, que embora tenha também origem no Canadá e na região do Caribe, são celebrações que vão de 26 de dezembro a 1º. de janeiro, a Kwanzaa.

Os valores de comunidade e união familiar depois de uma violenta rebelião de Watts (causada por abuso policial contra um jovem negro em 1966), um professor negro Dr. Maulana Karnga, presidente do Centro de Estudos Negros na universidade Califórnia State criou a “matunda ya kwanza”, que significa “primeiros frutos”.

Este é um exemplo do nascimento de um “fruto bom” resultado de uma crise, criando uma festa com canções, danças e batuques com tambores africanos, leitura de histórias e poesias próprias da cultura e uma grande refeição tradicional feita em família ou em grupos sociais.

Ali são lembrados princípios da cultura suali (língua tradicional no Quênia, mas muitos povos africanos falam), um castiçal (Kinara) é aceso com velas de várias cores, ali relembram o “Harambee” que significa “reúnam todas as coisas” e “vamos fazer juntos”.

Não são princípios diferentes da boa cultura ocidental (aquela que não coloniza e respeita valores e culturas locais), é possível assim pensar num advento para toda humanidade, que está além das crises e obstáculos do presente.

 

História, falsos profetas e parusia

10 dez

O Natal está próximo e o nascimento de Jesus é um fato histórico, pois houve um Censo ordenado pelo imperador de Roma César Augusto, e José e Maria foram a Belém porque as pessoas deviam ser contadas em suas cidades de nascimento, quanto a data há controvérsias por seriam entre 4-5 a.C., quando Quinino era Governador da Síria como está descrito na Bíblia (Lc. 2,2), porém é certo que o censo foi realizado e este foi justamente o motivo de Maria e José terem ido a Belém, onde Jesus nasceria.

Há controvérsias de datas e da precisão das datas (não dos fatos), uma vez que o calendário foi modificado pelo Império Romano e haveria esta defasagem de 3 anos.

A história também está pontuada de intervenções divinas, na decadência de Roma nascem os mosteiros, onde a cultura da culinária, os primeiros grêmios e ofícios e também uma fase anterior da escrita impressa é realizada, o período final em que ocorre a peste negra no final do século XIV, provocada pelo bacilo Yersinia Pestis que dizimou grande parte da população na época.

Esta doença, porém, dizimou parte do exército mongol que combatia com os genoveses na cidade de Caffa (atual Teodósia) que fica na Península da Criméia, e foi o início da decadência do grande império Mongol (1209-1368).

Entramos na modernidade, fizemos algumas leituras pontuais nos nossos posts de Todos no mesmo barco e Se a Europa acordar de Sloterdijk, onde menciona a obra clássica Decamerão de Boccaccio (1353) como “pequena comunidade em meio ao desastre da grande” (Sloterdijk, 1999, p. 75), faz uma análise da peste negra e que devastou a Europa com mais de 100 milhões de pessoas mortas (imagem acima) quando a população era muito menor que hoje, e sua influência política e espiritual daquele tempo pode ser analisada.

Em nota de rodapé cita da obra cita Henrik Siewierki (traduzida pela Estação Liberdade em 2001) “Uma missa para a cidade de Arras” onde analisa as consequências tanto psicológicas quanto políticas da peste, também o psicólogo Franz Renggli, em seu livro Autodestruição por abandono, desenvolveu a hipótese da influência na modernidade da peste, e também da degradação da relação mãe-filho que teriam provocado uma espécie de fraqueza imunológica, coletiva e psicossomática que favoreceu o vírus daquela peste.

Alguém poderia pensar na época: é o fim dos tempos, mas era uma grande mudança e também o significado bíblico é que (quando ouvires falar de guerras, revoluções): “é preciso que tudo isto aconteça, mas ainda não é o fim” (Mt 24,6).

Toda esta análise é interessante, pois em meio a Pandemia recente (a peste atual), ao mesmo tempo que era sem dúvida um flagelo, pode ele alimentar uma nova clareira sobre a nossa comunidade (palavra usada por Sloterdijk), ou seja, a ideia de uma defesa mútua e solidária em vista de uma catástrofe ainda maior do que a que aconteceu.

Serve para “aplainar os caminhos”, como diz a leitura bíblica quando João, o filho de Zacarias e Isabel, anunciava no deserto usando as palavras do profeta Isaías: “esta é a voz daquele que grita no deserto: ´preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3,4) e parece propícia a este nosso tempo de flagelo e deserto.

É importante lembrar que as duas primeiras semanas do Natal comemoram não a vinda de Jesus em Belém, mas a Parusia, ou seja, a preparação de sua segunda vinda de Jesus.

 

Fim das guerras e o Natal

09 dez

Pode esta época do ano, contagiar o mundo de forma a dar uma virada na escalada bélica, o cenário desta primeira semana de dezembro parece dizer que sim.

Caiu o ditador da Síria, Bashar al-Assad que governou a Síria por quase um quarto de século, enquanto o Observatório de Direitos Humanos de Londres diz que ele fugiu num avião particular, o Ministério do Exterior da Rússia, tradicional aliado, declarou que ele “renunciou”.

O líder de uma coalisão de opositores Abu Mohammed al Jolani (agora já adota seu verdadeiro nome Ahmed Al-Shara), liderou a Organização para a libertação do Levante (Hayat Tahir al Sham, ou apenas HTS), de origem extremista (foi ligado a Al Qaeda) adotou uma postura mais moderada conseguindo aliados.

O primeiro-ministro da Síria, Mohamed Ghazi al-Jalali, declarou-se disposto a colabora com os insurgentes afirmando que estenda a mão a “qualquer sírio que se interesse pelo país para preservar suas instituições”, mas o provável é que também renuncie ou seja retirado do cargo.

Também conversas avançam com o patrocínio do presidente eleito nos EUA: Donald Trump, um encontro com o presidente Makron da França e Zelensky da Ucrânia e tomou conta do cenário internacional pela perspectiva de paz aparentemente possível agora.

Na América Latina, em reunião em Montevidéu na última sexta-feira (6/12), após 25 anos de negociação, os líderes do bloco sul-americano assinaram acordo com a União Europeia, para o Brasil o acordo tem sentido estratégico de promover um aprendizado e aperfeiçoamento de como nossos setores produtivos geram commodities, que são as mercadorias primárias no setor de produção: agrícolas, pecuárias, mineral e ambiental, na qual o país é abundante.

Enfim, tudo parece construir uma harmonia nova e favorecer o clima de Natal, porém é preciso uma paz duradoura onde os setores envolvidos não se sintam “derrotados”, é preciso uma economia global equilibrada sem protecionismo ou concorrências desleais e é preciso sobretudo um ataque frontal as sérias questões sociais e ambientais.

O Natal existe, as belas iluminações como a de Lisboa (video)e muitas outras pela Europa tentam retomar um clima de esperança e paz, há até um filme da indústria cinematográfica (não é um filme teológico) sobre a Virgem Maria (bombou no lançamento dia 06/09) e por consequência do nascimento de Jesus.

https://youtu.be/FnV5RxjwvtI

 

Sabedoria e Humildade

06 dez

Não são grandes aqueles que se arrogam grandes, ou que recebem grandes honrarias, na verdade estão mais ligados a um poder temporal que a uma sabedoria divina, são apenas os que se contentam com alegrias e honrarias passageiras e muitas vezes ligadas só ao interesse.

Outras palavras correlatas à verdadeira humildade incluem: naturalidade, simplicidade, singeleza, despretensão, despojamento e desafetação, o mundo contemporâneo de narrativas imediatistas e passageiras são claramente ligadas à pretensão e à afetação, pela visibilidade fácil que conseguem imaginam que são “sábios” porém tem um público imediatista midiático.

Um outro equívoco mais difícil de compreender são correlatos de humildade de interpretação cotidiana, como por exemplo: submissão, obediência, respeito, acatamento, sujeição e passividade, isto refere-se a pessoas humildes sim, mas com dificuldade de discernimento, mesmo a obediência sendo uma virtude elogiável, ela pode tornar-se subserviente e danosa.

No livro Perto do coração selvagem, a escritora Clarice Lispector escreveu: “aceito tudo o que vem de mim porque não tenho conhecimento das causas e é possível que esteja pisando no vital sem saber, é essa a minha maior humildade”, assim pode-se ser obediente conscientemente.

A ex-primeira ministra de Israel (1969-1974), Golda Meyer, disse certa vez a Moshé Dayan, militar e político da época: “Não seja humilde, você não é tão importante como imagina”, isto dá uma conotação muito boa do valor da humildade.

O que se opõe a humildade é a soberba, não são poucos os orgulhosos, vaidosos, falsos profetas, fariseus ou apenas mundanos que possuem este vício, em termos bíblicos foi a soberba que fez um dos arcanjos da alta hierarquia querer se igualar a Deus, a parte contém parte do Todo, mas não é o Todo, e também é falso a narrativa que tudo é fragmentário.

Em todas passagens bíblicas que Jesus realiza milagres, sempre diz ao interlocutor: “tua fé te salvou”, os soberbos, fariseus e idólatras querem atribuir a si ou ao seu grupo as intervenções divinas das quais apenas participam na invocação, por sinal, muitos deles não acreditam que a invocação seja válida e assim condenam os intercessores, embora façam o mesmo.

A soberba explica muitos males: a guerra, a ganância, a desobrigação de cuidados com os que precisam, o desrespeito a natureza (pretender dominá-la) e especialmente o poder e o desrespeito.

Assim a humildade é o antídoto eficaz para todos estes males, é preciso empatia e respeito com todos, porem cada um tem uma singularidade própria e um propósito próprio. 

 

Fortaleza, Natal e a casa sobre a rocha

05 dez

Na filosofia, a inglesa Philippa Foot tratou deste aspecto da ética moral e por isto sua ética ficou conhecida como ética das virtudes, fizemos alguns posts anteriores sobre isto, porém qual relação com o Natal e com a “casa sobre a rocha”.
Enfrentar os perigos e até mesmo provações (e provocações) é ter bem alinhado as outras duas virtudes cardeais: a prudência e a sabedoria, também a justiça, mas já dissemos que o “justo” no bíblico não é a justiça humana é impiedosa e legalista, pois a divina contempla a misericórdia e o perdão, e sem ela até juízes humanos seriam condenados.
A coragem (ou fortaleza) é acompanhada da prudência, a capacidade de passar ou remover obstáculos da vida com vista a superá-los de modo a não reproduzir o ódio, a violência e a vingança, assim deve produzir e ser conduzida pela sabedoria, que não é apenas cultura e boa leitura, é olhar o Outro com a dignidade que tem.
Este é o espírito de Natal, que comemora o nascimento do príncipe da Paz, aquele que também foi julgado e condenado pela justiça humana (a dos fariseus ‘religiosos’ e do Império Romano, Pilatos que lavou as mãos), mas não temeu dizer A Verdade.
Em todas as línguas e nações este desejo de amor, paz e harmonia entre os povos nunca morre, mas mantê-lo vivo depende da virtude da fortaleza, e mantê-lo por toda a vida implica em fazer aquilo que dá significado a “construir a casa sobre a rocha” (Mt 7: 24-27).
Esta virtude ressalta a Fortaleza (Coragem) de manter-se firme sobre a vida e o propósito de não ceder as inclinações contemporâneas: o consumismo, a imoralidade, as injustiças (pequenas e grandes), a descrença, o ódio político e ideológico e a imprudência.
Isto não é só em uma data, mas ela é uma boa referência para lembrarmos destes traços humanos que dão esperança de uma civilização do futuro mais feliz e harmoniosa, um Natal perene.

 

Há clima para este Natal

03 dez

Entre verdadeiros cristãos sim, sempre haverá esperança de um mundo melhor, onde todos possam usufruir do bem comum, da justiça verdadeira (e imparcial) e os mais humildes lembrados e convidados também para este momento de paz e confraternização.

Certamente em muitos lugares do mundo, especialmente entre aqueles que sofrem situações de guerra, de flagelos ou de miséria e fome, entre estes sempre haverá menos paz e alegria.

Porém não deve servir de empecilho para a busca do bem, da reflexão sobre verdadeiros valores que fazem o processo civilizatório de hominização cada vez mais avançados e promissor, não é utopia, é o único horizonte possível para aqueles que são verdadeiros humanistas, aqueles que não olham para o diferente com preconceito e desrespeito.

Não é limitado a nenhum grupo social, cultural ou religião, verdadeiros humanistas criam laços de fraternidade e pontes, e não abismos intransponíveis de acordos e diálogos.

Há mais há coisas inaceitáveis, sim inaceitável é a guerra que sempre há dois grupos dispostos a lutar, não há diferença que não deva ser respeitada, sim é inaceitável a desigualdade social, entretanto podemos colocar todos para refletir e encontrar soluções sem demagogia para isto.

Estas grandes coisas não são fruto apenas de leitura cultural avançada, é preciso sobretudo de sentimento solidário, de um olhar profundo sobre o Outro que não é um espelho e nem fruto de um discurso alegórico ou demagógico, é preciso respeitá-lo em toda sua dignidade.

Há uma verdadeira sabedoria que é guiada por olhares amorosos sobre a humanidade como um todo e sobre cada homem (ou mulher) em particular, ela é acessível a todos mentes e culturas, e pode traçar um caminho de paz e fraternidade.

Este Natal não é específico de uma data do ano, mas é importante lembra-lo nesta data, mesmo as correntes religiosas que não o comemoram deixam de reconhecer sua importância.

Sempre há esperança de paz, de alegria duradoura e de justiça social aos que amam.

 

E a Europa não acordou

02 dez

A criação do euro, apesar da polêmica saída da Inglaterra, não o Reino Unido, porque a Escócia tentou fazer um referente sobre a questão e o Parlamento britânico rejeitou, a tentativa de criar um conceito e uma política europeia não fracassou, apenas não avançou no essencial.

Porém suas profundas raízes humanistas e culturais foram sufocadas pelas ideologias idealistas e iluministas. 

O livro Se a Europa despertar (acordasse, na versão de Portugal) traça linhas essenciais do que seria a Europa verdadeira, suas fronteiras e suas bases étnicas, qual seria sua identidade religiosa praticamente abandonada, não são as imigrações que deterioram esta visão de identidade e unidade, mas a pergunta que faz Sloterdijk em seu livro é que cena desenham os Europeus nos seus momentos históricos decisivos? Quais as ideias que os animam, as ilusões que os mobilizam? E não é difícil apontar seus equívocos tanto quanto as bases étnicas como as culturais.

Também o padre Manuel Antunes, o livro Repensar Portugal escrito antes da União Europeia, dizia que seu país deveria voltar-se para a Europa, antes era um cantinho da Europa que lhe dava as costas e se voltava para as colônias africanas, no livro dava linhas de repensar o país.

A colonização e as Guerras, intestinais, porque houveram as guerras religiosas no período final do renascimento, e a paz de Vestfália tratado que retirava a questão religiosa das disputas, porém a Europa teve outras disputas de fronteiras e étnicas, até culminar em duas guerras mundiais.

Elas acabam envolvendo todo o mundo, porque há interesses que extrapolam as fronteiras, porém é preciso compreender que uma verdadeira identidade e unidade europeia ainda não se construiu, abriu-se as fronteiras, mas agora elas parecem incertas e ameaçadas com o envolvimento na guerra do leste europeu.

A tese principal de Sloterdijk neste livro é que o modelo de colonização que deu a Europa a ideia de um Império de Centro (como o autor a chama) e que abriu um vácuo no pós-guerra que criou uma geração de intelectuais que buscou um novo modelo imperial, assim o autor conclui que não se conseguiu entender que ela não é mais um centro e tem dificuldade com isto.

As guerras então são um caminho trazem de volta a ideia de império, o contrário que Sloterdijk propôs em seu livro que seria abandonar este modelo, também é a conclusão do padre Manuel Antunes que acrescenta um modelo de “democracia social” a Portugal.

Sloterdijk, P. Se a Europa despertar. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.