Parir o conhecimento e a fenomenologia
A definição do método fenomenologia como forma de conhecimento é segundo o dicionário de filosofia (Abbagnano, 2000, p. 437) como “descrição daquilo que aparece ou ciência que tem como objetivo ou projeto essa descrição”, sendo o fenômeno “aquilo que aparece ou se manifesta” (idem).
O filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938) desenvolveu como uma maneira radical de rever metodologias e conceitos da ciência com pressupostos lógicos e positivistas, partindo de como as coisas (o conceito de objeto é também ultrapassado aqui, ele é ligado ao sujeito) tem sua aparição à consciência, e a partir daí “ir ao encontro das coisas em si mesmas” (HUSSERL, 2008, p. 17).
A intencionalidade é a marca fundamental na consciência fenomenologia, ela está sempre voltada para fora de si, para algo, mas não é nem substância, nem invólucro, é uma intuição, uma evidência apodítica, e este é o parir da fenomenologia.
O primeiro passo deste método para “vasculhar” o fenômeno é a redução fenomenológica (epoché), uma suspensão de nossos conceitos ou pré-conceitos, colocando-os entre parênteses, já que é impossível separar o sujeito do objeto, quando de sua aparição algo se manifestará já.
Partindo desta “suspensão de juízo” (é usada por outras correntes do pensamento), perscrutar o fenômeno em sua “pureza” e evitar aquilo que seria uma “atitude natural” na apreensão e análise do fenômeno, depois realizar uma redução ou variação eidética (a ideia no sentido grego é uma imagem antes que um conceito), ela passa por um nível psicológico e um nível transcendental.
Aqui tornar-se algo como “consciência pura”, Husserl chama de “atitude fenomenológica”, ela permite novas perspectivas (Abschattungen) e diversas variações de perfil (Abschatung), é importante as raízes alemãs, porque percebe-se que uma é uma “variação” da outra, é o eidos.
É precisamente nesta variação eidética que se dá, na consciência, algo que vai objeto percebido (noesis) ao noema, um complexo de predicados e de modos a ser dados pela experiência.
A coisa que se apresenta a minha consciência não é apenas abstrata, não tem sua existência negada, o que Husserl defende é que temos uma percepção do algo (objeto para o idealismo), que só se sustenta na possibilidade de diversos perfis (abschatung) que ele é apreendido.
Resta-nos duas perguntas se isto está separado de sua materialidade (hylé para os gregos) e se é possível pensar nesta consciência como consciência do mundo, a transcendência na história.
HUSSERL, E. A crise da humanidade europeia e a filosofia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.