RSS
 

O que significa ver

11 abr

Exploramos muito em nossos posts a cegueira: filosófica (na República de Platão o mito da caverna), lógica (Parmênides, Russell, Hilbert, etc.), religiosa (Feuerbach, Hegel, etc.) e literária (O ensaio da cegueira de Saramago e a Peste de Camus), só para citar alguns, além deles navegamos sobre a linguagem em Heidegger, Hans-Georg Gadamer, Levinas, Ricoeur e outros.

Agora queremos navegar pelo mundo da visão, dizia Bachelard: “todos os seres são puros porque belos”, já o poeta Alberto Caeiro “o mundo não se fez para pensarmos nele, mas para olharmos e estarmos de acordo, também o filósofo e místico russo Nicolas Berdjaev (há muitos místicos russos) dizia que no Paraíso não há ética e só há estética, tudo isto para dizer que ver é ter olhos para o belo, por isso muita coisa hoje feia é autoproclamada bela, assim a inversão não é só ética.

O feio era para Platão do ponto de vista ontológico o quase-nada, sendo o mundo sensível o que é o aparentemente real, sendo mera sombras das ideias (o mito da caverna) e o ideal (eidos) o verdadeiramente real, assim o feio é o informe e não tem existência real e não é modelo universal.

Não é pouco natural que num mundo fragmentado, a beira da sua policrise o belo quase desapareça, e assim o homem não vê, o que vê são sombras, rascunhos de ideias difusas e confusas, o modelo universal desaparece e o discurso é meramente o discurso do conflito.

O belo desponta harmonia, sugere fusão onde há divisão, confunde o caótico dando-lhe forma e mesmo o mundo da pura forma não é mais geométrico é fractal, não fracionário, e sim um fracionário natural pertencente ao todo da parte menos significativa ao corpo todo (na foto o fractal de Lorentz e o efeito borboleta).

Gostamos do ponto, reta e plano, mas isto é Geometria de Euclides, o mundo não é reto e plano.

Do ponto de vista lógico é a aproximação da teoria do caos (há lógica caótica), do ponto de vista filosófico é a visão da complexidade (o simples é quase sempre simplista), do ponto de vista religioso pode-se dizer: “Deus criou tudo e viu que era bom” (e belo), do ponto de vista literário penso que a melhor expressão foi a Friedrich Schiller (1756-1805): “Como reconstruiremos a unidade da natureza humana, que parece completamente suprimida por esta oposição originaria e radical?”(pag.71), escreveu em sua obra “Educação Estética do Homem”, a respeito da divisão no interior do homem entre o impulso formal que o arrasta na dimensão do seu tempo.

Visto como poeta é uma obra maravilhosa, como filosofia fica sujeito a crítica pela distância histórica de seu tempo e os muros da ideologia alemã de seu tempo

SCHILLER, F. “Educação Estética do Homem numa série de cartas”, trad. Roberto Schwartz e Márcio Suzuki, São Paulo: Editora Iluminuras, 1989.

 

Comentários estão fechados.