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Posts Tagged ‘Tsunami’

Ciência com consciência

29 set

Um minúsculo vírus nos desafiou e nos colocou diante de uma grave Pandemia, um vulcão que entra em erupção e cujo fim mesmo vulcanólogos e geólogos ainda veem como imprevisível.

A grande marca da ciência contemporânea é o fim das certezas, o princípio da incerteza anunciado primeiro por Heisenberg e depois certificado pelas pesquisas da física das partículas e pela astrofísica, Karl Popper desenvolveu o princípio da falseabilidade para a ciência e o Paradoxo de Gödel diz que nenhum sistema axiológico pode ser completo e consistente ao mesmo tempo.

Isto deveria nos devolver a humildade, o iluminismo não significa que a ciência triunfou e sim que ela descobriu seus limites e que deve dar espaço a ética e a um humanismo que complete o homem para além de sua racionalidade.

Edgar Morin escreveu “Ciência com consciência”, apresenta um duplo desafio: aponta os problemas ético e morais que a ciência contemporânea tem, cujos múltiplos e prodigiosos poderes de manipulação impõe aos cientistas e aos cidadãos, e de certa forma a humanidade inteira o problema do controle político e privado das descobertas.

Segundo Morin, os conceitos de progresso e conhecimento que se apresentam relacionados, devem ser reordenados, assim o progresso não se reduz à organização do desenvolvimento da economia, e o conhecimento não se restringe ao fornecimento de informações, mas também a superação de estruturas sociais teóricas que condicionam sua configuração a uma forma de pensamento.

Esclarece nas páginas 9 e 10 que “o dogma clássico de separação entre ciência e filosofias, as ciências a destes séculos todas encontram questões filosóficas fundamentais: “que é o mundo? a natureza? a vida? o homem? a realidade?) e que os maiores cientistas desde Einstein, Bohr e Heisenberg se transformaram em filósofos selvagens”. (MORIN, 2005).

Lembra no prefácio também o preceito de Rebelais: “Ciência sem consciência é apenas ruína da alma.” (p. 9).

MORIN, E. Ciência sem consciência. Edição revisada e modificada pelo autor. (Tradução de Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória). 9ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2005.

 

Vulcões, entre a ciência e as superstições

28 set

O vulcão nas ilhas Canárias que arde a mais de uma semana, e por enquanto apenas aumento o volume e a quantidade de lavas incandescentes despertaram perguntas e medos, nem tudo é realmente certo, os vulcanólogos e geólogos não tem previsão para o esfriamento do vulcão e nem todas as superstições vieram apenas de profecias e apocalípticos.

A possibilidade de um megatsunami, partindo do meio do Oceano Atlântico, o Oceano pacífico tem mais vulcões e terremotos no chamado círculo de fogo (foto) que o Atlântico foi estudado após o maremoto da Indonésia que ganhou notoriedade, porém foi o do Japão, que afetou a Usina de Fukushima o mais assombroso.

O alerta não partiu de supersticiosos, mas de pesquisadores britânicos em artigo de 2001 (Ward & Day, 2002), o artigo ganhou notoriedade por citar diretamente as Ilhas Canárias (veja foto acima), e foi publicado na revista científica Yearbook of Science and Technology, fez outros estudos em casos já acontecidos, como o de 1º. de abril 1946 nas ilhas Aleutas onde houve um deslizamento de terra semelhante ao da costa de Papua Nova Guiné.

Cita que o maior deslocamento de terra, que provocou megatsunami, foi o deslizamento de terra em 1929 devido a um terremoto, no parque Nacional de Terra Nova, Canadá, na península de Burin, que chegou até a costa da Escócia e Holanda, mas só foi percebido por causa de fragmentos que foram depositados nas costas destes países.

O artigo fez experimentos por simulação em computador, que mostra que a eficiência de geração de tsunami aumenta com a velocidade e o volume do deslizamento de terra, e fez uma simulação justamente com o vulcão Cumbre Vieja (fig. 3 acima), na ilha de La Palma (uma das ilhas da Gran Canarias), e escreveram textualmente: “movimentos contínuo e recentes dos flancos de uma série de vulcões de ilhas oceânicas incluindo o Kilauea no Havaí e o Cumbre Vieja em La Palma, nas Ilhas Canárias, são possibilidades que estes podem romper [os flancos] durante uma erupção num futuro não muito distante” (Ward & Day, 2001).

O volume tem aumentado desde o domingo passado (19/09) e um dos flancos se abriu, mas não desmoronou e as lavas ainda não tinham chegado ao mar até a presente o dia de ontem.

Tivemos no ano outros vulcões em erupção, na Itália o Etna, na Rússia o vulcão Ebeko nas ilhas Curilas e na Islândia o Fagradalsfjall, mas estes não oferecem perigo, no caso da Islândia houve um período de interrupção do tráfego aéreo na região.

Outros vulcões no mundo se manifestaram este ano, na África o Nyiragongo no início de junho, na Indonésia o Sinabung no início de março, na Guatemala o Vulcão de Fogo, mas que já cessou a erupção, há outros pelo mundo, os vulcões ativos (mas não em erupção) são ao todo mais de mil, o Brasil está longe das placas tectônicas que além de vulcões provocam terremotos.

Por algumas horas o Vulcão Cumbre Vieja cessou de jorrar lava, mas voltou, se a duração e volume de material será suficiente para um tsunami, depende da intensidade e duração, nem vulcanólogos e nem os geólogos que acompanham o vulcão sabem dizer com certeza.

Ward, N. and Day, Simon. Suboceanic Landslides. Steven Yearbook of Science and Technology, McGraw-Hill, 2001. Disponível em: ward&day.pdf (ucsc.edu)