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O idealismo e a vivência real

18 jan

A grande descoberta da vida real (ou redescoberta se tomamos como base a ontologia clássica e medieval) é uma crítica radical ao idealismo, que separa o sujeito da vida com o mundo real, o que é prometido na vida projetada sobre as coisas e as não-coisas (nossos posts da semana passada) é a catástrofe da vida real que não se traduz em valores reais e concretos.

A fenomenologia retoma a vida real através do Lebenswelt (mundo da vida) que foi retomado pelo filósofo Husserl e que é tocado e citado por Habermas, sem desenvolvê-lo realmente.

O objetivo desta filosofia é mostrar que deve ser o ser humano o centro do processo de conhecimento, a consciência humana é doadora de significado ao mundo das coisas, ou dos fenômenos deste mundo, de onde vem o nome fenomenologia, não-coisas também podem readquirir sentido se penetrarmos nesta razão humana (que o idealismo chama subjetividade).

Com isto a consciência humana readquire significado e sentido aos fenômenos e coisas do mundo, direciona ao que é cada coisa em essência, num caminho sempre intencional e com isto doador de sentido.

Husserl na sua obra “Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia transcendental”, é onde este conceito aparece de forma clara e aprofundada, porque estabelece uma relação entre a epistemologia (a sistematização do conhecimento) e a filosofia e redescobre a ascese.

Assim, uma verdadeira ascese não separa o mundo das coisas e não-coisas apenas mostrando que haveria uma irrealidade em um destes mundos, como ele não está separado da vida, é lá que se verifica que nos deslocamos do mundo concreto da vida para um caminho cujo evolução destrói a base do humano e do real, as guerras e as decadências pessoais são isto.

Em Habermas o mundo da vida é trabalhado como algo que está imediatamente disponível para os atores sociais sob a forma de significado e/ou representações disponíveis a todos, já para Husserl a fundamentação fenomenológica remete a uma ética para a ciência e a técnica do mundo, dado que a ciência não conseguiu alcançar este patamar como discurso sobre a ação na qual é ausência a vida da reflexão, e dentro da ciência, o que faz o criticismo de Kant.

Sloterdijk desenvolveu algo próximo a este conceito como uma ascese desespiritualizada, ou seja, apesar de trabalhar o conceito de “fenomenologia do espírito” eles ficam no campo abstrato e sua real atualização no mundo da vida não acontece, porque não é claro que tipo de exercício é este.

Assim realizamos uma série de “exercícios”, somos a sociedade dos exercícios físicos e mentais, mas sua tradução no mundo da vida não leva a atos sociais e morais concretos.

HUSSERL, E. A crise da humanidade europeia e a filosofia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.

 

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