
A linguagem e os frutos
Hermenêutica é a arte ou técnica de interpretar e explicar textos, originaria do grego, ela também se aplica hoje à ontologia e a filosofia da linguagem, e serve para interpretação não só de textos e filosofias tradicionais, como os textos sagrados e jurídicos.
O problema grave da linguagem nos dias atuais é sua perspectiva de uma análise fragmentária e distorcida dos textos, enquanto a hermenêutica serve para uma verdadeira interpretação (aspetos etimológicos, de tradução e de significação), o uso da linguagem para justificativa do poder era mais próprio dos sofistas na modernidade antiga.
Assim os frutos de uma verdadeira expressão linguística, e de uma hermenêutica filosófica foi o de construir um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, há vários autores, porém, destaco Hans-Georg Gadamer, e ela é fundamental para uma perspectiva humanística.
Gadamer reconstrói o conceito de pré-conceito, tirando a carga negativa de juízo antecipado que tinha adquirido na ilustração, dando um caráter essencial dentro da hermenêutica, uma vez que permite a fusão de horizontes, dentro do círculo hermenêutico anterior ao diálogo.
Assim rejeita a ideia de um conhecimento do passado por meio da razão pura, sem mediação da própria tradição do intérprete, uma vez que isto impede a fusão de horizontes e o diálogo.
O intérprete não realiza apenas uma atividade “reprodutiva” do texto, senão que o atualiza de acordo às circunstâncias do momento, por isso fala-se do seu labor “produtivo” (Gadamer, 1997), não há referência direta ao conceito de “labor” de Hannah Arendt, mas cabe bem no texto, uma atividade natural e não durável que se esgota ao ser realizada.
Assim é o uso produtivo da linguagem, palavras que são ações que acionam atitudes de ajuda, de socorro, de solidariedade e de diálogo, ainda que de diferentes interpretes, o importante é que uma linguagem humanitária leve a ações a favor da sociedade e de princípios frutíferos.
Não se colhem figos de espinheiros, a árvore boa não pode dar maus frutos, a linguagem que é dirigida a boas iniciativas humanitárias, não terá resultados negativos, assim facilmente ela caminha para um diálogo se realiza a “fusão de horizontes” como ponto de partida na interpretação, a base de um diálogo hermenêutico.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.