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A linguagem, o ser e o infinito

26 mar

A linguagem e o ser são ontologicamente ligados, quer dizer, a linguagem é um modo do ser (ou sua morada) que Heidegger chama de Dasein e se apresenta na constituição fundamental do ser-no-mundo.

Porém os limites da linguagem não são limites para o ser, ela é a expressão da comunicação de nossa ligação com o outro e com o mundo, a marca característica da linguagem é o sinal (ou o signo como conceitua a semiótica) porque é ele que vai identificar o saber, ela o mostra o objeto e concede a ele uma “re-presentação” (aqui para lembrar o conceito de “presentar).

Já a eticidade como objetividade (este conceito é hegeliano que Heidegger usa) do representante (por isto usa o re-) dá a ele uma vigência presente do objeto, então é a palavra que produz o conhecimento concede uma verdade de correção de representação, então ela tem uma verdade lógica e assim outras correções serão necessárias, porém todas finitas no tempo.

Os limites da representação estão na escuta atenta e silenciosa ao outro do si-impessoal que todos trazemos em nossas relações, bem como é a escuta apropriada ao outro coexistente que o ser-aí dá a compreender o que realmente importa na relação consigo e com o outro.

Em seu trabalho “o caminho para a linguagem” (2003), escrito nos anos 50 (assim em sua maturidade, Heidegger falece em 1976), afirma que falar não é o mesmo que dizer, pois se pode falar muito sem nada dizer; por outro lado, ao calar-se e silenciar, alguém pode dizer muito, isto significa que falar pode ser apenas mostrar, aparecer, ver e deixar de ouvir.

Nada mais importante que em períodos midiáticos que desejamos ouvir parlatórios públicos e não ouvimos o outro em nosso silêncio interior, os gregos e a fenomenologia chamam de epoché, é tão importante que nenhuma filosofia ou religião realmente verdadeiras podem se abster deste recurso, assim temos uma filosofia vazia, pensadores de barriga cheia e vaidosos.

O passo para ir além, para estender o nosso conhecimento além da representação mundana é desvelar o mundo, já que sua re-velação é apenas um novo velamento, o desvelar nos faz ir além alcançar aquilo que para a objetividade presente parece impossível, não se trata nem de riqueza, nem de bens utilitários, nem de visibilidade pública, mas um encontro com o Ser.

Na Carta sobre o Humanismo (1949), no qual analisa seu período de viragem ao longo dos anos 30 e início dos anos 40, ele afirma que seu pensamento se dirigiu a relação do ser para a essência do homem, porém será este Heidegger que Peter Sloterdijk questiona porque somente viu uma face do processo, o esquecimento do ser, e deixou impensado o seu caráter propriamente domesticador, em seu livro: “Regras para o parque humano” em que questiona a bioengenharia, a tecnologia que recolocam a questão humanitária em crise novamente.

Alcançar o além dos limites humanos tem sido um desafio para o processo civilizatório e isto é divino. 

HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2003.

 

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