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Posts Tagged ‘strong fear’

Vencer o medo tendo esperança

12 abr

É comum ouvir no dia a dia, não tem jeito, está tudo perdido mesmo, em dias difíceis para toda a humanidade, parece impossível acreditar num futuro cheio de luz e felicidade, porém tanto na filosofia quanto na verdadeira espiritualidade existe um espírito de resistência: a esperança.

Tantas vezes na história parecíamos perto do fim, os impérios antigos, as grandes guerras e as duas “mundiais” recentes não são um mero acaso, e também não deixaram de ter muita morte, tristeza e decepção, mas o pior é que não tivemos a sorte de entender aquele flagelo.

Não sabemos lidar com a dor, com a decepção, com o “não” e queremos a todo custo ser os vencedores em qualquer contenda, até mesmo as esportivas que deveriam ser motivo apenas de alegria e distração, podem se tornar uma guerra pela falta de espírito sadio de competição.

Na Sociedade Paliativa: a dor hoje, Byung Chul-Han escreve: “A sociedade paliativa é uma sociedade do curtir. Ela degenera em uma mania de curtição. O like é o signo, o analgésico do presente. Ele domina não apenas as mídias sociais, mas todas as esferas da cultura. Nada deve provocar dor”, queremos algo que “cure” imediatamente ou suprima qualquer dor ou mesmo um pequeno sofrimento.

O autor cria um verbo baseado nas novas mídias: “Não apenas a arte, mas também a própria vida tem de ser instagramável; ou seja, livre de ângulos e cantos, de conflitos e contradições que poderiam provocar dor. Esquece-se que a dor purifica”, e o medo traz luz a consciência. 

Como vencê-lo? Já parou para tentar responder essa pergunta? com a Esperança, não aquela de quem espera e nada faz, mas aquela de quem para e medita sobre a dor, sobre também aqueles que sofrem injustiças, julgamentos e que deveriam ocupar nossas consciências.

A resistência do Espírito, que Edgar Morin preconiza para os dias de hoje, são também um espírito de Esperança, porque de nada valeria o exercício espiritual, sem que nele coubesse uma crença num futuro melhor para todos, de paz, de justiça e de aceitar as diferenças.

Na narrativa bíblica, quando os discípulos viram Jesus ressuscitado “andando sobre o mar”, tiveram medo e não entenderam bem o significado icônico dele, mas o mestre disse (Jo 6,19): “Coragem, sou eu”, e se aproxima deles, uma força nova veio justamente após este “medo”.

 

Felicidade, medo e serenidade

10 abr

Entre os principais convidados de “Fronteiras do Pensamento” está Luc Ferry, ainda pouco conhecido no Brasil, e já com um certo expoente na Europa ele também falou do medo, um dos nossos temas desta semana.

Defende uma espiritualidade laica, para mim e outros cristãos frágil, porém alguns de seus raciocínios e comentários são importantes, por exemplo sobre felicidade: “… não existe, temos momentos de alegria, mas não existe um estado permanente de satisfação …. podemos almejar é a serenidade, algo completamente diferente. Só se atinge a serenidade vencendo o medo” (entrevista ao Fronteiras do Pensamento).

Classifica o medo em três tipos: a timidez (surge em função do ambiente e da sociedade), a fobia (medo do escuro, de insetos, de ficar presos num elevador), ao nosso ver é o único que realmente se encerra dentro daquilo que o autor trabalha principalmente: a psicologia, e o terceiro é o medo da morte (das pessoas que amamos e de nossa própria morte), ao nosso ver este remete necessariamente a finitude da vida e do homem, só é possível transcender com uma espiritualidade não laica.

Cita um importante autor que é Hans Jonas, e seu livro O princípio da responsabilidade, onde há um capítulo chamado de Heurística do medo, descrito como uma paixão positiva e útil.

Através da leitura deste autor faz uma leitura positiva: “A ecologia inverte essa tradição filosófica ao sustentar que o medo é o começo de uma nova sabedoria e que, graças ao medo, os seres humanos vão tomar consciência dos perigos que existem no planeta. O medo não é mais visto como algo infantilizado, mas como o primeiro passo no caminho da sabedoria”.

Se não tivermos medo da guerra, de uma catástrofe atômica, de um planeta desertificado, da fome já presente em pessoas e países pobres, não teremos responsabilidade social, a maioria de nós (que não vivem estes medos) imagina que jamais serão atingidos, porém não é assim.

Reconhece que a religião também trabalho esta questão, mas sua espiritualidade laica afirma que: “só que as grandes filosofias são doutrinas da salvação sem Deus e sem a fé”, então fica a pergunta como vencer a finitude e a morte, e se a ressurreição de Jesus for verdadeira?.

Claro é uma pergunta a partir da fé, mas os homens daquele tempo viram, presenciaram e deram testemunho, então porque não apostar na fé como propunha Pascal, o que perderia com esta “aposta”, claro que é importante ir além, mas poderia ser um primeiro passo.

O que ganho hoje com esta aposta, é uma resposta simples, mais paz e mais convicção da possibilidade da paz, de não precisar destruir para descobrir que optamos pela morte e pelo medo?.

Luc Ferry – A boa vida – YouTube  

 

A angustia, o ser finito e o temor

18 jun

A angústia, enquanto categoria essencial, é o dado temporal mais significativo de nossa existência, o fato que o homem tem um fim, que ele morre e sua existência acaba, é a partir daí que Heidegger trabalha outro conceito que é o ser-para-a-morte [Sein-zum-tode].

Assim a morte é uma limitação da unidade originária do ser-aí, e significa a transcendência humana, o poder-ser, que contém uma possibilidade do não-ser, mas aqui só como negação, “o fim” do ser-no-mundo é a morte, este fim limita o poder-ser, que é a sua existência, e limita a totalidade possível do Dasein (1989, vol. II, p. 12)

É possível separar o medo do temor, deixar o primeiro dentro dos limites do finito, e o temor fora destes limites, aquilo que o imaginário humano penetra e projeta como não-ser, além da ser-para-a-morte, um ser-para-além-da-morte.

Byung Chul Han alerta que assim como a positividade a negatividade também é perigosa: “ela é definida pela negatividade da proibição. O verbo modal que a governa é o ´não-pode´ (…) A sociedade do desempenho, cada vez mais, está no processo de descartar a negatividade. A crescente desregulamentação está abolindo isso.  O ilimitado ´poder´ é o verbo positivo modal da sociedade da conquista (…) proibições, comandos e leis são substituídos por projetos, iniciativas e motivação. A sociedade da disciplina ainda é governada pelo ´não´. Sua negatividade produz loucos e criminosos. Em contraste, a sociedade do desempenho cria depressivos e perdedores.”

Assim é possível pensar na negatividade como um processo importante, embora gere medo, e a partir dela gerar um processo do temor, que longe de negar as proibições, demonstra que elas podem nos levar a resultados mais amplos que os prometidos pelo desempenho, é o além-do-ser.

Nem a transcendência do idealismo que é mera projeção do ser sobre o objeto, o assim chamado subjetivismo, nem o ser-para-a-morte como transcendência fatal, mas um temor produzido pela negatividade que nos leva a reconhecer limites, tal como aqueles que foram impostos na Pandemia e que não geram a morte, nem se confundem com o negacionismo que é o positivo modal, negar que a vida humana precisa de limites em situações de perigo.

A leitura Bíblica de Marcos (Mc 4, 35-41), pode neste quadro do temor, desvelar novas coisas sobre o ser, diz a leitura que “ao despedir as multidões”, Jesus foi com os discípulos “para a outra margem”, diria longe do ser-aí da pura positividade do ser-no-mundo, o barco enfrenta forte ventania e ondas fortes começam a encher a barca, o temor toma conta dos discípulos, temem pela morte e dizem ao mestre “estamos perecendo”, o mestre diz para o vento e o mar: “cala-te”.

Não se trata de mágica nem de simples demonstração de poder, a frase dita por Jesus explica muito: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”, mas eles ainda sentiam “um grande medo”, é a angústia.