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Oriente Médio e Leste Europeu sob tensão

17 fev

Após ameaça de suspensão da trégua que se iniciou em 19 de janeiro, o Hamas acusa Israel de violar o acordo, neste final de semana mais três reféns do grupo extremista foram devolvidos em troca de centena de prisioneiros, os reféns foram exibidos num palco na cidade de Khan Yunis, no sul de Gaza (foto).

Os três reféns: o israelense-americano Sagui Dekel-Chen, o israelense-russo Sasha Trupanov e o israelense-argentino Yair Horn, estavam com o Hamas desde 07 de outubro do ano passado, o fatídico ataque terrorista.

A situação é tensa porque o governo americano não aceita a governança do grupo Hamas na região e faz todo tipo de pressão para que a região fica neutra.

No leste europeu a política americana é de considerar que a Ucrânia não vai conseguir recuperar os territórios perdidos na guerra e força um acordo de paz com novas fronteiras, ameaçando retirar qualquer apoio, mas não deixa de ver o avanço russo na Europa, no Polo Ártico a presença russa é notável, e forças do Canadá, EUA, Dinamarca e Noruega já se deslocam para lá.

A Europa não abandona totalmente a Ucrânia, porque sabe que a Rússia poderá não parar lá, já fez ameaças aos países bálticos, à Moldávia e a Polônia.

Na semana passada, drones atingiram Chernobyl, ao que tudo indica eles foram enviados pela Rússia, atingindo o escudo central de proteção.

Neste domingo (16/02) a França declarou que sediaria uma cúpula de líderes europeus nesta segunda-feira (17) para discutir a guerra do leste e a segurança da Europa e procura responder a abordagem unilateral do presidente Trump, que usa a política do que não é bom para os EUA não lhe diz respeito.

Em todo este espectro de tensões e ameaças, há sempre um fundo de esperança de paz de retorno ao bom senso e de deixar que os povos vivam em paz, podendo cultivar suas raízes e sua cultura, sem xenofobia e guerras.

 

A lógica do “hater”

12 fev

A palavra está no centro de discussões acaloradas, manifestações de cólera e de pouca empatia, a lógica do “eu” primeiro entrou em todos círculos, do familiar ao político.

A tradução para o português seria “odiador”, mas pelo pouco uso desta palavra no português creio que hater acabará nacionalizado, e por falar nisto, muita gente não gosta do uso de palavra como meeting (encontros), coaching (treinamento) e open house ou home-office, que muita gente usa, mas temos exemplos do passado: abajur (do francês), software  (do inglês), chucrute (alemão) e schoppen (do alemão, que virou chope) e que não tem nada a ver com shopping (do inglês, compras).

É preciso evitar o “hater”, o “bullying” (intimidação) eles levam a um tipo de assédio moral, também o meme, que se usada em sua origem (vem do grego mimeses) seria uma unidade básica de transmissão cultural, que significa imitação, mas que foi transformada em uma analogia maldosa, por exemplo, determinada figura pública como um animal.

Na raiz de toda esta perversão cultural estão não a introdução de novas palavras na língua falada, que em si não é um mal, mas feito de maneira maldosa torna-se algum tipo de intimidação cultural, que leva ao preconceito e daí a violência.

Não é apenas a falta de empatia, é o respeito ao diferente, é o desejo de inclusão do Outro, diversos autores escreveram sobre isto (Paul Ricoeur, Emmanuel Lévinas, Habermas, Todorov, Martin Buber, etc.) nenhuma filosofia contemporânea digna do nome deve deixar de abordar este tema, ao final de tudo é um “ente” de um mundo em comum, assim o Ser-no-mundo se torna um “ser-com-os-outros” num mundo compartilhado (mitwelt).

Esta mudança de comportamento começa no coração e na alma do “dasein”, onde a clareira de Heidegger pode se abrir em meio a uma floresta densa e obscura.

Sem olhar o Outro com sua dignidade (Ricoeur escreveu “outramente”, Buber escreveu “o eu sagrado”) é diferente do eu-isso que boa parte da filosofia também explora.

O coração purificado aceita empaticamente o Outro, como uma forma do seu Ser.

 

Guerra mitigada e paz distante

10 fev

Tanto na faixa de Gaza quanto na Ucrânia estão sendo mitigadas, as duas principais guerras e as mais ameaçadoras de uma guerra total, a espera de uma paz a partir do governo Trump não se concretizou, o que ele quer é uma pax romana, ou seja, o domínio dos vencidos.

O governo atual dos EUA negocia terras raras com a Ucrânia, em troca de equipamentos, estas terras têm custo alto e são usadas tanto em lentes de câmeras e telescópios, para maior precisão visual, como em refinamento de petróleo, num processo chamado craqueamento.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou sexta-feira (7/02) que está disposto a este acordo em troca de apoio à guerra, a região próxima ao rio Dnipro é rica neste minério, e revela os verdadeiros interesses da guerra, além da forte produção de grãos da Ucrânia.

Na faixa de Gaza houve nova troca de prisioneiros, no sábado (9/02) três sequestrados pelo Hamas foram trocados por 183 prisioneiros palestinos, a volta dos israelenses não encerrou o drama, porque ao chegarem descobriram que os familiares foram mortos no ataque do dia 7 de outubro que iniciou o conflito.

O plano de Trump para Israel, porém é o domínio da região da faixa de Gaza, onde os palestinos consideram como seu território, foi saldado por Netanyahu como “revolucionário”, já para os palestinos significa a continuidade do conflito e a constante ameaça dentro de suas fronteiras.

No domingo (09/02) foi anunciada a retirada completa das tropas israelenses do chamado corredor de Netzarim, que dividia a Faixa de Gaza em duas permitindo o deslocamento do sul para o norte (foto).

Trump segue uma política de taxação, uma autentica guerra de comércio, diz que vai anunciar no dia de hoje tarifas de 25% sobre alumínio e aços importados pelo país, a decisão atinge o Brasil, o Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou que não vai se pronunciar.

Também a retirada dos EUA da OMS (organização Mundial da Saúde) foi anunciada, e foi seguida pela Argentina, Trump acusa a Organização de desvio de verbas para outras finalidades e uso político destas verbas, contrárias aos interesses americanos.

Também o comércio com a China e Rússia está abalados, os países bálticos Estônia, Letônia e Lituânia completaram ontem a migração da rede elétrica da Rússia para o sistema da União europeia, encerrando os laços da era soviética e em busca de maior segurança para os países.

O cenário é de mitigação da guerra, podendo a qualquer momento ocorrer uma escalada maior, porém a esperança em construir uma paz sustentável não foi abandonada, ainda forças do mundo árabe e da Europa procuram soluções diplomáticas para estas guerras brutais.

São os interesses econômicos que estão em jogo, acima do político, os ânimos estão fora de controle não só nos países em guerra, mas em toda parte há um posicionamento polarizado.

A volta a serenidade, a consciência que na guerra todos perdem, e os mais fracos são sempre os mais explorados e sacrificados, deve ser base para conversas mais humanísticas e menos econômicas e ideológicas, a paz deve se sobrepor aos interesses dos ditadores.

Um clima de liberdade, paz e justiça é o único caminho para uma paz sustentável.

Urgente: conforme nossa análise ao final do dia o grupo islamista acusou Israel de violar cessar-fogo ao atacar civis que tentam retornar ao norte da Faixa de Gaza e Israel colocou as suas forças em alerta máximo.

 

Sabedoria e mudança de rota

06 fev

Entre as virtudes está a sabedoria, em tempos de narrativas desconexas e pouco conhecimento, surgem inúmeros sábios de meias-verdades, profetas de mãos e vidas impuras, e há um público para aplaudi-los.

Assim é necessário desprezar a sabedoria, a pouca leitura, banalizar o que é bom e belo, infringir até mesmo o mais simples raciocínio sobre a preservação da vida, a justiça e a dignidade que possui todo ser humano, não por acaso a palavra de 2024 foi “brainrot” (cérebro estragado).

Não apenas porque bombardeamos nosso cérebro com alimento estragado, mas principalmente porque abandonamos a boa leitura, a boa cultura e a boa fé de quem fez realmente uma mudança de rota.

A figura bíblica que fez esta mudança radical de rota, e era um sábio grande conhecedor do judaísmo e da cultura grega é Saulo de Tarso, nascido nesta cidade da Cilícia no ano 5 d.C. e foi inicialmente grande perseguidor dos cristãos, sendo apontado como responsável pela morte de Estevão, primeiro mártir cristão.

Teve uma visão mística de Jesus que pergunta “porque o persegue” e fica cego a caminho de Damasco (foto), se isto é uma metáfora ou não, não é o mais importante, lhe é indicado para ir ao encontro do cristão Ananias onde tem a vista restaurada.

A cegueira o fez ultrapassar os limites das tradições judaicas, ainda com controvérsias como a discussão com Pedro sobre a circuncisão, porém a própria Bíblia lembra que temos olhos e corações (Dt 10,16) que são incircuncisos e isto explica a cegueira de Saulo, agora transformado em Paulo.

Ele será importante para a mudança de mentalidade que sai dos domínios judaicos e vai até os gregos e romanos, sem ele talvez o cristianismo ficasse como uma seita judaica, e sua sabedoria influenciou profundamente Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, pensadores importantes para o pensamento cristão e não há como negar a necessidade de sabedoria.

A religião dos preceitos, que exclui a muitos e que não permite que muitas pessoas mudem de rota está em franca decadência, e isto serve para a cultura de um modo geral, com uma necessidade urgente de uma espiritualidade que favoreça uma ascese verdadeira.

Não são as emoções, os discursos bem feitos e até elaborados que provocam uma “mudança de rota”, mas a consciência clara das necessidades humanas e espirituais de nosso tempo.

Não raros aqueles que se propõe a estes discursos, apelam para a exclusão, para a ruptura social e veem nisto um “profetismo” que não pode ser alcançado por mãos impuras.

Aquilo que é divino é transparente e límpido, vem com uma linguagem serena e clara, com atitudes que provam a mudança de rota, sem o exemplo qualquer discurso é vazio ainda que empolgue e provoque emoções.

 

Virtudes éticas, morais e cardeais

05 fev

A ética é importante para o bom convívio social e para o bom funcionamento das relações humanas no contexto social, elas deveriam ser base para aqueles que hoje contestam as relações morais e as distanciam das virtudes cardeais, por sua origem religiosa.

Alguns princípios são considerados centrais na ética como: autonomia, Beneficiência ou não maleficência (falar mal ou dar falso testemunho) e justiça, deveriam ser base para boa relação social.

Em tempos de relativismo moral, o relativismo político volta a ser tema, talvez tenhamos que retomar os princípios clássicos gregos para dar alguma serenidade ao debate social hoje.

A ética aristotélica era centrada na busca da felicidade e do bem-estar humano, através da virtude (areté) e do desenvolvimento moral.

A areté grega significa tanto virtude quando excelência, a busca de Platão e Aristóteles era de formar cidadãos “íntegros” de forma que pudessem fortalecer a sociedade moralmente, e superar a política que até este tempo sofria forte influência dos sofistas, argumentos discursivos que favorecessem os poderosos independentemente de suas atitudes.

O relativismo nasce aí, buscando apenas justificar o poder por meio de argumentação, a forte semelhança com as narrativas atuais é indicativo que alguma fissura na postura política está se alastrando na democracia moderna.

Os gregos antigos tiveram que superar o relativismo para chegar a democracia, defendiam que os valores morais e as verdades não podiam ser relativos aos contextos históricas e sociais.

O livro Teeteto de Platão é considerado um dos primeiros textos a abordar o confronte entre a verdade e o relativismo, seria ótimo reestuda-lo para a política atual, quando relativismo !!!

As virtudes cardeais devem ser vistas como um complemento, sem elas não chegaremos a uma verdadeira fraternidade e união dos povos, o amor fica esvaziado pela vulgarização atual, já abordamos a filósofa inglesa Philippa Foot (1920-2010) abordou com clareza a lacuna que existe na moral contemporânea das virtudes cardeais: coragem, prudência e temperança (ser mais serenos, quanta falta isto hoje faz) além da justiça que é abordada parcialmente.

Sem as virtudes cardeais temos dificuldades para incluir e viver em paz com todos.

 

O nacionalismo, o medo e a guerra

04 fev

Não é a primeira vez na história que o medo toma conta da sociedade, aparecem as diversas doenças psíquicas, como a depressão e a síndrome do pânico, e as sociedades parecem se fechar, para surpresa geral, a Alemanha sempre tão a frente, tem o avanço da AfD (Alternativa para a Alemanha) que é a volta da ultradireita.

O problema da imigração agora na Alemanha aparece, sob protesto no bordão “somos o cordão sanitário”, quando ocorreu uma moção anti-fluxo imigratória e uma votação apertada da Lei do Fluxo Migratório, a crítica se dirige ao candidato a chanceler federal alemão Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), e manifestações em todo país aconteceram.

O candidato é o líder das intenções de voto para assumir o governo alemão na eleição de 23 de fevereiro, embora conservador se distancia das pretensões ultraconservadoras da AfD.

O significado destes movimentos, leis e crescimento de posições cada vez mais conservadoras é uma reação à sensação de desmoronamento das raízes civilizatórias das diversas sociedades e um crescente movimento de deterioração moral e político das instituições sociais.

Não se trata de uma zona de conforte e sim uma “zona de segurança” diante de uma ameaça cada vez mais presente de uma crise civilizatória sem precedentes, e sem um elemento de paz e esperança que possa amenizar estes processos de mudanças sem limites dos costumes.

O medo é quando as reservas morais de esperança e fé no futuro se contraem, tanto no nível pessoal quanto no social, os jovens que preferem se fechar e ficar “escondidos” em casa são um reflexo desta “zona de segurança” enquanto que os que saem abandonam qualquer limite.

As forças pacificadoras, além de combaterem os extremismos devem também semear a paz e a esperança e diminuir os ataques frontais aos extremismos que apenas os fortalecem.

Não ter medo é também um importante ingrediente destas “batalhas”, mostrar serenidade e tranquilidade diante de situações adversas ajudam a minimizar os efeitos da intimidação e do assédio que caracterizam as forças extremistas, elas se alimentam do medo e da violência.

Os verdadeiras núcleos de esperanças são inclusivos, não se motivam por provocações ou narrativas que defendam suas posições como únicas verdadeiras, não se trata de relativismo, mas de iluminação e desativação do medo que caracterizam as sociedades mais fechadas.

Somente a paz entre os povos pode garantir a esperança de um mundo mais saudável e fraterno para todos, sem exclusões. 

 

Paz provisória em Israel e difícil na Ucrânia

03 fev

Seguem em passos do acordo Hamas/Israel, na quinta feira (30/01) foram libertados 8 reféns, sendo 3 israelenses e cinco tailandeses, em troca de 110 prisioneiros palestinos, o Hamas vai soltar a lista do total de reféns, porém Israel continua atacar posições do Hezbollah no Líbano, destruindo casas.

A paz na Ucrânia tem poucos detalhes divulgados pela imprensa, sabe-se que há movimentos nos bastidores, e que uma parte do acordo seria o retorno do gás russo para a Europa, depois de penalizar a economia russa com sanções, e o fornecimento de gás é uma delas com o recente bloqueio de passagem do gás russo pelo território da guerra.

Keith Kellogg, enviado de Trump para negociar a paz entre a Ucrânia e a Rússia, disse em uma entrevista na sexta-feira (31/01) que o fim da guerra pode acontecer em meses.

Lá a tática tem sido bombardear refinarias russas, dentro do território russo, enquanto a Rússia destrói as fontes energéticas da Ucrânia, lembrando que o gás é usado na Europa também para aquecimento e estamos em pleno período de inverno.

No plano diplomático a Rússia mantem influências em países vizinhos como a Geórgia, a Sérvia (não sem protestos) e a instável Bulgária, segundo a ex-comissária da UE Mariya Gabriel devido a corrupção, ela deveria ser primeira-ministra, porém reassumiu Dimitar Glavchev como interino.  

Dificilmente um acordo será possível sem a Ucrânia ceder parte de seu território à Rússia e a questão oculta nos acordos são as crescentes provocações, agora com navios russos com carga atômica aproximando-se da Noruega (foto) que integra a OTAN, embora o navio tenha mantido as regras marítimas há desconfiança sobre suas verdadeiras funções, como por exemplo, colocar equipamentos que possam cortar cabos marítimos de comunicações no fundo do oceano.

Há conversas de bastidores, o governo Trump está empenhado em conseguir a paz ao mesmo tempo que não parou de enviar munições a Ucrânia, que passou a atacar o território russo e tornou a guerra mais intensa e em nova escalada.

Salientamos nos posts da semana passada as funções da linguagem, e já não mais linguagem neutra, até mesmo forças internacionais mediadoras são forçadas a tomar decisões entre as partes em litígio, as vozes pela verdadeira paz são abafadas em nome de narrativas parciais.

 

A linguagem e o mal

31 jan

A linguagem humana é tão complexa quanto o próprio homem, assim sem uma visão do Ser em sua complexidade (ela é onto-lógica) e sem uma exata compreensão das funções linguísticas (ver post anterior) corremos no erro de entender que a lógica proveniente de mídias e dispositivos se sobrepõe a lógica humana e pode ela “controlar” o real.

Wittgenstein seu Tractatus Logico-Philosophicus, reforça a ideia que: “a linguagem é um traje que disfarça o pensamento. E na verdade, de um modo tal que não se pode inferir, da forma exterior da veste, a forma do pensamento vestido por ela, porque a forma exterior do traje foi constituída segundo fins inteiramente diferentes de tornar reconhecível a forma do corpo” (Wittgenstein, proposição 4002, 2023).

Isto é válido também para a metalinguagem, onde a veste é a mídia digital (não é a rede, pois está é de relações), veste-se dela para omitir os fins para os quais muitos a utilizam, entretanto, o problema não é só sócio-político, ele é também moral e ético.

Esta omissão na linguagem permite que a despeito da “liberdade” se possa fazer atos linguísticos com absoluta imoralidade, é muito mais que uma simples expressão na “veste” é uma forma de corromper e destruir valores centrais do processo civilizatório.

Assim separar o que é bom do que é mal a partir da veste é também uma atitude complicada, não se pode incorrer em equívocos bastante comuns: impedir a livre expressão, discernir as intenções escondidas na “veste” e principalmente defender os “alicerces” da verdade.

A verdade é ontológica e não segue a lógica comum, ela visa o respeito ao ser, a sua dignidade como pessoa, o direito as liberdades básicas e principalmente o direito a vida, hoje sob uma “veste” bastante confusão de direitos a morte, onde a guerra e a exclusão são os principais.

A própria linguagem enquanto expressão cotidiana de comunicação sofre abusos e formas de deterioração a cada dia mais preocupantes, ao ponto de dificultar até mesmo aquilo que já era conquista de milênios de processo civilizatória, a comunicação entre duas pessoas e em tempo de narrativas isto é mais sério ainda, a verdade e o “bom” que ela comporta estão deterioradas.

Não se pode separar o mal que está sob uma veste de “palavras” e uso linguístico, sem estar atento a verdade estruturais que datam de milênios de processo civilizatório: o direito de Ser (vida), o direito de expressar livremente as próprias ideias e princípios, o direito de ir e vir e o direito de escolha que não fira estes direitos de cada Outro.

Não se tira um bem de um mal, e aquilo que está presente na linguagem deve ser depurado.

Wittgenstein, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus, Brasil, Criciúma, SC: Editora Convivium, 2023. 1ª. edição eletrônica.  

 

A Sociedade em bolhas

28 jan

A questão do Outro surgiu na filosofia em decorrência de uma filosofia egocêntrica vinda do racionalismo extremo, que explora o hedonismo exacerbado, o utilitarismo como forma de vida e de economia, em uma sociedade de direitos sem deveres, onde o que vale para mim não vale para o Outro.

Autores da filosofia como Paul Ricoeur (citado até pelo papa), Emmanuel Lévinas e Martin Buber, vindo de uma filosofia judaica, falam deste emergencial existencial que é a relação com o Outro, porém nossos círculos fechados tentam estabelecer meias verdades narrativas que são válidas somente para nossas bolhas.

A pergunta essencial existencial sobre quem é o Outro?, Martin Buber, em  o Eu e o Tu, chega e ver o mais sagrado no Outro e a pergunta está, de certa forma, em Esferas I Peter Sloterdijk, onde diz que as crianças parecem nascer com uma espécie de “instinto de relações”?  que vai desenvolvendo ao longo do livro a ideia que não nascemos sozinhos e, deveríamos então através de trabalho cooperativo e da linguagem, nos socializarmos, e fazer brotar este instinto interior do relacional.

Sloterdijk rejeita o princípio liberal, idealista e de origem cartesiana, onde o indivíduo isolado busca sua razão existencial, ele parte de uma ontologia onde o primitivo é sempre Dois, porém se incluímos o divino que Buber enxergou, somos três.

Mas não é idealista ao ponto de dizer que estes dois estão fundidos, poderíamos dizer usando o conceito de Gadamer, que vê no “círculo hermenêutico”, uma a “fusão de horizontes”, e assim podemos pensar que o indivíduo que sai da placenta e esta ficará morta, sai de sua bolha primordial, e vai se encontrar de certa forma separado da mãe.

O mundo pré-moderno tinha um modelo, para o qual esta separação não fosse total, de permanecer na subjetividade ou na intimidade (não a interioridade que não separa), isto pode ser visto em alguns povos que plantavam a placenta como as árvores, e outros, como os egípcios que faziam travesseiros, e em túmulos dos faraós eram enterradas com eles, como para permanecer na bolha existencial inicial.

Somos vistos assim na autossuficiência do modelo liberal, mas também este modelo é criticado, por exemplo, por Rousseau, que buscou uma vida isolada do não pensar, ver como na experiência do lago, em seu escrito dos Devaneios do caminhante solitário, compatível como seu modelo do homem do “bom selvagem”, em que se inspiram muitas democracias modernas, Rousseau foi o contratualista deste modelo mais liberal.

Também a esperança de reconquistar uma “vontade geral”, num estado mais forte, onde se proclame uma espécie de “religião nacional”, que hoje eclodem nos nacionalismos em todo o planeta, não são senão uma visão contemporânea, de uma autossuficiente das “bolhas” de diversos tipos de fechamento social em “comunidades”, mas com um princípio egoísta dentro, aquilo que Sloterdijk chama de “comunidade insuflada”, as mídias sociais são apenas “meios” onde estas ideias de bolhas se propagam.

Elas estão nos círculos fechados da maioria das organizações sociais de hoje, e para nos abrir para as bolhas é preciso ver o Outro não como um “perigo”, mas como solução.

 

Uma paz frágil

27 jan

Apesar do cessar-fogo Israel e Hamas continuam a trocar acusações de violação do acordo, entretanto o Hamas libertou quatro mulheres soldados israelenses que eram reféns (segundo o governo de Israel serão 6), no sábado 25/01, enquanto Israel libertou 200 palestinos, segundo a imprensa de Israel, 120 são terroristas que decapitaram civis ou praticaram outras atrocidades.

Israel também vem retirando parte de seu exército do norte de Gaza, mas parte das acusações do Hamas é que ainda impedem o retorno de palestinos àquela região (foto).

Situação parecida vive a Ucrânia, onde os soldados russos atiram em civis que tentam retomar sua casa, assim a Rússia vai ampliando a ocupação no leste da Ucrânia, territórios próximos a Donesk cujo território a Rússia controla e reivindica sua posse.

A Rússia, segundo declaração de Putin, vê como favorável o encerramento da guerra, porém a situação é frágil porque a Rússia recrutou mais 150 mil novos soldados, ultrapassando a marca de 1 milhão de militares na ativa, o que é visto como desproporcional a guerra da Ucrânia, que tem dificuldades de recrutar novos militares e tem um exercito em torno de 600 mil.

Enquanto o novo governo dos EUA de Trump, fala em fim imediato da guerra na Ucrânia, aumentam as suspeitas na Europa que a Rússia criaria conflitos em outras regiões da OTAN, cujo efetivo não passa de 90 mil militares na ativa, porém cada país tem seu exército nacional e os orçamentos militares se ampliam em quase toda Europa.

Na segunda guerra mundial, é preciso lembrar que os EUA só entraram na guerra após o ataque de Pearl Harbor (7 de setembro de 1941), feito pelos japoneses, 2 anos após o inicio da guerra (1 e 2 de setembro de 1939) quando a Alemanha invadiu a Polônia.

A deportação e imigrantes ilegais nos EUA, promessa de campanha de Trump, teve um novo obstáculo quando a Colômbia rejeitou a extradição de seus compatriotas, e gerou um imediato conflito diplomático entre os dois países, com barreiras econômicas feitas pelos EUA, que foram retiradas nesta madrugada (27/01) após aceitação dos deportados.

As fronteiras da Venezuela também seguem em escalada militarizada, inclusive com o Brasil, não só é ruim para a paz, como também para a democracia porque cresce o poderio bélico.

A esperança de paz não pode ser ingênua e negar o panorama bélico atual, é preciso desarmar e recuperar os direitos civis em ameaça em cada canto de guerra no planeta.