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Arquivo para julho, 2021

Não só de pão o homem viverá

30 jul

Escrevemos no post da semana passada, somo a “multiplicação dos pães”, que sem dúvida tem o aspecto da partilha, mas que o aspecto sobrenatural era esquecido por muitos, reduzindo algo “inefável” a uma situação de solidariedade, e isto é o que estamos desenvolvendo em torno da falta de espiritualidade, e ou a ascese desespituralizada, o termo é de Peter Sloterdijk, claro.

A definição de Sloterdijk é clara: “Como exercício defino qualquer operação que conserva ou melhora a qualificação do ator para realizar a mesma operação da próxima vez, seja ela declarada como exercício ou não” (Sloterdijk, 2009, p. 14), e se aplica a nossa interpretação porque ele fala e personal trainers, mas eles podem ser também eloquentes pregadores, filósofos midiáticos ou qualquer outro tipo que faça “exercícios” para motivar e tirar as pessoas da mesmice, mas é só momentâneo.

Ele anuncia em seu livro uma virada antropotécnica, e o que sejamos aqui é demonstrar uma clareira ontoantropotécnica, ou seja, que ela não é incompatível com a ontologia do Ser, aqui no sentido da ascese e da espiritualidade, explica-se aqui por uma passagem bíblica

Retornemos a hermenêutica bíblica, depois da bíblica que está nos evangelhos sinópticos (Mt 14:13-21, Mac 6:31-44, Lcs 9:10-17 e Jo 6:5-15), Jesus deseja afastar-se da multidão porque queriam torná-lo um “rei” humano (está nas passagens), a multidão volta e vai atrás dele, e o Mestre indaga (Jo, 26-27):

“Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”.

Não há condenação porque eles queriam se alimentar, mas Jesus pede uma “ascese”, esforço para o alimento que não se perde, e este é “quem o Pai marcou o selo”, a ascese encontra a espiritualidade ela exige um alimento a mais: “o pão do céu”, aquele que alimenta a alma.

Se era possível uma interpretação apenas humana e terrena na passagem da multiplicação dos pães, agora a pedagogia de Jesus realiza a hermenêutica necessária para entendê-la.

 

SLOTERDIJK, Peter. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik.Frankfurt, Suhrkamp, 2009.

 

Espiritualidade e ascese

29 jul

Não há uma espiritualidade profunda sem uma ascese e a verdade elevação espiritual demanda tempo e treino, o mestre budista Dalai Lama vê assim: “Desenvolver força, coragem e paz interior demanda tempo. Não espere resultados rápidos e imediatos, sob o pretexto de que decidiu mudar. Cada ação que você executa permite que essa decisão se torne efetiva dentro de seu coração.”

É preciso assim desenvolver um círculo virtuoso onde alguns sacrifícios e abstinências são necessárias, não significa que abandono das questões materiais, mas o uso equilibrado e consciente daquilo que está sendo almejado, seja uma simples paz interior ou um alto grau de religiosidade, o desapego de afecções deve ser feito em passos e com equilíbrio.

A comunicação com o Ser transcendente é também uma boa relação com os seres humanos que passam por nossas vidas, desde o mais complicado até o mais generoso, todos são nossos próximos.

A meditação, o equilíbrio físico e mental, a harmonia do ambiente que vivemos, pode e deve ser simples, a comunicação sensata e cotidiana do que desejamos doar como nosso pensar, o estudo e a pesquisa de grandes mestres do pensamento e da espiritualidade e finalmente aquilo que é o mais alto desejo de uma espiritualidade: a ascese ao divino, ao sobrenatural e ao Todo.

A ascese assim é um caminho, não sem quedas e jamais sem dificuldades, se for sem dificuldades ensinam os grandes mestres de espiritualidade, talvez não seja uma verdadeira ascese (Na foto Quadro de Rembrant).

Por último pode haver ascese sem espiritualidade, elas podem melhorar a saúde, enriquecer e embelezar o ambiente a nossa volta, mas não significam de fato uma elevação da alma.

Orar, meditar e dialogar com todos e tudo a nossa volta, não é loucura dialogar com a natureza, com os animais e com o universo, tudo é criação divina e tudo “fala” do divino.

 

Entre o espírito e a espiritualidade

28 jul

Henri Bergson procurava uma nova filosofia da vida, aquela que vai além do que a inteligência pode atender, a dimensão psicológica e criadora da evolução, complemento esta filosofia com a ideia da noosfera de Teilhard Chardin, não se trata de simples colagem, mas convergência entre a filosofia, a religião e uma espiritualidade que propicie um diálogo com as cosmovisões culturais.

As diferentes teorias da vida pretendem atingir o conhecimento através de categorias desenvolvidas pela inteligência, a sabedoria e a intuição podem ir além, o que diz Bergson a própria inteligência é um produto da evolução, sabemos mais do que sabia o homem primitivo.

A inteligência criada pelas necessidades da vida para agir sobre os objetos, a natureza , o próprio agir e a sabedoria necessária para isto, fundamentou-se inicialmente na matéria, porém ao substituir o todo pela parte, tornou-a ilegítima, para compreender a vida e o sentido da evolução, é preciso um novo método de pensamento que entenda o sentido natural de inteligência, com ajuda da intuição, não é contraditório com a sabedoria presente em várias cosmovisões.

Para Bergson o que caracteriza a inteligência é aquilo que chama de “duração”, partindo da própria existência como seres vivos, para aprender o que é a vida como uma variação perpétua e contínua de nosso espírito, depois levanta a duração do universo que se forma incessantemente, e em cada forma mínima que ele revela seu impulso criador, este estado de mudança extrapola a matemática e a física que só pode modelar cada mudança em uma curta “duração”.

Teilhard de Chardin ao caracterizar o “fenômeno humano” o vê como uma complexificação da matéria, aí diferente de Bergson não vai separar aquilo que ele chama de “matéria” inerte, e para Teilhard de Chardin é um corpo “vivo” de tudo que existe, pelo qual foi acusado de panteísmo, e vê na existência do Universo como Bergson algo que não pode ser separado de uma evolução criadora, que vai modificando formas e mecanismos de interação, também evolui a “sabedoria”.

Também o problema da duração aqui Bergson se distância da ciência, ao menos da atual que vê o tempo não como “duração” mas como uma “dobra”, Chardin está mais próximo da Ciência ao ver na evolução a aproximação da criação e a complexificação do universo, da natureza e do homem a aproximação do Criador e da eternidade.

A evolução de Bergson então caminha para a evolução da vida da consciência, volta assim ao subjetivismo e a consciência abstrata dos idealistas, para Chardin ao chamar o homem de “fenômeno humano” (não é contraditório com feito a “semelhança” de Deus pois caminha para a eternidade), diz que tipo de consciência é a humana, a consciência de sua existência física que não se separa da espiritual.

BERGSON, Henri; A Evolução Criadora, Silo Paulo: Martins Fontes, 2005.

CHARDIN, Teilhard. O fenômeno humano. Trad. Armando Pereira da Silva. SP: Cultrix, 2001.

 

Espiritualidade e cosmovisão

27 jul

Espiritualidade é a busca de um sentido para a vida, ela pode parar na physis, que para os gregos era a natureza ou pode ir além e contemplar a meta-physis, que significa μετα (metà) = depois de, além de tudo; e Φυσις [physis], ou seja, além da natureza e da física.

Assim uma espiritualidade que para na natureza, a explicação por exemplo da origem do universo, ainda que seja uma cosmovisão física, carece de uma cosmovisão escatológica que explique a origem e o fim de tudo, cairá em algum ponto nos sofismas e no niilismo, conforme o sofista Górgias (485-380 a.C.) nada existe.

Se nada existe o sentido da vida é sem sentido, muito se explora superficialmente o sentido da vida, para muitos é ser feliz apenas, ainda é uma cosmovisão limitada, dores e sofrimentos são parte da vida, assim é preciso passar por eles para que a vida de fato tenha sentido.

A espiritualidade necessidade de uma cosmovisão, ou se preferir o termo mais filosófico, de uma visão de mundo (Weltanschauung), usada de maneira quase oposta por Kant e Heidegger, enquanto Kant usa-a como transcendência idealista (do sujeito ao objeto), Heidegger retorna a tradição metafísica, com o propósito de dela se distanciar.

O conceito de eidos (no grego é forma e essência) transformado em ideia, e a separação do sujeito com o objeto, relegou as questões do espírito (nem espiritualidade pode ser chamada) ao campo da subjetividade, marco inicial do movimento filosófico denominado idealismo alemão foi a publicação da Crítica da razão pura em 1781 por Immanuel Kant (1724-1804), terminando cinquenta anos mais tarde com a morte de Hegel (1770-1831).

Martin Heidegger inicia pelo questionamento do sentido de ser do ser-aí. Isso porque “não se compreende por esse termo apenas a concepção da conexão entre as coisas naturais, mas, ao mesmo tempo, uma interpretação do sentido e da finalidade do ser[1]aí humano e, com isso, da história [Geschichte]” (HEIDEGGER, 2012, p. 13).

Grande parte do que se chama de espiritualidade é na verdade apenas uma busca de sentido pela vida, um exercício mental que é diferente do espiritual, carece de uma ascese, de uma verdadeira “ascensão”, por isto retorna sempre a physis, a natureza ou ao chão.

Uma cosmovisão completa deve ir além do fato e chegar a intencionalidade, tudo existe com uma intenção, ter consciência é “ter consciência de algo”, conforme pensa a fenomenologia de Husserl, então consciência do “universo” portanto tem uma intenção de existência do universo, que é em parte metafísica e em parte espiritualidade, algo ou alguém tem (e não teve) uma intenção primária, algo grande, infinito, superior a natureza, ao universo e a tudo que conhecemos, algo inefável.

 

HEIDEGGER, Martin. Os problemas fundamentais da fenomenologia. Trad.: Marco Antônio Casanova. Petrópolis: Vozes, 2012.

 

Vacinas e a variante delta

26 jul

O número de vacinados no Brasil se aproxima em 50% na primeira dose (46,7%) e 20% na vacinação total (17,6%) entretanto a eficácia das vacinas para a variante delta está sendo estudada na semana que passou o Instituto Butantan iniciou estudo para ver a eficácia da CoronaVac.

A variante delta pode provocar uma quarta onda, o alerta é da OMS que pede que não sejam flexibilizadas as medidas de distanciamento, uso de máscaras e controle de aglomerações sociais.

O monitoramento feito no país registrou e localizou 145 casos confirmados desta variante no Distrito Federal e nos estados: Maranhã, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

A curva de mortes continua a cair lentamente no Brasil (veja foto).

Um artigo publicado na revista científica New England Journal of Medicine aponta que as vacinas Pfizer e AstraZeneca protegem contra as variantes Alfa e Delta, especialmente após a segunda dose, segundo o artigo a Pfizer evitou 88% dos casos sintomáticos e a AstraZeneca 67%.

Já o departamento de Saúde do Reino Unido (PHE em inglês) divulgou um estudo feito com mais de 1 milhão de pessoas em grupos de riscos e apontou que com duas doses a eficácia destas duas vacinas sobem para 93% e 78% respectivamente, quando se trata de pessoas de 16 a 64 anos.

Na Holanda o governo anunciou que vai voltar a impor restrições a boates, festivais e restaurantes, estas restrições haviam sido retiradas em junho, mas o quadro de infecções pirou com 7 mil registros da doença na última semana, antes os casos já eram de menos de mil.

O quadro é um revés para Espanha e Portugal que almejavam a retomada do turismo.

O momento é de tentar incrementar a vacinação de olho na eficácia e muita cautela.

 

O inefável e a interpretação

23 jul

Antes de fazer o post de hoje, não podemos deixar de registrar as Olimpíadas de Tóquio, cujo abertura acontece hoje e alguns protestos: cinco seleções: Estados Unidos, Suécia, Chile, Nova Zelândia e para surpresa o Reino Unido, se ajoelharam antes de suas partidas de futebol em protesto antirracista, já as jogadoras do feminino da Austrália se abraçaram lembrando a nação aborígene que vive lá e significando a união nacional.

Mas talvez a mais importante manifestação ficou relegada a segundo plano, os manifestantes são chamados de “ultranacionalistas”, o que não é verdade, pois 43% da população era favorável ao adiamento da olímpiada, 40% era contra a realização e apenas 14% são favoráveis.

Era inefável a Pandemia e ela está aí ainda dando sinais de resistência apesar da luta da ciência para vacinas e sua superação, exatamente o povo mais resiliente não renunciou a um evento, e isto também é claro é um problema de interpretação do que de fato ocorre neste momento.

Algo inefável que não esteja sujeito a interpretação e mesmo metáforas seriam pouco para tentar explicá-las são as grandes questões da humanidade: o que somos no universo, para onde vamos e agora mais do que nunca: para onde iremos.

Muitas são as cosmogonias que tentam dar uma interpretação escatológica para estas questões, o certo é que existimos e não porque pensamos (penso, logo existo), mas existimos e isto nos permite o pensamento e a linguagem (sou, logo penso) e com ela é possível a interpretação.

A cosmogonia cristã, há muitas outras em diferentes culturas, é aquela cuja metáfora do grão de semente transforma em vida: a semente que cai entre espinhos, que cai em solo raso e que cai a beira do caminho, o terreno bom a fará germinar e dar frutos, é uma interpretação do inefável.

O texto bíblico da multiplicação dos pães, cuja interpretação terrena vê apenas a distribuição dos bens (Mc 6,1-15), não observa a interpretação inefável pois é Jesus que pergunta a Felipe (Mc 6,5): “Jesus disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?”, e depois de multiplicar os 5 pães de cevada e dois peixes, o inefável divino, os homens queria dar-lhe um poder terreno e diz a leitura (Mc 6,15): “Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte.”, é uma divina interpretação feita pelo próprio mestre.

 

É inefável que existe e a metáfora.

22 jul

Muitos fenômenos da natureza e de modo mais amplo do universo embora possam ter explicações, são inefáveis, ou seja, porque mesmo que descrito tem limitações por sua complexidade e não obviedade.

Um destes fenômenos é o tunelamento quântico da mecânica quântica (figura ao lado) no qual as partículas transpõe estados de energia que “logicamente” seriam proibidos, elas escapam de regiões cercadas por barreiras potenciais mesmo tendo energia cinética menor que a barreira.

Einstein, Podolski e Rosen escreveram um artigo (EPR) na década de 20 chamando este efeito de “fantasmagórico” porém na década de 70 ele ficou provado e rompe também com o pensamento clássico que existe A e não-A, não podendo haver terceira hipótese, ela existe e está provada, ao menos na física.

O inefável na vida cotidiana são fenômenos humanos que transpõe a barreira do imaginário e se realizam fisicamente, são mistérios e eles existem não apenas para demonstrar truques que sejam convincentes para divinizar este ou aquele grupo, ou para fazer uma “mágica”, isto é o campo dos charlatães, mas para uma consciência fenomenológica clara de algo além do humano.

Uma das funções da metáfora é poder descrever este fenômeno sem recorrer a uma lógica muito complexa para o senso comum, e permitir que muitas pessoas possam entender estes mistérios.

A figura da parábola entre neste aspecto, com uma pequena diferença da metáfora por usar exemplos do cotidiano e do senso comum, ela é pedagógica ao explicar como o mistério da vida (e também da morte) pode ser visto de modo a entender o destino da humanidade e o que é a vida.

Longe de explicar sua origem no sentido físico, o Gênesis por exemplo, recorre a Adão e Eva, o fato que o homem veio de algum aspecto complexo da natureza é explicado como sendo feito do barro, a metáfora é que o homem veio de compostos orgânicos da natureza, e claro, depois Deus soprou-lhe as narinas e deu “vida” no sentido espiritual, não é difícil entender que esta vida existe.

 

A linguagem além da lógica.

21 jul

Em toda história da filosofia e mesmo da ciência há três conceitos que ultrapassam em muitos aspectos os conceitos da lógica, entre eles, a verdade o bem e a justiça são os mais comuns, já em

Platão vão além de serem princípios lógicos, eles encarnam princípios cosmológicos e como tais devem recorrer a metafísica, analogia e a metáfora.

Assim, no Livro VI da República, a grande analogia metafísica recai sobre a ideia do bem, homônima da justiça e da verdade: o sol é filho e progênie do próprio bem, e ainda é o seu análogo visível, ali é colocado em sombras das formas na caverna, o contraste com o mundo real e perfeito das formas e a analogia do sol para “clarear” os objetos.

Na ausência do conhecimento, confundem meras sombras com a realidade, e a filosofia é para Platão a ponte pedagógica que serve para passar da completa obscuridade para a luz do conhecimento.

O uso da linguagem pode ser também apenas lógico, na década de 1930, Wittgenstein dizia que como sabemos que na linguagem só há proposições, e surpresas só ocorrem no mundo, então não há surpresas em matemática: a matemática é totalmente “gramatical”, dir-se-ia hoje é apenas sintática.

No contexto da semântica, e da significação, a linguagem adquire outras propriedades e nelas que a metáfora faz sentido, ao dizer José é bravo como um leão, a analogia serve para aumentar o que significa bravo dando-lhe nova semântica à sintaxe: José é muito bravo.

Mas a metáfora é também contextual, o belo poema de Fernando Pessoa “O poeta é um fingidor“ só é compreendido se sabemos que “comboio de corda” refere-se a uma brincadeira de criança nas décadas de 20 e 30 do século passado e que “calhas de roda” referem-se aos trilhos, ali:

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Há ainda a penetração da metáfora no mistério, o inefável como já postamos, e poder afirmá-lo.

 

O inefável e a metáfora

20 jul

A viragem linguística é uma das hipóteses de interpretação da pós-modernidade, não a única, porém algo além da modernidade idealista já despontava na crise do início do século passado: a crise do pensamento, da sociedade (duas guerras mundiais), a guerra fria e agora a polarização.

postamos sobre a ligação da metáfora e o inefável em Paul Ricoeur e para ele a metáfora é um reagente  (réactif) que revela o simbólico na linguagem, que nos leva a pensar por seu excesso de significação e assim é um modo de compreensão disponível ao hermeneuta.

Porém há algo além que é a possibilidade de uma hipótese, quantas questões científicas precisam recorrer a metáfora antes de uma explicação final, no trabalho de John Searle, em Expressão e Significado faz uma pergunta importante sobre o significa quando dizemos S é P e queremos dizer S é R? E que na verdade o ouvinte entre S é P.

Sua questão é no fundo saber “como funcionam as emissões metafóricas, isto é, como é possível para os falantes comunicarem algo ouvintes falando metaforicamente, uma vez que não dizem o que querem significar? E por que algumas metáforas funcionam e outras não? (SEARLE, 2002, p.112).

Segundo o autor ao pensar não devemos dispensar modos diferentes de compreensão (mito, alegoria, metáfora, analogia) e menos ainda métodos diferentes para interpretá-las: exegese, história, psicanálise, antropologia, linguística e outras, a meu ver, parece um princípio mais o universal por não fica confinado em algum campo metodológico e sujeito aos seus “vícios”.

Porém o inefável é parte inerente ao progresso do conhecimento humano, e significa estar além do lógico e do físico, estando naquele campo cujo nome mais apropriado é o inefável.

O modo como se pode chegar a esta compreensão é o chamado de “via curta”, e foi fundamentado na hermenêutica proposto por Martin Heidegger, ele consiste No modo como pretende fundamentar sua hermenêutica pelo desvio do que chama de “via curta”, proposta por Martin Heidegger ele consiste em não buscar os métodos ou as condições da compreensão, mas a partir do ser do homem, o seu Dasein, cuja existência consiste em compreender.

Respondendo a questão de Searle, não importa se o ouvinte entendeu exatamente S é P ou S é R, pois se S é P e isto foi aquilo que disse uma fonte, o destinatário entendeu exato ou não deve-se a sua existência enquanto ser que compreende, a sua cosmovisão, que pode ser limitada.

Admitir o inefável, que em certo momento só pode ser dito de modo metafórico, análogo ou mesmo exegético é admitir a convivência de visões de mundo diferentes, e pode ser isto é mais palpável que a compreensão daquele fenômeno em certo momento só é possível pela metáfora.

SEARLE, John R. Expressão e significado: estudos da teoria dos atos da fala. Martins Fontes, SP: 2002.

 

 

Vacinação acelerada e novas preocupações

19 jul

A vacinação acelerou em julho conforme era a expectativa otimista, a queda de infecções e mortes cai num ritmo ainda muito lento e as novas ondas de infecção em países da região como Chile e Argentina acendem um sinal de alerta, o Perú já vinha em número alto e alguns países da Europa, como a Rússia, também mostram que a Epidemia está longe do seu fim.

A Argentina atingiu na quarta-feira (14/7) a marca simbólica de 100 mil mortes, alto para uma população de 44,5 milhões de habitantes, e entrou num novo lockdown, conseguindo já conter a nova alta, os números no final da semana voltaram a cair.

O Brasil como a Argentina chega ao número de vacinados de 16% e 11% respectivamente (ver o gráfico acima), enquanto a primeira dose no Brasil chega 44,5% e a Argentina 45%, os números próximos sugerem uma maior atenção para a possibilidade de uma nova curva ascendente, seria uma maior expansão da variante delta, fatores climáticos (Chile e Argentina são mais frios) ou ainda uma variante chamada de lambda, lá também a eficácia da Sputinik russa é questionada.

A variante lambda detectada no Perú assusta, chamada de C.37 seus estudos preliminares indicam maior letalidade e capacidade de driblar as vacinas é séria, o pesquisador Pablo Tsukayama, coordenador do laboratório de Genética Microbiana da Universidade Cayetano Heredia de Lima, detectou que a variante já é 100% dos casos infectados no Perú a partir de abril de 2021.

A falta de dados abertos prejudica a pesquisa, o próprio Ministério da Saúde do Perú não divulga e o professor Tsukayama é um dos que protestam a esta falta de acesso.

Outra questão que preocupa é a falta de dados científicos sobre a eficácia da vacinação para as novas variantes, há muita gente que dá declarações tentando contemporizar, porém não apresenta estudos científicos claros, por exemplo, sobre as variantes novas como a lambda.

Um destes estudos, apontado pelo jornal El País do dia 11 de julho passado, é do virologista chileno Ricardo Soto Rifo, que se concentrou na vacina CoronaVac, a principal usada no Chile, em um grupo de trabalhadores da saúde voluntário descobriu que a lambda apresenta “capacidade de infecção e de escape imunológico incrementada contra anticorpos neutralizantes”, o alcance de tal perda ainda está por ser esclarecida.

Outro estudo apontando no El País é o da vacina Pfizer e Moderna, é da Universidade de Nova York, apontando que os resultados foram “relativamente menores”, porém o professor Tsukayma faz uma constatação pouco animadora: “É praticamente impossível prever como um vírus sofrerá mutação”, porém diminuir a transmissão é possível por meio das vacinas e isto é o efetivo.