Arquivo para março, 2022
Um tapa no Oscar
Tinha decidido não comentar os melhores do Oscar este ano,primeiro porque não considero “Ataque de cães” tão bom filme, quanto por exemplo, Duna e Não Olhe para cima, não apenas pelos enredos, mas principalmente pelo conjunto da obra, Duna acabou levando vários prêmios merecidos, mas nenhum dos principais.
O tapa de Will Smith em Chris Rock roubou a cena, mas o comentário da diretora Jane Campion que ganhou melhor direção, em outro evento sobre Serene e Venus Williams: “vocês são maravilhosas, no entanto, não precisam competir com os homens como eu”, também caiu mal e seu prêmio perdeu um pouco do brilho.
Pouco tempo depois do tapa de Will Smith ele receberia o prêmio de melhor ator, é um grande ator, mas seria mais grandioso se esperasse este momento para dizer sobre o papel que fez do pai das Williams em defesa da família e daria um golpe muito mais duro em Rock, por ter feito um comentário infeliz sobre a perda de cabelos de Jada Pinkett, mulher de Will.
Muita gente saiu em defesa de Rock, dizem os jornais que seu show agora bate records de bilheteria, e Will expôs Jada porque agora procuram saber da vida dela e de seus relacionamentos, e assim como sua doença alopecia, enfim na minha opinião, o momento de resposta a Chris Rock poderia ser o momento da estatueta, e neste caso não vou comentar o mérito, porém o papel de Denzel Washington na Tragédia de MacBeth merece destaque.
Outro comentário é o prêmio de melhor atriz, fui ver depois da indicação trechos (não vi o filme todo) Os olhos de Tammy Faye (foto), nem o filme nem a atriz vencedora (Jessica Chastain) me impressionam, eu sei que a Academia seguem alguns clichês: ironia, certo humor e outros tiques.
Fui ver a popularidade, pouco mais de 60% das pessoas gostaram do filme, não estou fora então.
Vi a atuação de Meryl Streep em Não Olhe para cima, e merecia ao menos a indicação, claro já ganhou outros, é uma atriz consagrada (o papel espetacular de Margareth Thatcher na Dama de Ferro, por exemplo), mas mérito é indiscutível e não importa a estatura do ganhador.
O tapa de Will Smith e a bola fora esquecida da vencedora de Melhor Direção chamaram a atenção para um Oscar a meu ver sem brilho e ao gosto da academia, o tapa foi um erro só isto.
Erro e procura da verdade
A frase do escritor russo Mikhail Saltykov-Tcherdrine, que escreveu sobre o pseudônimo M. Nepanov (escreveu Contradições) sobre o erro: “quem nunca procurou a verdade com certeza nunca errou”, bem melhor que o adágio popular: “só não erra quem nunca tenta”, porque mesmo que seja de modo inocente sempre se tenta algo.
Completa este pensamento sua frase: “Há épocas em que a sociedade, tomada de pânico, se desvia da ciência e procura a salvação na ignorância”, algo que parece típico de nosso tempo: de início ignorar a pandemia e as vacinas, depois ignorar os perigos que dela decorrem e por fim tentar conviver como se a doença seja algo natural, e os remédios é vacinar quatro, cinco, … vezes, e esperamos que as cepas realmente sejam mais brandas.
Insensatez e frivolidade parecem ser reações a uma crise que se aprofunda, além da guerra, uma alta de preços e escassez de alimentos se avizinha, sim o que ocorre por enquanto parece contornável e quando não o for mais, o que seria sábio fazer, parece que poucos se preocupam.
Escolhi falar de um desconhecido autor literário do século XIX, ele não viveu o período da União Soviética, para atestar a ignorância de punir a cultura, a ciência e os esportes da Rússia, como uma punição de uma guerra, sem dúvida injusta, mas da qual também o povo russo é vítima.
Mesmo vendo os horrores acontecendo na Ucrânia, não podemos ignorar os horrores do Ocidente e a escalada bélica que poderá ter num futuro próximo outros capítulos tão dolorosos quanto os atuais, é uma escalada que parece não ter retorno.
Não se pode ignorar os erros da segunda guerra, os erros do período pós-guerra, as inúmeras intervenções no Oriente, na Ásia e na África que causaram guerras e mortes igualmente condenáveis.
É preciso reconhecer os erros, é preciso um doloroso perdão do período colonial, ainda em curso, e é preciso permitir aos povos que vivam sua cultura, seus ideais, como desenvolveu Raymond Aron (Guerra e Paz entre as nações) e em segurança, o autor cita Clausewitz em seu livro: “A “guerra é um ato de violência, e não há limites à manifestação desta violência” (Aron, p. 69).
É um momento difícil em que apenas apontamos aos outros nossos erros, sem olhar para os próprios.
A batalha de Kiev
Com um exército e forças militares desproporcionais era possível de imaginar que a batalha dos russos em Kiev duraria pouco, mas revezes no ar e em terra, um tempo hostil de final de inverno e o heroísmo do povo ucraniano não estavam na conta de Putin.
Irpin (foto antes da guerra) é o último distrito antes de Kiev, as forças ucranianas informaram no dia de ontem que haviam retomado o distrito, assim as tropas russas ficam mais longes, há relatos que a tropa russa estaria em grande parte enferma devido o frio e desgaste de um mês em campo de batalha e com a moral muito baixa.
Assim como na segunda guerra a batalha de São Petersburgo (Leningrado na época) foi desastrosa para os nazistas, a batalha de Kiev onde foram enviadas grande parte das forças de combate (o famoso comboio de dezenas de quilômetros de extensão), e o apoio aéreo da temida aviação militar russa parecem ter encontrado uma resistência inesperada.
Acontecem nestes dias várias rodadas de negociação para a paz, neste momento é tão desejável para a Rússia quanto para a Ucrânia, que nas primeiras rodadas se via em posição de desvantagem com os fortes ataques e avanços russos, agora embora siga a sangrenta batalha de Mariupol e os ataques aéreos que parecem ser o último recurso dos russos, há um relativo “equilíbrio” militar, porém as vidas de inocentes civis continuam a ser sacrificadas.
Também Putin parece ter perdido muitos generais, não se sabe se só em combate ou porque se opuseram aos planos expansionistas de Putin, também a força militar russa começa a ser questionada quanto a sua real capacidade.
Permanece o medo do que é possível acontecer no caso de uma derrota humilhante na Ucrânia, a sangria econômica causada pelas sanções de empresas do ocidente e de uma reação intempestiva ou apelativa de usar armas letais nucleares ou outras proibidas por convenções internacionais.
Resta a esperança que as rodadas de negociação da paz destes dias possam dar frutos, Zelensky aceita a ideia de neutralidade e desarmamento de armas atômicas, talvez também uma redução em seu exército, porém a Rússia tem pretensões em relação aos territórios “tomados” além do Donbass (Donetsk e Lugansk) também Mariupol que é uma cidade tipicamente ucraniana.
A pressão interna em Putin pode também ajudar, porém seu temperamento parece ser bélico e acredita que pode ir além com suas pretensões, a esperança é que o bom senso prevaleça.
Por que a Pandemia não acabou
As hipóteses que as vacinas são eficientes contra todas variantes da ômicron caem por terra quando observa-se que no oriente e na Europa a variante BA.2 já chamada de ômicron 2.0 tem um grau de infecção 1,5% maior que a cepa original e mesmo onde o número de mortes está caindo, o grau de infecção cede em velocidade mais lenta.
No Brasil o número de mortes está na média móvel em torno de 250, enquanto o número de infecções está numa média móvel que varia abaixo dos 40 mil e acima dos 32 mil, porém se observado pontualmente, o número de infecções da quinta feira foi de 47 mil e sexta de 36.176 no sábado, e ainda há casos não relatados de assintomáticos e não há uma política de testagem.
Imaginar que as próximas cepas podem ser menos letais pode ser pensado apenas no campo das hipóteses, embora existam estudos que até afirmam isto, na verdade, a explosão de casos na Europa e no Oriente desmentem esta possibilidade, pois já há mortes relatadas e baixa eficiência das vacinas.
A liberação dos protocolos, é verdade que não em todos os ambientes, alguns locais continuam sendo mais cuidadosos, porém a sinalização política de liberação leva a um menor cuidado.
Segundo a OMS a BA.2 está associado ao aumento de casos e Covid-19 em países da Europa e do Oriente, e enquanto no final de janeiro se observava uma queda nas infecções, no período de 14 a 20 deste mês o órgão mundial de saúde registra um aumento de 7% nas infecções, enquanto o número de mortes há uma redução de 23%, que significa menor letalidade da cepa.
A entidade registrou 12,3 milhões de novos casos e 32,9 mil mortes por Covid-19 no período.
Há uma queda sem dúvida, porém a maior disseminação da nova cepa deve ser vista com preocupação porque propicia a circulação do vírus e não elimina a possibilidade de mutações.
A paz desejável
A paz entre os povos deve vir a partir de uma profunda reflexão sobre as diferenças e a tolerância entre valores que são extremamente diversos e que não significam necessariamente a impossibilidade da paz, e quanto há cicatrizes antigas é preciso cuidado ao evita-las, elas existem porque alguma paz foi estabelecida sem que a dignidade dos povos fosse respeitada.
Edgard Morin em seu recente ensaio “A beira do abismo” (já foi feito um post aqui), diz “um dos aspectos da tragédia é que não podemos fazer uso da fraqueza nem da força separadamente e que estamos obrigados a navegar entre as duas de maneira incerta”.
Raymond Aron escreveu “Paz e guerra entre as nações” (Martins-Fontes, 2018) elabora um pensamento sobre isto, refletindo que cada povo deve ser fiel ao seu ideal como nação, não ignorar uma história conflituosa, e, pensar e agir com determinação de fazer que a ausência de guerra se prolongue até o momento em que uma paz seja possível e durável, imaginando que esse dia chegará.
É preciso sobretudo perdão entre povos e nações que viveram conflitos, como foi o caso da Alemanha, Itália e Japão, que estiveram na segunda guerra e conseguiram superar as próprias cicatrizes e manter firme os ideais como nações fortes, que hoje são.
É preciso que se comportem como o filho pródigo que ao retornar a casa, neste caso ao próprio território e as raízes saudáveis de seus povos, conseguiram reerguer as nações sob um manto novo de pacifismo, tolerância e desenvolvimento de suas nações.
Também é preciso que as nações conflitantes estejam abertas a este recomeço, na parábola bíblica, o irmão mais velho não entende que o pai faça festa ao irmão que gastou todo dinheiro da herança desperdiçando em coisas fúteis e passageiras, e agora retorna a casa, em termos da guerra o retorno ao seu próprio território.
Assim nem é a Pax Romana, de submeter os povos vencidos, nem a Pax eterna do ideal liberal, que não levou a uma paz duradoura e sim a duas guerras mundiais.
A paz possível
A pax romana significava a submissão dos povos dominados ao império romano e o fim da resistência, o que na verdade não é paz porque não há o fim da opressão de um povo e isto significa que de alguma forma irá persistir algo tipo de revolta que vai explodir em nova guerra.
Assim é necessário algum tipo de reconciliação em que ambas as partes não se sintam que a sua digna existência como povo ou nação, um povo dentro de limites territoriais e políticos, possa ir em frente gozando da liberdade de expressar seus costumes e valores.
O cessar-fogo é o fim, ainda que temporário, das hostilidades, é ele que abre caminho para um possível diálogo ou reconciliação, onde concessões serão analisadas de ambas as partes, quando não há uma possibilidade clara deste diálogo, a única forma de estabelecer a paz é uma terceira força que entra no conflito sem o desejo de hostilizar nenhuma das partes, mas detê-las.
O problema é complexo, porque numa polarização extrema não há uma força confiável de paz, e é muito difícil que os dois lados beligerantes a aceite, e isto pode não apenas alimentar mais ainda a guerra como pode acelerar um processo de torná-la extensiva a outros países fora do conflito.
Por razões humanitárias, mesmo que este risco exista, é a única paz possível, correndo o risco de extrapolar a guerra para fora de seus limites, no entanto colocá–la nos limites se torna imperativo quando há um risco de hostilidades tão amplas que possam afetar os mais caros princípios humanos.
A atual escalada que nos coloca a beira deste abismo é o caso, porque o risco de uma onda ainda maior de violência fora dos limites dos três países em conflito (a Bielorrússia está em guerra) não é só uma possibilidade, a Polônia começa a se envolver e as fronteiras da OTAN como a se preparar.
A ONU não tem força política suficiente para ser esta força, é preciso criar um bloco de certa forma “neutro” (numa guerra isto é quase impossível) que possa colocar forças militares enviadas para a região do conflito e força um cessar-fogo, esta é a paz possível.
A paz desejável é um acordo entre as partes conflitantes, isto parece a cada dia mais distante.
Nem a peste nem a guerra nos alertam
Veio a pandemia era esperada uma grande solidariedade global, um recolhimento nos faria ir um pouco além do nosso próprio ego, rever muitas coisas, incluindo o nosso dia a dia sempre corrido e muitas vezes sem sentido.
A guerra deveria nos alertar para a brutalidade, a crueldade e o massacre que ela proporciona e nos tornar menos bélicos e mais empáticos no cotidiano e solidário com os inocentes que são os primeiros a morrer diante da brutalidade.
Gerações que viveram a guerra contaram e escreveram sobre seus horrores, incluindo as guerras contemporâneas da Coréia e do Vietnã, e muitas na África, é bom não esquecê-las, porém a grande revolução na década de 60 eram os hippies criticando o consumismo, a geração paz e amor, inspirada em Ghandi e em vários místicos, porém hoje algo insensível está no ar: a justificativa da crueldade que é paradoxal.
Paradoxal porque a justificativa é o contrário do que é feito: a paz, a libertação, o fim da opressão e outros slongans que são mera propaganda, pois o que se faz é visivelmente contrário ao que se prega, e isto está em todos os âmbitos sociais, da cultura ao pensamento bélico.
O secretário geral da ONU António Guterrez em pronunciamento pediu o fim da guerra “absurda” citando a conquista cidade a cidade feito na Ucrânia e o massacre em Mariupol, onde 100 mil pessoas tentavam sair e são impedidas, é como se fosse um campo de concentração sem muros.
Kiev tinha parques, igrejas e locais de passeio que são o oposto da imagem da guerra (na foto o parque Kalynovka próximo a Kiev).
A guerra econômica travada através de sanções do ocidente terá graves consequências de abastecimento, não apenas de combustível que já vinha sofrendo no mercado mesmo antes da guerra, mas a escassez de alimentos pode levar ao terceiro ponto da crise civilizatória: a fome.
Sempre é possível retomar o diálogo, a negociação, impedir a proliferação da indústria da guerra, que movimenta bilhões de dólares em um mercado perverso e que vai em escalada crescente no meio de uma guerra, isso sem falar no perigo nuclear que é realidade global.
Devemos cultivar a empatia e a solidariedade, a esperança e principalmente o amor que rompa a cadeia de ódio que circunda todo o planeta, comecemos nós no dia a dia a depor as armas.
A beira do abismo
É o novo ensaio do centenário filósofo e educador Edgar Morin, lúcido como sempre e sensato diz que uma Ucrânia neutra seria aceito por todos e não deixa de condenar a barbárie e o risco de uma guerra planetária.
Em seu artigo Morin relembra a crise dos mísseis russos em Cuba, em 1962, no qual o mundo este também a beira de uma catástrofe atômica, estava na época hospitalizado em Nova York e um amigo (Stanley Plastrik) lhe informava todos os dias o risco de uma bomba cair na cidade, até que Krushchov aceitou retirar os mísseis de Cuba.
Vê a crise atual como a mesma incerteza do amanhã, agora com mísseis apontados para as principais capitais da Europa, e relembra do perigo de acordos e questões mais resolvidas que dão trégua, mas não eliminam a possibilidade de pais, já postamos aqui sobre isto na II Guerra Mundial.
Morin relembra seu artigo escrito em 3 de maio de 2015, portanto após o acordo de Minsk de 2014, que “seria desejável que François Hollande, Laurent Fabius e Manuel Walls tomassem consciência do impiedoso aumento dos perigos e propusessem um plano de paz coerente de uma Ucrânia federalista, traço de união entre Oeste e Leste. Não estamos mais no tempo de buscar o melhor, estamos no tempo em que se torna necessário evitar o pior”, escreveu na época.
Houve uma crescente evolução da OTAN na Europa, mas também a reconstrução da Rússia como uma superpotência militar estabelecendo suas zonas de influência na Síria e na África, além da sangrenta reintegração da Chechênia por duas guerras (1994-1996 e 1999-2001) e também a intervenção militar na Geórgia (2008) depois a crescente e atual pressão sobre a Ucrânia.
Será que Putin vai parar aí, uma trégua de guerra na Ucrânia pode demonstrar os reais objetivos de Putin que parecem ir além, Suécia, Finlândia e Noruega já se movimentam desconfiadas.
Afirma Morin que não resta dúvida que a heróica resistência do presidente Zelenski, de seu governo, do povo ucraniano surpreendeu Putin e “provocou nossa admiração”, abro aspas pois há uma tentativa de desconstruir Zelenski que é judeu como um neonazista, porém a guerra se prolongou além da conta do Kremlin .
Morin defende as sanções econômicas, lembrando que elas também atingem quem as pratica, mas ressalta que “pessoalmente, sou contrário a sanções que atinjam a cultura, a música, o teatro, as artes” e agora até mesmo a ciência, recentemente artigos científicos russos foram retirados de repositórios, não se trata de dizer que ciência é neutra pois não é, mas visa o progresso humano.
Faz uma bela reflexão ao afirmar: “Um dos aspectos da tragédia é que não podemos fazer uso da fraqueza nem da força separadamente e que estamos obrigados a navegar entre as duas de maneira incerta”, lembro apenas que o fraco pode redimir o forte e vice-versa, enfim um acordo.
Que seja possível evitar um desastre nuclear não apenas pela guerra, mas há usinas nucleares na região (na foto a cidade abandonada Pripyat de Chernobyl).
Relaxamento de protocolos e Covid 2.0
Vários estados brasileiros liberam até mesmo o uso de máscaras e outros protocolos em ambientes fechados, inicialmente eram apenas ambientes abertos, enquanto vários países tiveram um aumento de casos da covid 19 nos últimos dias, entre eles: Alemanha, Áustria, Reino Unido, China e Coréia do Sul, indicando que poderá haver uma nova onda planetária.
O aumento de casos nestes países acontece num momento em que a BA.2, chamada de ômicron 2.0, uma variante “prima-irmã” da ômicron (a BA.1) começa a tornar-se dominante, no Reino Unido onde há uma política de testagem, os números no período de 27 fevereiro a 6 de março, já a ômicron original atingindo 31,1% dos casos e a ômicron 2.0 em 68,6% de casos.
Quando em 2005 a Web proliferou para todos os usuários ela foi chamada de 2.0, com a política de relaxamento das medidas, a ideia perigosa de tratar o contágio como endemia, a Covid 2.0 é na prática criar a ideia de que haverá uma política de tratá-la como uma doença “habitual” que pode podendo atingir uma população de determinada região, ideia original do negacionismo.
É um fato que socialmente há uma ansiedade pela volta da normalidade, porém a vida social com a crescente crise de mercados, agora agravada por uma guerra, e a volta de aglomerações pode tornar a endemia global, ou seja, não ficará confinada em determinada região.
O número de casos vem caindo no Brasil, porém mais lentamente nos estados onde houve o relaxamento, como foi o caso do Rio de Janeiro, o primeiro a liberar o uso de máscaras e sem anúncio de novo período de vacinação, ainda que ocorra, deve haver um intervalo de 4 meses.
Os especialistas questionam tanto a liberação do uso de máscaras, quanto a ausência de protocolos em ambientes fechados, embora nos transportes coletivos e hospitais permaneçam.
Muitos organismos de saúde, incluindo a OMS manifestam a preocupação com este relaxamento.
É preciso cautela e paciência individual neste novo processo da Covid 2.0.
Que mal fizeram?
Em meio a Pandemia e uma guerra que embora esteja numa região vai se tornando planetária, pelas medidas e posicionamentos, como agora a do tribunal de Haia, que pede um cessar-fogo imediato.
O argumento ideológico não justifica atos de barbárie nem a direita nem a esquerda, a crescente polarização cria um clima de guerra onde até mesmo atitudes humanitárias, e isto inclui a Pandemia, não podem ser negligenciadas sob pena de prolongarmos seus efeitos.
Todo pensamento humanitário deseja uma volta a normalidade, que deve ser outra que não mais nos leve a correria do dia a dia despreocupado com injustiças e calamidades, incluindo a síndrome de Burnout que Byung Chul Han já apontava em seu livro, anterior a “parada” epidêmica.
Não se trata também de levar as pessoas e a sociedade a procrastinação, uma vez que existem problemas sociais e econômicos que exigem uma atitude de trabalho e esforço comunitário.
O raciocínio equivocado: “aqui se faz e aqui se paga”, esconde a crueldade por trás de atitudes que não respeitam os valores humanitários e sanitários necessários a uma volta segura ao que é de fato um humanismo regenerado como tentamos desenvolver nos posts desta semana (na foto o Teatro de Mariupol bombardeado onde haviam civis).
Este raciocínio é comum também no meio religioso, alguém é premiado porque “é bom” e “punido” porque é mal, que mal fizeram as crianças e os civis na Ucrânia, que mal fizeram pessoas idosas, médicos e enfermeiros que morreram na Pandemia e por fim os que agora ainda morrem.
Para os que fazem este raciocínio que não é religioso, pode-se pensar que Deus favoreceu ou puniu alguém, lembro a passagem em que os galileus vão até Jesus dizendo que Pilatos havia matado pessoas e misturado seu sangue com os sacrifícios que eram oferecidos a falsos deuses.
Vendo o raciocínio do tipo “Deus os puniu”, Jesus lhes responde (Lc 13,2): “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”, para dizer que a crueldade e o pecado podem espalhar a crueldade pelo mundo.
Cita a tragédia conhecida na época, da morte dos operários que trabalhavam na Torre de Siloé que caiu e explica que eles foram vitimas na tragédia e eram apenas trabalhadores.
Condenar a crueldade, prevenir com ações atitudes sanitárias e humanitárias é evitar estes males.