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Resistência do espírito: superar a angústia

15 mai

Apesar de ser escrito bem antes da crise atual, a leitura de Byung-Chul de Heidegger mostra um extraordinário conhecimento da atualidade e prova que de fato esta crise nasceu de uma profunda crise do pensamento, o capítulo central sobre “O coração de Heidegger” aponta para angústia e terror, falando antecipadamente da policrise atual.

Começa por aquilo é o foco central atual: “um princípio básico da economia é a segurança” (pg. 257), e como não poderia deixar de ser vai ao coração do pensamento atual que é o idealismo e seu ideólogo poli-ideológico Hegel, citando Bataille: “Hegel imagino, tocou o extremo. Ele ainda era jovem e pensava estar ficando louco. Eu até imagino que inventou o sistema para escapar. […] Por fim, Hegel regressa ao abismo visto para anulá-lo. O sistema é a anulação” (Bataille, apud Han, pg. 258).

“O sujeito hegeliano anseia pela posição de poder do autor consciente, que não é perturbado por nenhuma incerteza, nem ameaçado por nenhum destino” (pg. 260), a ideia de esperança e resistência espiritual (seu espírito é o gosto pelo poder), “não se curva pela presença rígida e indeclinável”, “a negatividade é bem-vinda como fermento da verdade”  (pg. 261) e assim trata-se mais de destruí-la do que afirma-lo como esperança e visão de futuro.

Nele o negativo se articula como o “sentimento de violência” (Han citando Hegel), que arrasta a consciência de uma morte para a outra (Han, 261), e a guerra é inevitável.

Não foram os donos do poder e sua articulação imperial que criaram sentimentos de guerra, a ideia de violência está inerente ao pensamento idealista, nela a “ interioridade subjetiva, que lhe sugere um conhecimento absoluto” (pg. 260), Hegel encontra a salvação no sistema, “mata” a “suplica insistente” e torna-se o “homem moderno” (pg. 261).

Aparentemente o “sujeito não tem medo”, “o enigma dá lugar a regra” assim não há lugar para o mistério, para o divino e para a vida eterna, estar no mundo significa estar sobre as regras da violência, da indiferença e da morte.

A resistência da esperança é estar na convivência com a realidade idealista, tendo uma ascese verdadeira que almeja a alegria verdadeira.

Han, B.C.  Coração de Heidegger: sobre o conceito de tonalidade afetiva em Martin Heidegger. Trad. Rafael Rodrigues Garcia, Milton Camargo Mota. Petrópolis: Vozes, 2023.

 

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